OS ESTUDANTES QUE JAMAIS VÃO APANHAR DA POLÍCIA DE ALCKMIN - POR PAULO NOGUEIRA
Alunos do Santo Américo - São Paulo: a realidade é outra para eles
O
Brasil se dividiu desde sempre entre os (poucos) privilegiados e os (muitos)
esquecidos.
É uma divisão presente até na pancadaria que a polícia de
Alckmin desfere nos estudantes de São Paulo que lutam apenas por uma coisa: que
suas escolas não sejam fechadas.
(A posteridade haverá de anotar esse fenômeno: alunos apanharem da polícia por
rejeitarem o fechamento de suas escolas.)
Os termos genéricos – alunos, estudantes – estão sendo
empregados erradamente.
Porque não são todos os estudantes que estão sendo
castigados. São os estudantes mais humildes, mais simples, de recursos mais
contados. Aqueles, em suma, que ninguém enxerga.
A família deles não tem dinheiro suficiente para pagar uma
escola particular. E é por isso que eles sofrem nas mãos de uma polícia que
despreza pobres.
Os alunos das escolas particulares – meus filhos todos
estudaram nelas – estão protegidos, preservados.
Este é o país em que o igualitarismo – aquele sistema
sagrado que oferece iguais oportunidades a todos, e assim faz reinar a
meritocracia – é uma coisa selvagemente combatida pelos donos do dinheiro e do
poder.
Os outros meninos – os abastados – estão agora
nos shopping centers de São Paulo fazendo compras de Natal.
Em breve, viajarão para resorts brasileiros, ou para o
exterior, e assim se recuperarão para um novo ano de estudos em 2016.
Continuarão a ter os melhores professores, as melhores
instalações para aprender, as melhores chances para garantir um futuro
ensolarado.
Continuarão também a chegar às escolas confortavelmente
acomodados em carros dirigidos pelos pais ou avós, ou por motoristas
profissionais.
Bem diferente é a realidade dos meninos que enfrentam a
polícia de Alckmin nestes dias.
As escolas estão em ruínas, frequentemente. Professores
miseravelmente pagos não têm condições de ensinar como na rede privada. Para
chegar a bancos escolares em pedaços, estes alunos se locomovem em ônibus
abarrotados, ou simplesmente são obrigados a caminhar pelas ruas poluídas de
São Paulo.
Estes garotos – e garotas, é claro – têm que remar várias
vezes mais que os demais, e quase sempre em vão.
Muitos desistem de estudar, em algum momento. São obrigados
a trabalhar para ajudar a família.
A polícia fará sempre parte de sua vida.
Ontem, em São Paulo
Agora a polícia bate neles com cassetetes. Mais tarde,
metralhadoras poderão substituir os cassetetes, como aconteceu recentemente no
Rio.
Ninguém os ouve, ninguém lhes dá satisfação.
Alckmin quis tirá-los de suas escolas sem sequer explicar
os fundamentos de sua pretensa reforma. Em vez de ouvir os jovens, Alckmin
preferiu ouvir o arcebisbo, de quem recebeu o conselho tardio de explicar aos
estudantes e suas famílias a lógica de seu plano repudiado.
É assim a vida para eles. São os invisíveis da sociedade.
Às vezes reagem, como aconteceu agora.
E é assim, só assim, que a humanidade evolui: quando quem é
pisoteado se insurge.
Por isso a rebelião dos estudantes de escolas públicas de
São Paulo deve ser aplaudida com entusiasmo.
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot