HOJE GANHAMOS AS RUAS - Movimentos Sociais se Mobilizam por Direitos e pela Democracia
Por Roberto Bitencourt da Silva*
A
manifestação a ser promovida, hoje (20/08), pelos movimentos sociais tem como
eixo a bandeira "Mais Democracia e Mais Direitos". Envolve o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, a Central Única dos Trabalhadores, a Federação Única dos Petroleiros,
entre outros organismos coletivos populares, apresentando a pauta de demandas
abaixo destacada:
–
Defesa da legalidade democrática e do Estado de direito.
–
Reforma tributária progressiva, com taxação das grandes fortunas e do
patrimônio.
–
Defesa da Petrobras, do sistema de partilha do pré-sal e da soberania nacional.
–
Defesa dos direitos dos trabalhadores, do emprego e dos salários, contra a
terceirização.
–
Mais democracia e mais direitos.
Afirmam
os organizadores que o protesto nacional se destina tanto a um posicionamento
contra o golpismo reacionário, quanto a questionar as iniciativas e a agenda
liberal-conservadora do governo federal. Sem lugar à dúvida, norteados por tais
intenções, os protestos dos movimentos sociais vêm em boa hora.
Não
sou petista, nunca fui, não me agrada um governo débil, que tem a capacidade de
pôr para escanteio a tímida plataforma eleitoral do ano passado. Um governo que
já sofreu uma espécie de golpe branco, como alguns oportunamente têm analisado,
ao assimilar a agenda extremamente conservadora dos adversários situados mais à
direita ainda.
Reflexo
de uma democracia sufocada pelo parasitismo do capital. Maiores benesses têm
sido concedidas, desavergonhadamente, ao grande capital nacional e
internacional, particularmente, aos bancos. Paciência, o PT e o governo federal
que se justifiquem, se for possível, para o seu eleitorado entender tamanha
subserviência à força dos negócios. Em verdade, incompreensível.
Mas,
vou à manifestação agendada pelos movimentos sociais, em primeiro lugar, por
concordar, em elevada medida, com a pauta. O que me interessa é pauta política
e não indivíduos ou partidos A, B ou C. Em segundo lugar, se faz necessário ir
às ruas posicionarmo-nos contra o galopante e explícito fascismo que cresce a
olhos vistos. Tamanha desgraça para o País não pode ser acompanhada de braços
cruzados.
O
PT e o seu governo nada têm de socialista, nem de nacionalista. Não me estendo
a respeito, pois é ocioso. Contudo, o seu reformismo raquítico dos últimos
anos, operando com um keynesianismo capenga e subnutrido, engolfado por uma
orientação econômica preponderantemente liberal, propiciou algumas melhorias
sociais às camadas populares e médias, eliminando a fome do cenário e ampliando
o poder de consumo no mercado interno.
Convenhamos,
isso é bastante tímido, em relação aos desafios impostos pelas grotescas
desigualdades que tipificam a nossa sociedade. Mas, é importante ser levado em
consideração para entender o Brasil de hoje e o que motiva tamanho ódio entre
setores de maior rendimento, que caminham na esteira fascistóide.
Um
país de tradição escravocrata, racista, autoritário e colonizado, traços que
marcam, sobretudo, a cosmovisão das suas elites e pseudoelites, que veem nos
parcos avanços sociais gestados no período Lula/Dilma feitos inaceitáveis. Isso
é visível, em especial, após a campanha eleitoral recente.
Não
seria demasiado afirmar que expressa uma peculiar configuração da luta de
classes. Seguramente singular. Entretanto, não deixa de tratar-se de um
"velho" espantalho tido por muitos pretensos pós-modernos como superado.
A luta de classes não caducou, o que é visível, nem há horizonte para tal
afirmação.
Se
o socialismo fosse uma “fórmula” aplicada facilmente, conforme nossos desejos e
as teorias que eventualmente nos inspiram, a gente seria mais feliz. Mas, não é
assim que a banda toca. Em lugar algum. O capitalismo opera em escala
internacional, estrangula quem estiver à sua frente e mesmo países
acentuadamente representativos das lutas socialistas – como Cuba e China –,
sempre tiveram e têm que lidar de alguma forma com o monstro.
A
intensificação da barbárie capitalista está em nossas portas e a luta de
classes configura-se ao sabor das particularidades do tempo e do espaço. O
Brasil tem as suas especificidades que, não raro, atrapalham o
"encaixe" de teorias anticapitalistas sobre a realidade. Então, é
melhor acertar os contornos de potenciais esquemas teóricos à realidade. A vida
é dinâmica e os paradigmas conceituais nem sempre.
Amanhã
vou à Cinelândia (RJ), sobretudo, porque, de maneira alguma me agrada ver as
forças do privilégio, da opressão e do negocismo, caminharem sozinhas nas ruas
e pautarem exclusivamente o debate político em nosso País. Contrapor-se a tal
fenômeno, provavelmente, consiste no maior mérito do esforço de articulação
entre os diferentes movimentos sociais.
*Roberto Bitencourt da
Silva – doutor em História (UFF), professor da FAETERJ-Rio/FAETEC e da SME-Rio.
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