KOTSCHO SOBRE 100 DIAS DE DILMA: “O QUE ESTÁ EM JOGO É O FUTURO DO PAÍS”
Em um comentário sobre os 100 dias do segundo mandato da
presidente Dilma Rousseff, o jornalista Ricardo Kotscho aponta, emseu blog,
uma "situação grave", mas afirma que agora "não adianta ficar
discutindo quem é o culpado", pois "estamos todos no mesmo barco, à
deriva". Não há ameaça de um novo golpe militar, diz ele, mas sim de uma
"aliança conservadora jurídico-parlamentar-midiática", formada pelo
presidente da Câmara, Eduardo Cunha e pelo ministro do STF Gilmar Mendes, com
parceria do Instituto Millenium.
Leia
abaixo:
100 dias: o que está em jogo é
o futuro do país
Os governos, por melhores ou piores que sejam, passam. Os países ficam.
É
nisso que deveríamos pensar neste dia 10 de abril de 2015, uma sexta-feira: o
que está em jogo no momento não é o destino de um governo, mas o futuro do
nosso país.
Na
nossa jovem democracia, que acaba de completar 30 anos, nunca tivemos os
primeiros 100 dias de um novo governo tão tumultuados, com tantas crises e
conflitos ao mesmo tempo, como neste Dilma-2.
A
esta altura do campeonato nacional, tão grave é a situação, que não adianta
ficar discutindo quem é o culpado e quem tem razão, quem errou ou acertou nas
suas previsões, quem roubou mais ou menos. Estamos todos no mesmo barco, à
deriva.
O
fato é que completamos este período simbólico com uma junta civil formada por
Dilma, Temer e Levy no comando do país, um Congresso conflagrado, em que a
maioria governista virou minoria, a base aliada em frangalhos e a oposição
liderada pelo principal partido aliado, o PMDB de Eduardo Cunha, sem falar nos
estragos já causados pela Operação Lava Jato nos principais indicadores
econômicos.
Para
se ter uma ideia do clima, esta semana, durante um debate promovido pelo
Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, em Belo Horizonte, a primeira
pergunta que me fizeram foi sobre o perigo de termos novo golpe militar. Não
corremos este risco. Respondi que a maior ameaça à democracia não vem dos
quartéis, mas da aliança conservadora jurídico-parlamentar-midiática liderada
pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o ministro do STF Gilmar Mendes, em
parceria com o Instituto Millenium.
São
eles que determinam a agenda política e inspiram estes grupos cinzentos de
indignados e revoltados formados nas redes sociais, que marcaram novas
manifestações contra o governo para o próximo domingo, dia 12. Ganharam tanta força
nestes 100 dias que, a seguir nesta marcha, daqui a pouco vão querer revogar a
Lei Áurea e implantar a pena de morte no país, com o apoio de paneleiras e
marchadeiros sem noção mobilizados em torno de um único objetivo: "Fora
Dilma!".
O
que os move é apenas o sentimento de vingança, inconformados com a quarta
derrota seguida para o PT de Lula e Dilma. O que eles querem, afinal, além de
derrubar o governo? Para colocar em seu lugar que projeto de país?
Se
o que os mobiliza fosse o combate à corrupção, por que não gritam também
"Fora Cunha!" e "Fora Calheiros", os presidentes da Câmara
e do Senado que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato? Será que
alguma das suas emergentes lideranças está preocupada mesmo em salvar a Petrobras
ou apenas quer rifa-la na bacia das almas para o primeiro gringo que aparecer?
Por
que não levam para as marchas faixas e cartazes com os nomes dos bancos e das
empresas investigados na Operação Zelotes no maior propinoduto de sonegação
fiscal da nossa história? Por que não pedem a lista dos maganos flagrados com
contas secretas no HSBC da Suíça? Por que não cobram da Justiça mais agilidade
nos processos dos mensalões tucanos e dos trensalões paulistas?
O
quadro é tão nebuloso que a oposição oficial dos tucanos e agregados está mais
perdida do que cachorro em dia de mudança, sem saber se dá as caras nos
protestos ou fica mais uma vez na janela para ver a banda passar, torcendo de
longe. Já não sinto neles e nos seus celerados porta-vozes da imprensa o mesmo
ânimo dos dias que antecederam o 15 de março, que pode ter sido apenas um
tardio espasmo pós-eleitoral.
Seja
como for, aconteça o que acontecer no domingo, ainda temos pela frente 1.360
dias de governo Dilma-2, agora sob a direção da dupla Temer & Levy e com a
presidente no papel de rainha. Em lugar do flácido "presidencialismo de
coalização" da envelhecida Nova República, estamos inaugurando o
parlamentarismo monárquico. Pelo menos nisso, ficamos mais parecidos com a
Inglaterra...
E
vamos que vamos.
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