O casamento de conveniência de Marina com a alta sociedade paulistana
Me dá um dinheiro aí
Se Marina Silva apareceu nas Jornadas de
Junho como uma certa esperança de mudança de uma certa juventude, ela vai se
consagrando como voto útil e sectário de gente cuja principal motivação para
escolhê-la é o ódio figadal ao PT.
No balaio de gatos dos neosimpatizantes
de sua candidatura cabe de tudo. Agora é o flerte com a — cof, cof — high
society paulistana, um grupo cuja caricatura é a da empresária Rosângela Lyra,
ex-representante da Dior do Brasil, católica militante, sogra de Kaká (cuja
mulher é pastora).
Rosângela organizou um encontro de
Walter Feldman, articulador da campanha marinista, com o supra-sumo da rua
Oscar Freire, onde se concentram todas as grifes chiques de São Paulo.
Walter (“Waltinho”), que debandou do
PSDB depois que viu que não teria mais espaço, acredita numa debandada
generalizada do partido em caso de derrota.
Aproveitou para tranquilizar as moças
sobre um possível governo socialista do PSB, na possibilidade remota —
descartada há décadas — de o PSB ser coerente com o que a sigla significa.
Os tais conselhos populares de que
Marina fala, segundo ele, não serão parecidos com “sovietes” ou “organizações
de esquerda”. Enfim, muita calma nessa hora, tamo junto, confia, segura na mão
de Deus e vai.
É do jogo Marina buscar voto em qualquer
lugar, seja de onde for e de quem vier (e como for?). Mas você não precisa ser
muito esperto para ver que isso não tem nada a ver com “nova política”.
O marinismo sai do armário em pequeno
estilo. Do outro lado, é difícil imaginar as amigas de Lyra tomando chá com a
ex-seringueira se estivéssemos em circunstâncias normais.
No vale-tudo da eleição, Marina topa
servir de cavalo de Troia para quem a quer apenas para executar o trabalho sujo
de tirar da frente o inimigo.
Nesse casamento, é enorme a chance de
decepção de ambas as partes. Aécio é o funcionário do mês, que todos já
conhecem. Marina está na frente, mas uma incógnita. Alguém precisa lembrar
que não existe almoço grátis.
Sua aura de pureza se evapora a cada
dia. Marina ganhou 1,6 milhão de reais entre 2011 e 2014, fruto de palestras.
Declarou que não podia revelar os nomes dos contratantes por causa de uma
cláusula de confidencialidade.
Segundo a Folha, a cláusula não se
aplica a vários dos contratos. Muitas entidades não assinaram nada que obrigasse
ninguém ao silêncio. Como sempre, Marina usa seu comportamento
passivo-agressivo para dizer que isso é perseguição.
“Vou votar na Marina. Ela quer a mudança
que todos almejamos e não sabemos onde tá nem como fazer. E ela sabe”, diz
Rosângela Lyra. “Marina tinha algumas ideias, mas a gente acredita que,
com o passar dos anos, ela pode ter mudado”.
Ela tinha milhares de ideias, não há
dúvida. Mudou porque muda de opinião de um dia para outro, dependendo do
interlocutor.
O problema é quando esse defeito grave
vira virtude apenas porque é conveniente. Não há nada mais velho, moribundo e
desprezível do que isso.
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