Toda Nudez Será Recompensada no Centenário de Nascimento de Nelson Rodrigues









O espetáculo Toda Nudez Será Castigada, encenado pelo grupo Teatro Cidades, de São José dos Campos, se transformou numa das mais belas homenagens ao dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues, no ano do centenário de seu nascimento.

O traço que faz a diferença é ter fugido dos efeitos fáceis que exploram a sexualidade, como propaganda, tão comum em outras montagens. Esta encenação está muito longe disso, assume o conteúdo original do jornalista pernambucano, denunciando as entranhas do homem brasileiro suburbano da segunda metade do século 20. 

Todos os componentes mais importantes na dramaturgia de Nelson Rodrigues estão presentes na encenação com muita força e clareza, a começar pela cobiça, persuasão e, por último, a traição como vingança ou punição. O quarteto central formado por Adriana Barja, Andréia Barros, Vander Palma e Wallace Puosso é grande trunfo dessa montagem, assinado por Cláudio Mendel. Os demais atores fazem uma espécie de contraponto da trama central envolvendo, como já dissemos acima, a safadeza, a culpa e horror na exposição de suas entranhas. Esta diferença de tom nos fez perceber, por exemplo, um detalhe sórdido e impressionante da alma humana revelado pela peça quando "as tias" se apresentam uma patética aliança com "Geni", quase ao final, com o intuito de proteger, "Serginho", o jovem rebelde e sem nenhuma causa. 



A alta qualidade de sua produção e elenco, distribuídos nos diversos episódios fizeram sepultar de vez aquele efeito fácil de se buscar, e muitas vezes conseguido, "fazer dinheiro" com a sexualidade do homem brasileiro. Pena que esta busca para novos efeitos tenham trazido à baila a "doença" infantil do experimentalismo. Felizmente, o trabalho em pauta é a grande exceção, contrariando a linha do "liberou geral", prova disso é que o dramaturgo e jornalista (também fanático torcedor de futebol), sempre navegou naquela linha limite entre a transgressão e o senso comum, daí muitas vezes sendo considerado "ícone da moralidade". Mera especulação! Seus achados, traduzidos em frases pra lá de provocativas nunca se transformaram em decretos morais e, sim, "alfinetadas" de que o homem quando movido pelo dinheiro, sexo e poder se transforma numa espécie quase próxima do verme. Seus personagens fedem álcool exalando um terrível mau cheiro de sovaco. Talvez, por esta razão, tenham escandalizado justamente a "grãfinalha" carioca dos anos cinquenta. 

Nelson Rodrigues abriu caminho para dramaturgos que vieram a seguir, porém, não souberam ainda encontrar o ponto de equilíbrio entre o social e as entranhas do indivíduo. Colocamos aqui, como exceção, apenas um outro "santo e maldito", o paulista Plínio Marcos, que como Nelson Rodrigues que não só atacou as maledicências dos conservadores, mas também dos assim chamados "revolucionários".


Parafraseando texto original de Suely Pinheiro




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