Quem eram os corruptores da Petrobras
Ato de funcionários da Petrobras por falta de pagamento, em 29 de janeiro. A estatal passa por uma das mais graves crises de sua história
Na lista de operadores está uma pessoa ligada ao “mensalão” e outro que pagava “salário” de 29 mil dólares a ex-gerente da estatal
Carta Capital - por Fabio Serapião, de Curitiba, e José Antonio Lima
A petição em que o
Ministério Público Federal pede ao juiz Sergio Moro a deflagração da nona fase
da Operação Lava Jato – batizada de My
Way pela Polícia Federal –
traz um retrato detalhado sobre o funcionamento de uma das partes do esquema de
corrupção envolvendo funcionários públicos, empreiteiras e políticos na
Petrobras.
A gênese da Lava Jato é a relação entre
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e o doleiro
Alberto Yousseff, apontado como operador do PP no esquema de corrupção. Na
investigação a respeito da diretoria de Abastecimento, PF e MPF descobriram
desvios em outras diretorias, entre elas a de Serviços, ocupada por Renato
Duque entre 2003 e 2013, na qual Pedro Barusco era o gerente-executivo. A My Way se concentra na atuação desta dupla e
suas conexões com o PT.
De acordo com o MPF, “o cartel de enormes
proporções, autodenominado ‘Clube’, do qual fizeram parte grandes construtoras
do país, tais como OAS Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Andrade
Gutierrez, Mendes Júnior, Promon, MPE, Skanska, Queiroz Galvão, Iesa, Engevix,
Setal, GDK e Galvão Engenharia” pagava propina em contratos com a Petrobras que
variava entre 1% e 2% do valor total envolvido. Na diretoria de Serviços,
segundo o MPF, a margem era de geralmente de 2%, sendo que 1% era destinado ao
PT e o outro 1% à “casa”, designação dos funcionários da Petrobras – Duque,
Barusco e Jorge Luiz Zelada e Roberto Gonçalves.
Além de João Vaccari Neto, que teria recebido US$ 50 milhões
para proveito próprio e até US$ 200 milhões para repassar ao PT,
havia outros dez operadores financeiros do esquema, “autênticos representantes
dos interesses das empresas corruptoras nos pagamentos das vantagens indevidas”
conforme o MPF. Os detalhes a respeito da atuação deles mostra como funcionava
o esquema.
- Mario Frederico Mendonça Goes era, segundo
o MPF, o operador de empresas como Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Carioca
Engenharia, Bueno Engenharia, MPE/EBE, OAS, Schain, Setal e UTC. Ele usava
empresas em paraísos fiscais para transferir o dinheiro desviado, mas também
entregava dinheiro vivo a Barusco – mochilas com até 400 mil reais. A dupla
também fazia “encontro de contas”, nos quais conferiam, contrato a contrato, o
pagamento de propinas.
- Zwi Zcorniky seria, segundo a denúncia, o
operador da Keppel Fels e da Floatec. Ele transferia dinheiro para as contas de
Barusco e de Vaccari Neto na Suíça e, quando Renato Duque deixou a estatal, foi
ele o responsável por um pagamento de 14 milhões de dólares ao ex-diretor.
- Guilherme Esteves de Jesus atuava em nome
do Estaleiro Jurong, segundo o MPF. Além de ter um esquema diretor com Vaccari
Neto, ele entregava dinheiro aos funcionários da Petrobras, tendo repassado ao menos
8,2 milhões de dólares a eles.
- Milton Pascovich, segundo o MPF, era o
operador da Engevix e do Estaleiro Rio Grande, pertencente à empreiteira.
Documentos apreendidos mostram transferências feitas por ele para contas de
Barusco no exterior.
- Shinko Nakandakari, ex-funcionário da
Odebrecht, era o operador da Galvão Engenharia, da EIT Engenharia e da
Contreiras, segundo o MPF. Ele usava uma empresa própria, a LSFN Consultoria
Engenharia, para transferir dinheiro de propina, mas também fazia isso com dinheiro
vivo.
- Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva era,
segundo o MPF, operador da Alusa, da Rolls Royce e SBM.
- Atan de Azevedo Barbosa aparece na petição
do MPF com um caso sui generis. Por mais de quatro anos entre 2008 e 2013,
Barbosa pagou, em nome da Iesa Óleo e Gás, um “salário” de 29 mil dólares
mensais a Barusco, por conta dos contratos assinados entre a empresa e a
Petrobras.
- Bernardo Schiller Freiburghaus surge na
lista de citados por Barusco como responsável por abrir e enviar dinheiro para
o exterior. Um dos serviços prestados por ele foi, segundo o MPF, enviar à
Suíça 2 milhões de dólares pertencentes a Barusco após o estouro da Operação
Lava Jato.
- Augusto Amorim Costa era o operador da
Queiroz Galvão, conforme afirma o MPF. Documentos apreendidos mostram que ele
teria feito diversos depósitos a Barusco em contas no exterior.
- Cesar Roberto Santos Oliveira, dono da GDK,
era, segundo o MPF, o operador desta empresa e repassava dinheiro a Barusco.
César Oliveira foi uma das “estrelas” do chamado “mensalão”, pois foi o
responsável por dar a Silvio Pereira, então secretário-geral do PT, um carro
Land Rover. Em 2005, quando estourou o escândalo, os dois afirmaram que o carro
era um presente entre amigos. Silvio Pereira se desfiliou ao PT, abandonou a
política e não virou réu na Ação Penal 470 pois cumpriu seu acordo com a
Justiça.
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