PAPA FRANCISCO (OU “VELHO CHICO”, COMO PREFIRO CHAMÁ-LO): "A VERGONHA DE SALVAR BANCOS E NÃO PESSOAS"
Francisco, um homem admirável
Parafraseando
texto da Rádio do Vaticano
Na tarde de sábado dia 5 de novembro o Papa encontrou-se no
Vaticano, na Sala Paulo VI com cerca de 5 mil membros dos Movimentos Populares
que vieram a Roma para o seu 3º Encontro Mundial subordinado ao tema “Trabalho,
Teto, Terra”.
O dinheiro governa
“Terra, casa e trabalho para todos”, o “Velho Chico” fez seu
o grito dos Movimentos Populares que exprime um real sentimento de sede de
justiça. Francisco recordou o encontro que aconteceu na Bolívia em 2015 e
louvou o caminho percorrido até agora no diálogo entre “milhões de pessoas que
trabalham diariamente pela justiça no mundo”.
Mas, a justiça está ameaçada pelas desigualdades da
violência económica, social, cultural e militar que provocam cada vez mais
violência, pois é “o dinheiro” que governa – afirmou o Papa que considerou ser
terrorista um sistema que “expulsa a maravilha da criação, o homem e a mulher”.
Palavras como: “existe uma ditadura econômica global, ou: o
imperialismo internacional do dinheiro.” E ainda: “uma nova forma abusiva de
domínio econômico no plano social, cultural e também político”, já vinham sendo
usadas por alguns antecessores de Chico. E ele próprio, que já tantas vezes
mostrou mais o homem sensível, corajoso e sábio, que o santo que os tolos
esperam, afirma: “Rebelo-me contra o ídolo do dinheiro que reina, e que ao
invés de servir, tiraniza e aterroriza a humanidade”.
Desenvolvimento Humano Integral
Francisco referiu, assim, que está a ser alimentado o medo
que para além de ser “um bom negócio para os mercadores das armas e da morte,
enfraquece-nos, desestabiliza-nos, destrói as nossas defesas psicológicas e
espirituais” – disse Francisco, recordando que, “quando vemos que se prefere a
guerra à paz, quando vemos que se difunde a xenofobia, quando constatamos que
ganham terreno as propostas intolerantes; por trás desta crueldade que parece
massificar-se existe o frio sopro do medo”.
“Devemos ajudar a curar o mundo da sua atrofia moral. Este
sistema atrofiado é capaz de fornecer algumas ‘próteses’ cosméticas que não são
verdadeiro desenvolvimento: crescimento económico, progressos tecnológicos,
maior ‘eficiência’ para produzir coisas que se compra, ao invés de estimular a
produção de produtos com baixa durabilidade, envolvendo-nos a todos numa
vertiginosa dinâmica do descarte” – declarou Francisco que afirmou que, o
desenvolvimento do qual temos necessidade, deve ser “humano, integral,
respeitoso”.
A bancarrota da humanidade
Um ponto importante referido por Francisco foi “o drama dos
migrantes, dos refugiados e dos deslocados” que o ele descreveu com uma
palavra: “vergonha”. O digno representante da moralmente falida Igreja Católica
recordou a sua ida a Lampedusa e à ilha de Lesbos na Grécia onde, nesta
última, teve a oportunidade de “ouvir de perto o sofrimento de tantas famílias
expulsas da sua terra por motivos económicos ou violências de todo o tipo,
multidões exiladas”, que, segundo Francisco acontece “por causa de um sistema
socioeconómico injusto” e por causa das “guerras”.
O “Velho Chico” vê-se nos “olhos das crianças” nos campos de
refugiados, a “bancarrota da humanidade” pela qual se faz pouco para salvar,
mas se for a bancarrota de um banco imediatamente se procura salvar – disse
Francisco.
“O que acontece no mundo de hoje quando ocorre a bancarrota
de um banco, é que, imediatamente, aparecem somas escandalosas para salvá-lo,
mas quando acontece esta bancarrota da humanidade não existe sequer uma
milésima parte para salvar estes irmãos que sofrem tanto. E assim o
Mediterrâneo transformou-se num cemitério e não somente o Mediterrâneo… tantos
cemitérios próximos dos muros, muros manchados de sangue inocente. ”
Formatação
Francisco falou em seguida de “formatação” e “corrupção”.
Desde logo, deixou claro que há o perigo de os povos se deixarem formatar pelas
‘políticas sociais’ que são toleradas e que passam pelas microempresas, pelas
cooperativas, pelos projetos assistenciais.
Contudo, segundo o líder católico, é partindo do bairro, da
localidade, da organização do trabalho comunitário que é possível discutir a
“política maiúscula”, indicando “ao poder um planejamento mais integral”. Mas,
essa forma de intervenção – disse Francisco – não é tolerada porque, dessa forma,
estariam a sair do formato “que alguns pretendem monopolizar em pequenas
castas” – observou.
“Assim a democracia atrofia-se, torna-se um nominalismo, uma
formalidade, perde representatividade, vai desencarnando-se porque deixa de
fora o povo na sua luta quotidiana pela dignidade, na construção do seu
destino” – afirmou.
Corrupção
Francisco alertou também para a corrupção que não é apenas
“uma questão de políticos, a corrupção não é um vício exclusivo da política” –
sublinhou – pois ela existe também nas empresas, nos meios de comunicação
social, nas Igrejas e também nas organizações sociais e nos movimentos
populares.
“… é necessário viver a vocação de viver com um forte
sentido de austeridade e humildade. Isto vale para os políticos, mas vale também
para os dirigentes sociais e para nós pastores” – disse ele que, de imediato,
esclareceu que ao afirmar a palavra austeridade refere-se à austeridade moral e
humana e não àquela apontada pelas “ciências do mercado” e que significa ajuste
sempre em detrimento dos mais fracos. “Não é a isso que eu me refiro” –
afirmou.
Vida de serviço e amor
No final do seu discurso o Papa Chico exortou os Movimentos
Populares a continuarem a “combater o medo com uma vida de serviço,
solidariedade e humildade em favor dos povos e especialmente daqueles que
sofrem”.
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