O blog do Yahoo que virou fonte das mais estúpidas teorias conspiratórias da extrema-direita
. Os Estados Unidos estão investigando se as eleições no Brasil
foram fraudadas. A empresa venezuelana Smartmatic, que produz as urnas, deu um
golpe eletrônico.
. As autoridades da Operação Lava Jato estão chegando perto
de desvendar o que está por trás dos perdões das dívidas de países africanos.
. Nicolás Maduro esteve presente nos protestos do dia 15,
como parte do “exército” de Stédile.
. Lula abandonou Dilma e orquestrou uma campanha
difamatória através da imprensa. José Dirceu e Marta Suplicy foram usados por
ele para detonar a sucessora.
. Um ministro da Venezuela veio armado ao país para dar
aulas de tiro ao MST. A intenção é montar uma milícia bolivariana. Os planos
estão adiantados.
. A Polícia Federal está buscando uma gravação segundo a
qual Paulo Roberto da Costa disse que Dilma Rousseff teria sido quem “forçou a
barra” para que a usina de Pasadena, na Califórnia, fosse comprada pela
Petrobras a preços insuflados, e em total desacordo com os de mercado.
. A CIA matou Eduardo Campos.
Todas as “notícias” acima foram publicadas no portal Yahoo.
São falsas ou ilações. Como essas, há diversas outras. O autor é Cláudio
Tognolli, um caso de mitomania como pouco se viu na história da imprensa
nacional, incluindo a extinta revista Planeta, que tratava de OVNIs.
Sem apurar, chutando a esmo, citando fontes que não
existem, fazendo ligações sem sentido, criando teorias as mais estapafúrdias,
entrevistando “especialistas” que ninguém sabe ao certo quem são — enfim,
mentindo –, Tognolli tem licença para matar. Não possui qualquer tipo de
supervisão ou critério jornalístico.
Seus posts passaram a alimentar a vasta rede de psicopatia
da extrema direita. Gente com o perfil típico de um revoltado online compartilha
e repercute aquelas “informações” e alerta para a conspiração bolivariana. O
simulacro noticioso tem os clichês mais idiotas, feitos sob medida para
ignorantes de ocasião. Ele sempre tem uma “bomba”, uma “exclusiva” etc. Quando
se vê, não é nada.
Além dos maníacos e inocentes inúteis, Tognolli atrai
também comentaristas do mais baixo nível. A maioria tem algo a acrescentar à
farsa e, depois, xinga e pede a morte dos citados — um padrão que tem levado
portais a suspender comentários para evitar complicações jurídicas. No caso
dele, a loucura está liberada.
No tal post em que anuncia a intervenção americana,
Tognolli baseia seu “furo” numa palestra do “prestigioso” The National Press
Club. “Falarão sobre o tema o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, Olavo de
Carvalho, o irmão do ex-presidente Bush, Jeb Bush, e o sempre sério e
respeitado senador Marco Rubio.” (O ultraconservador Rubio, da Flórida,
falsificou seus dados biográficos de modo a contar que seus pais fugiram da
ditadura cubana em 1971, quando eles imigraram em 1956, antes da revolução).
Uma figura frequente no blog é Lobão. Tognolli é co-autor
da biografia do músico. É claro que ele não avisa os leitores. O fundamental é
utilizar o Yahoo para fabricar boatos e factoides que depois virem verdades em
protestos na Paulista capitaneados pelo amigão.
Tognolli é professor na ECA-USP (!!). Passou pela Veja,
Folha e mais uma miríade de títulos sem nunca se firmar em nenhum por motivos
óbvios. Num perfil em inglês claudicante escrito por ele mesmo na Wikipedia, se
declara co-fundador do Brasil 247 e diretor da Abraji (Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo).
Não tem compromisso com fatos, mas consigo mesmo. Anos
atrás, deu uma longa entrevista para a revista “Caros Amigos” detonando a Veja
e “denunciando” a relação de seus diretores com Antônio Carlos Magalhães. Hoje
chama a revista de “corajosa” para tentar emplacar notas e matérias sobre seus
livros.
Foi ghost writer de “Assassinato de Reputações”, de Romeu
Tuma Jr, recheado de tentativas de assassinato de reputação. A grande revelação
era que Lula tinha sido informante do Dops e usava o codinome “Barba”, balela
que foi desprezada até por Fernando Henrique Cardoso num Manhattan Connection.
Ninguém medianamente ajuizado leva aquilo a sério. Mas as
empulhações sobrevivem no pântano do subjornalismo — ou do que Umberto Eco
chamou, numa bela entrevista ao El Pais sobre seu novo livro a respeito de um
jornalista picareta, de “máquina de lama”.
Ela “é utilizada para deslegitimar o adversário e
desacreditá-lo sobre questões particulares”, afirma Eco. “É suficiente difundir
uma sombra de suspeita”. A máquina de lama do Yahoo é operada por um homem só,
munido de um arsenal de velhacarias, livre em seu voo mitomaníaco.
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