CORRUPTO DE US$ 100 MI JÁ NÃO TEM MAIS NADA A PERDER
Amante de charutos finos e de
esportes elitistas como o golfe, praticado no Gávea Golf and Country Club do
Rio de Janeiro, o engenheiro Pedro Barusco se tornou um dos personagens
emblemáticos da Operação Lava Jato; depois de receber US$ 100 milhões em
propinas, ele foi designado para comandar um projeto estratégico do pré-sal: a
Sete Brasil, empresa controlada pelo BTG Pactual, e com vínculos com
empreiteiras como a Odebrecht, a Schahin e a Queiroz Galvão, que foi criada
para construir sondas e plataformas de petróleo no Brasil; depois de perder a
reputação e o dinheiro, que será devolvido aos cofres públicos, ele ainda enfrenta
ainda outra batalha: a luta contra um câncer; sua delação premiada, já em
curso, assusta mais o mundo empresarial do que político.
O maior corrupto já descoberto
no Brasil gostava de frequentar um oásis, no Rio de Janeiro. Pedro Barusco,
gerente-executivo da Petrobras, era frequentador assíduo do Gávea Golf &
Country Club, fundado por ingleses, na Cidade Maravilhosa, em 1920.
Entre uma tacada e outra, era lá
que Barusco gostava de degustar vinhos caros e charutos raros. E quem o visse
por ali jamais imaginaria que aquele personagem, com pinta de grã-fino, era
apenas um executivo de terceiro escalão da Petrobras.
Barusco ganhou notoriedade
depois de ter sido delatado por Julio Camargo, da Toyo Setal. No curso da
Operação Lava Jato, descobriu-se que ele amealhou propinas estimadas em US$ 97
milhões, o equivalente a R$ 252 milhões, que serão devolvidos à sociedade.
Ex-braço direito de Renato
Duque, na diretoria de Serviços da Petrobras, Barusco aceitou a delação por
duas razões. A primeira, porque as provas eram incontestáveis e algumas de suas
contas na Suíça já estavam bloqueadas por autoridades internacionais. A
segunda, porque enfrenta um drama pessoal: a luta contra um câncer.
Sua delação premiada, que já
começou a ser conduzida pela advogada Beatriz Catta Preta, a mesma que atuou no
processo de Paulo Roberto Costa, hoje assusta mais o mundo empresarial do que
político. No PT, ele é relativamente pouco conhecido e há a percepção de que
agia por motivações privadas – e não partidárias.
No campo empresarial, no
entanto, Barusco é um personagem de primeira grandeza, próximo a grandes nomes
do PIB nacional. Enquanto esteve na Petrobras, ele foi o responsável pelos
contratos de afretamento de sondas e plataformas. Nessas operações, quem mais
se beneficiou foi o grupo Schahin, que fechou contratos de mais de R$ 15
bilhões com a estatal.
No início de 2011, no entanto,
ele deixou a Petrobras para trabalhar no setor privado, mas numa empresa de
atuação quase paraestatal. Liderada pelo BTG Pactual, do banqueiro André
Esteves, e capitalizada por fundos de pensão estatais, nasceu naquele ano a
Sete Brasil. Uma empresa que tinha como missão explorar as potencialidades do
pré-sal, produzindo, no Brasil, sondas e plataformas de petróleo.
Esta empresa foi fruto de uma
complexa amarração, que unia os investidores aos fornecedores de infraestrutura
no Brasil, como a Odebrecht Óleo e Gás e a Queiroz Galvão – duas empreiteiras
também atingidas pelas denúncias da Lava Jato. Barusco, por sua vez, era o elo
de ligação entre a Sete Brasil e a Petrobras.
Antes de migrar do setor público
para o privado, ou paraestatal, ele amarrou contratos de aquisição de sondas e
plataformas junto à Sete Brasil. Assim, a empresa nasceu com encomendas de mais
de R$ 80 bilhões junto à Petrobras. O objetivo era criar uma grande indústria
naval brasileira, tendo como fiador dessa relação entre o público e o privado o
homem que amealhou quase US$ 100 milhões em paraísos fiscais.
Em 2013, já diagnosticado com
problemas de saúde, Barusco deixou a Sete Brasil. A presidência e a diretoria
de operações, que era o cargo de Barusco, foram ocupadas por dois executivos
egressos do grupo Schahin: Luiz Eduardo Carneiro e Renato Sanches.
Barusco iniciou seu tratamento,
mas continuou jogando golfe, apreciando vinhos e fazendo viagens ao exterior.
Agora, quando se viu sem saída, e sem mais nada a perder, contratou a advogada
Beatriz Catta Preta.
Sua delação, repita-se, assusta
mais o mundo empresarial do que político.
A Sete Brasil, por sua vez,
enfrenta dificuldades financeiras e não tem conseguido cumprir os contratos com
a Petrobras. Nascida com a promessa de gerenciar grandes investimentos de
infraestrutura, é uma empresa pendurada em dívidas e que tenta novas operações
de resgate junto ao setor público.
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