O braço direito de Marina Silva é símbolo do que há de Mais Velho na Política
Hoje: Feldman e Marina
Se com Eduardo Campos a
“nova política” de Marina Silva já era pouco sustentável, em sua carreira solo
fica cada vez mais evidente que isso é uma miragem, especialmente com toda as
velhas raposas que a cercam e que nos últimos dias se transformaram em seu
núcleo duro.
Um dos pivôs —
provavelmente o mais importante — do rompimento com o secretário geral do PSB,
Carlos Siqueira, é Walter Feldman.
Siqueira e Marina bateram
boca na quarta-feira, quando sua candidatura foi oficializada. Marina quis
fazer mudanças na campanha e “trazer o Walter” para a coordenação.
Walter acabou com o cargo de
coordenador adjunto (Erundina ficou com a posição) mas é conselheiro, braço
direito, articulador, amigo, articulador financeiro.
Pode ser tudo,
absolutamente tudo, menos novidade, menos revitalização ou algo que o valha. Ao
contrário, é um político tradicional, com 30 anos de carreira sem
brilho. Essa experiência, segundo um pessedebista histórico, lhe permitiu
crescer dentro de uma estrutura amadora como a da Rede.
Formado em medicina,
Feldman foi do PC do B e passou pelo PMDB antes de fundar o PSDB. Foi deputado
estadual em 1998 e, entre os anos de 2000 e 2002, presidente da Assembleia
Legislativa.
Em 2002, elegeu-se
deputado federal e em 2005 assumiu uma secretaria de Coordenação das
Subprefeituras. Entre 2007 e 2012, foi secretário de Esportes, Lazer e
Recreação do município de São Paulo. Chegava a aparecer de boné e skate.
Ontem: Serra e Feldman
Tem uma pendenga antiga
com o governador Geraldo Alckmin. Ligado a Serra, liderou em 2008 uma ala
tucana que apoiou a reeleição de Gilberto Kassab (que estava no DEM) para a
prefeitura, preterindo Alckmin. Kassab, eu disse.
Em 2009, isolado, anunciou
que ia sair do PSDB. Acabou enviado a Londres como titular de uma secretária
inventada para ele, a de Grandes Eventos. Passou seis meses lá, segundo ele
mesmo para estudar a Olimpíada e ver que lições poderiam ser úteis a São Paulo.
Lembrando que os Jogos serão no Rio.
Kassab tentou mantê-lo na
Inglaterra. Feldman voltou no ano seguinte feliz com Geraldo e com seu partido,
que estava “oxigenado”. Em 2011 estava fora.
Em três décadas de vida
pública, é difícil citar algo com sua assinatura, na cidade ou no estado. No
plano das ideias, o panorama fica mais turvo.
Mas seu nome esteve
envolvido no escândalo de formação dos carteis para a compra de trens. Foi
citado num relatório do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer.
Antes disso, foi
mencionado na Operação Castelo de Areia, uma investigação da Polícia Federal
sobre evasão de divisas, lavagem de dinheiro e caixa 2. Documentos listavam
doações da construtora Camargo Corrêa a vários políticos. Feldman aparecia com
120 mil dólares recebidos entre 13 de janeiro e 14 de abril de 98. Ele se
indignou com a menção.
Marina mesma o defendeu no
caso do chamado trensalão. Em 2013, declarou que Feldman não tem medo das
acusações. “Ele próprio quer ser investigado”, afirmou.
A jogada ousada de Walter
Feldman, de se arriscar aos 60 anos na Rede, acabou tendo uma mãozinha do
destino — se você quiser chamar assim — quando o avião caiu em Santos.
Agora, merece um pirulito
de açaí quem acredita que Walter Feldman se aproxima remotamente de algo
parecido com a renovação que Marina Silva apregoa ininterruptamente. Sua
presença é, na verdade, um choque de realidade e um exemplo carcomido de
sobrevivência política.
por : Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo
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