Por que o Acre de Marina Silva não vota em Marina Silva
Parafraseando publicação do El Pais.
“A Marina é boa, ela
conhece tudo por aqui. Mas eu vou votar na Dilma”, diz Adaíldo Carneiro de
Lima, de 73 anos, morador de Quixadá, zona rural de Rio Branco, a 40 minutos da
capital do Acre. “Ela (Dilma) deu essa casa pra gente. Não posso ser mal agradecido,
né?”, explica, em frente à moradia que começou a ser construída há oito meses
pelo programa do governo federal Minha Casa Minha Vida.
O vizinho de Lima, Sr. Zé
Gomes, de 90 anos, trabalhou no Seringal Bagaço, nome do local onde
nasceu Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, em 8 de fevereiro de 1958,
em um lugarejo chamado Breu Velho. “Ela era chamada de ‘macaquinha do bagaço’,
porque era muito pequena, magrinha e vivia correndo de um lado para o outro”,
conta, rindo, exibindo a dentadura implantada por um programa do Governo
Federal.
Quando foi candidata à presidência
pelo Partido Verde nas últimas eleições presidenciais, em 2010, Marina Silva
ficou em terceiro lugar no Acre, com 23,58% dos votos dos 509.000 eleitores do
Estado.
Andando por Rio Branco,
não há uma pessoa para quem Marina Silva seja uma desconhecida. Todos sabem
quem é ela, de alguma maneira. Mas afinal, por que a candidata do PSB não
lidera as pesquisas de intenções de votos em sua terra natal?
Para o atual governador do
Acre e ex-companheiro de militância, Tião Viana (PT), Marina acabou se
afastando de seu legado. “Ela se distanciou muito”, diz. “Nós, até hoje, temos
um sentimento de gratidão muito grande pelo (ex-presidente) Lula e pelo projeto
nacional do PT, mas ao entrar em uma agenda global, Marina se afastou de tudo
isso”, diz.
Marina, na verdade, se
distanciou do PT quando entregou sua carta de desligamento em 2008. A
ambientalista entrou na política levada pelo líder seringueiro Chico Mendes.
Juntos, fundaram a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre em 1985. No
ano seguinte, Marina se filiou ao Partido dos Trabalhadores, que havia sido
criado seis anos antes. Pelo PT, Marina se elegeu vereadora em Rio Branco
(1988), deputada estadual (1990) e senadora por duas vezes (1994 e 2002).
Em 2003, foi nomeada
ministra do Meio Ambiente do governo Lula, cargo ocupado até 2008, quando se
desfiliou do partido após uma série de desgastes. No ano seguinte, Marina se
filiou ao Partido Verde, do qual foi militante até 2011, quando saiu para
fundar o grupo político Rede, que, até hoje, não foi registrado por falta de
assinaturas no tempo determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Para ser
candidata nestas eleições, Marina se filiou ao Partido Socialista Brasileiro
(PSB) no ano passado. Entre tantas idas e vindas, ela perdeu parte de sua
militância e de seu eleitorado no Acre.
Os acrianos que moram nas
zonas rurais, de acordo com de Paula, não têm bons motivos para eleger sua
conterrânea. “As populações camponesas e indígenas não têm razões para gostar
dela porque a sua gestão no Ministério do Meio Ambiente foi dramática”, diz.
“Foi na gestão dela que foi criado o Instituto Chico Mendes, que multava e
marcava em cima dessas populações. Logo, Marina é encarada por eles como
uma encarnação dessa política opressiva”, explica de Paula. “Além disso, foi na
gestão dela que foi criada a lei 11.884, que institui florestas públicas para a
exploração”, diz, se referindo à lei que transfere ao Governo a gestão de
florestas públicas para serem exploradas. “Não há motivo para ela ser bem
quista por essa população”.
Outra questão, segundo de
Paula, é que a candidata do PSB não toma partido quando o assunto é o PT no
Estado, que está no governo há 15 anos. “Marina é parte desse bloco do governo
atual, já que seu marido fazia parte dele há até duas semanas – Fábio Vaz de Lima era secretário adjunto na
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e
dos Serviços Sustentáveis do Governo do Acre, e pediu exoneração no último dia
19 – e ela nunca se manifestou contra a administração, nem mesmo quando surgem
escândalos de corrupção. Ao mesmo tempo, ela não nasceu nessa oligarquia” diz,
se referindo à família Viana, que tem grande popularidade entre os acrianos.
“Eu gosto muito da Marina,
mas não vou votar nela”, diz a professora aposentada Maria da Costa Silva, de
65 anos, que lecionou na mesma escola que Marina, o Colégio Estadual Rio
Branco, quando a ambientalista dava aulas de história. “A Marina mudou muito,
quando ela era senadora ela era ótima, mas agora ela fala difícil”, diz. “Além
disso, ela é muito doente, tenho medo que Brasília acabe com a saúde dela”,
conta a aposentada que votará em Dilma.
Na década de 1990, Marina
descobriu que havia sido contaminada por mercúrio quando ainda vivia no seringal.
A contaminação piorou sua saúde que já era frágil em decorrência de uma
leishmaniose, três hepatites e cinco malárias. Por isso, hoje, Marina Silva tem
alergia ou restrições a quase tudo, de cosméticos a alimentos.
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