O anti Villa: o cientista social que pegou a Globo de surpresa ao não fazer demagogia idiótica
O
professor Vitor Amorim de Angelo, da Universidade de Vila Velha, tem mestrado e
doutorado em Ciências Sociais e Políticas com passagem pelo Centre
d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris (SciencesPo).
É também pesquisador do Institut des Sciences Sociales
du Politique da Université de Paris Ouest-Nanterre La Défense. Apesar desse
currículo, expressa-se com muita clareza. Pensa bem e articula bem.
Vitor fez uma participação num telejornal da Globo que foi
fruto, provavelmente, de um erro da produção. O fato é que ele não deverá
voltar tão cedo. A não ser que mude de ideia.
No Bom Dia ES, foi convidado a comentar a manifestação do
dia 15 de março e, no bojo disso, a corrupção. Ao invés de concordar com as
teses do apresentador — o clássico: PT inventou a roubalheira, os protestos
eram apartidários etc —, Vítor ofereceu alguns instantes de sobriedade,
perspectiva e imparcialidade.
“Esse problema não ataca apenas o executivo. Não é só na
política, mas na sociedade. A corrupção está disseminada. Não significa
diminuir a culpa de ninguém. Apenas tratar um problema complexo da maneira como
ele deve ser tratado. Ao colocar a culpa só no executivo, nós terminamos
mascarando a questão”.
Opa. Alguém falando em complexidade?
Num determinado momento, o entrevistador aborda a
entrevista dos ministros Cardozo e Rossetto após as manifestações. Rossetto
afirmou que quem participou foram as pessoas que não votaram em Dilma. “Miriam
Leitão disse que não é bem por aí. O senhor concorda com a Miriam ou com o
ministro?”
O acadêmico concordou com o ministro, acrescentando alguns
dados: eram eleitores de Aécio e de Marina, segundo uma pesquisa. Complementou:
“A democracia, é bom lembrar, é um regime de confiança, não de adesão.
Portanto, não é uma opção aderir ou não ao resultado. Você faz parte desse
sistema político no qual ela é presidente. O inverso também é verdadeiro: você
venceu, mas não pode deixar de governar para aqueles que não te elegeram”.
O entrevistador ainda insistiu no escândalo da Petrobras.
Compassivo, Vitor voltaria ao seu ponto. “O que estou tentando dizer é que, num
olhar um pouco mais refinado, a gente não pode reduzir a corrupção apenas ao
PT”.
O cientista social é sóbrio e ajuda a entender o momento
político sem respostas óbvias. Virtudes que o farão, provavelmente, nunca mais
aparecer novamente para comentar qualquer coisa na Globo e congêneres. Pode ter
sido ingênuo. Tendo a achar que foi corajoso.
É muito mais fácil convocar alguém como Marco Antonio
Villa. Com historiadores como Villa, não há a menor chance de erro, não há
espaço para a dúvida ou a reflexão. Villa é um mestre da simplificação
rasteira. Onde há complexidade, ele traz uma explicação de bolso vagabunda.
Desde a Babilônia, o culpado pelas tragédias da humanidade é o mesmo de sempre.
Villa facilita o serviço de banalizar o mundo e entregar uma rapadura odiosa
para a plateia, que a engole sem mastigar.
Pra que complicar?
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