Firmeza de Dilma derrota Marina e apaga Aécio em debate na Globo
No último debate
do primeiro turno entre os presidenciáveis, realizado ontem, quinta-feira (2)
pela Rede Globo, a presidenta Dilma Rousseff demonstrou segurança e preparo,
Marina Silva (PSB), desespero e falta de proposta, e o tucano Aécio Neves
(PSDB) incoerência e bravata.
Autonomia ou
independência do BC
Mas voltando ao debate, Marina lamentou os questionamentos feitos ao seu
programa pela campanha de Dilma e defendeu a proposta de independência ao Banco
Central. Tentou nivelar a sua postura com a da presidenta Dilma, dizendo que
ela também defendia, antes da eleição, a independência do BC.
Dilma foi enfática e disse que Marina estava fazendo jogo de cena ao tentar
confundir independência com autonomia. “Acho que você está deliberadamente
confundindo autonomia com independência. No seu programa está escrito de forma
clara, independência. Eu respeito a autonomia do Banco Central. Eu sugiro que a
senhora leia o que escreveram no seu programa, a senhora está confundindo
autonomia com independência, e são coisas diferentes. Não é possível transferir
essa escolha para os bancos”, disse Dilma.
O segundo embate foi também numa pergunta livre de Marina, que acusou Dilma de
não ter cumprido “vários compromissos” de campanha e que a corrupção era
responsabilidade da presidenta.
“Eu cumpri todos os meus compromissos. Hoje o Brasil pratica a menor taxa de
juros de toda a sua história, Marina. Além disso, não houve governo que mais
combateu a corrupção como o meu. Eu não escondi debaixo do tapete, não varri e
não engavetei”, frisou Dilma.
Marina fugiu e ninguém viu
Na réplica, Marina fingiu que não ouviu e continuou a dizer que a presidenta
não cumpriu com os seus compromissos de campanha e a acusou de ser conivente
com a corrupção afirmando que Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras
preso em investigações de corrupção) teria recebido uma “demissão premiada” da
presidenta.
Dilma mostrou altivez e coerência e colocou a candidata no seu lugar. “Marina,
vamos colocar os pingos nos "is". O seu diretor, nomeado por você, diretor
de fiscalização do Ibama foi afastado do meu governo por crime de desvio de
recursos. E eu não saí por aí, Marina, dizendo que você conhecia a corrupção e
tinha acobertado. Sejamos corretas na condução. Esse diretor, nós investigamos,
nós prendemos. No passado, ninguém prendia ninguém. E as pessoas eram
protegidas. Veja só que os crimes do metrô de São Paulo foram descobertos pela
Suíça”.
Marina não respondeu e na sua vez de perguntar escolheu Eduardo Jorge para
debater, sendo que tinha à sua disposição Dilma e Aécio. Ou seja, fugiu do
debate diante do alto grau de contradições de sua “nova política”.
Tucano
bravateiro
Com Aécio não foi diferente. O candidato não poupou insinuações e bravatas
durante todo o debate. Usando a palavra “previsibilidade” apenas uma vez, o que
é um feito para Aécio já que essa é a síntese, segundo ele, de seu programa de
governo, o candidato tucano fugia das respostas, mas sem perder a pose.
No primeiro bloco de perguntas, Dilma lembrou que o tucano, quando líder do
PSDB no Congresso durante o governo FHC, defendia a política de privatização,
incluindo a Petrobras. E que o seu escolhido ministro da Fazenda, Armínio
Fraga, também defende a privatização dos bancos públicos como a Caixa
Econômica, o Banco do Brasil e o BNDES.
Privatizar é a política de Aécio
Aécio tergiversou dizendo que tais setores são “cabides de emprego”, mas
confessou: “Sim, privatizamos setores necessários de serem privatizados...
Fizemos as privatizações de setores importantes como siderúrgica, que eram
necessárias”.
Na réplica, Dilma desnudou o candidato: “Vocês praticamente entregaram para nós
a Caixa e o Banco do Brasil numa situação extremamente precária. Hoje a Caixa e
o Banco do Brasil são bancos públicos muito sólidos. Acho estranho que o senhor
trate com tanta leveza a questão das privatizações. Foi no governo do senhor
que um alto funcionário de um banco público disse que estavam tratando as
privatizações no limite da irresponsabilidade. E esse funcionário simplesmente
constatava as condições pelas quais se organizavam os consórcios que compraram
essas empresas”.
No embate seguinte, Dilma destacou que o Brasil assumiu em Copenhague, de forma
voluntária, a redução das emissões de gás de efeito estufa e as ações que
reduziram o desmatamento. Ela perguntou ao tucano qual é a proposta do
candidato para a área de mudanças climáticas.
Aécio não apresentou as propostas, mas aproveitou para criticar dizendo que o
governo Dilma “não teve a capacidade da previsibilidade” e finalizou: “Por isso
nós precisamos restabelecer o planejamento no país, e é para isso que eu me
preparei e é isso que nós vamos discutir, espero, no segundo turno”. Ou seja,
proposta só no segundo turno, quem sabe.
Habitação e Bolsa Família
Dilma insistiu nas propostas. Abordou o tema moradia lembrando que seu governo
fez o maior programa de habitação da história do Brasil e perguntou a opinião
do candidato sobe o programa Minha Casa, Minha Vida.
Aécio Neves novamente mudou de assunto e disse que os governos Lula e Dilma
transformaram os programas sociais dos tucanos, como o bolsa-escola, o
bolsa-alimentação e o vale gás, no Bolsa Família. “E fizeram muito bem. Eu
reconheço essa virtude do presidente Lula”, admitiu ele, sem falar de sua
proposta sobre habitação, apenas dizendo que o foco maior do programa, na sua
gestão, seria na faixa de até três salários mínimos.
Dilma, por sua vez, rebateu o candidato. “Interessante, Aécio, um programa de
14 milhões de famílias não tem nada a ver com o programa que era extremamente
fatiado e não chegava a mais de dois milhões de pessoas”, afirmou a presidenta.
Sobre o Minha Casa, Minha Vida, Dilma pontuou que “talvez seja difícil para
você dar continuidade porque você não o conhece” e explicou: “A principal
característica do Minha Casa, Minha Vida é que o subsídio maior é para quem
ganha até R$ 1.600,00. Se você tivesse conhecimento disso, você também não
diria que vai fazer um programa que contemplará até três salários mínimos”.
Levy, Luciana
e Eduardo
Levy Fidelix (PRTB) foi um caso à parte do debate. Os candidatos Eduardo Jorge
(PV) e Luciana Genro (PSOL) repudiaram as declarações do presidenciável no
debate promovido pela TV Record, na semana passada, em que afirma que “o
aparelho excretor não reproduz” e pregar o “enfrentamento aos gays”.
Ainda no primeiro bloco do programa, Eduardo Jorge propôs que o adversário se
desculpasse pelo que disse. “Você não tem moral nenhuma para me pedir isso.
Propõe que os jovens consumam maconha, apologia ao crime”, disparou Fidelix,
referindo-se à proposta de descriminalização da maconha do PV.
Jorge rebateu: “Vamos nos encontrar na Justiça, eu como testemunha”, destacando
que diversas entidades e partidos entraram na Justiça contra Fidelix, pedindo
que a candidatura dele fosse impugnada.
Em outro momento, Fidelix perguntou à única adversária disponível, que era
Luciana, sobre um suposto acordo que teria feito com o marido de Luciana no
último debate, para que ele não fizesse pergunta a candidata Marina porque ela
queria questioná-la sobre economia.
Luciana ignorou a pergunta e criticou: “O teu discurso de ódio é o mesmo
discurso que os nazistas fizeram contra os judeus. Você só falou o que falou,
porque não há lei que torne homofobia crime”, disse a candidata do Psol,
destacando que Fidelix deveria ter sido preso, mas isso não aconteceu porque a
homofobia não é considerada crime no país.
Luciana também protagonizou um momento raro na TV Globo. Ela foi a primeira
candidata a fazer pergunta logo na abertura do debate. Antes do seu
questionamento ela manifestou que só participou do debate porque entrou com
ação na Justiça. “Estou aqui por força da garantia da lei, porque durante toda
a campanha a Globo só mostrou os 3 candidatos que não têm propostas para atacar
as 5 mil famílias mais ricas do Brasil, dentre as quais a família que é dona da
Rede Globo”, disse.
Pastor Everaldo, tal como Fidelix, também marcou a sua participação no
debate pelo despreparo e desconhecimento. Com o tema da pergunta sendo
estabelecido por sorteio, Everaldo escolheu o candidato Aécio e deveria fazer
uma pergunta sobre Previdência. Ignorou o tema e resolveu falar sobre o PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento). Interpelado por Bonner a seguir as
regras do programa, Everaldo simplesmente disse: “Aécio, qual é a sua proposta
para Previdência?”, provocando a gargalhada da plateia.
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