O que a foto de Merval com o filho de FHC diz sobre o caráter do jornalismo brasileiro
Paulo Henrique Cardoso e Merval: promiscuidade jornalística
Por Paulo Nogueira
Está
circulando na internet uma foto que é um símbolo perfeito da falência moral do
jornalismo das grandes corporações brasileiras.
Nela, Merval aparece agachado ao lado do filho mais velho
de FHC, Paulo Henrique.
A informação que corre é que foi tirada em Nova York, por
ocasião de um prêmio dado a FHC.
Não importam as circunstâncias. A foto poderia ter sido
tirada no Rio. O que importa é o fato em si.
A lição primordial do maior jornalista da história, Joseph
Pulitzer, é: “Jornalista não tem amigo.”
Por uma razão essencial: amizades interferem no trabalho do
jornalista.
Claro que não estou me referindo aos amigos de fora da vida
profissional: o compadre, o companheiro de futebol ou de cerveja, este tipo de
coisa.
Estou falando estritamente de figuras como Paulo Henrique
Cardoso.
Nos Estados Unidos, a máxima de Pulitzer foi por algum
tempo esquecida. Mas já faz décadas que foi recuperada.
Ficou na poeira a era dos jornalistas íntimos da Casa
Branca, como James Reston. Entendeu-se que o conteúdo que produziam, embora
frequentemente brilhante, era viciado pela amizade presidencial.
Merval é o anti-Pulitzer.
São abjetas as fotos que ele tirou com integrantes do STF
na época do Mensalão. Um dos juízes chegou ao cúmulo de fazer o prefácio de um
livro de Merval sobre o célebre julgamento.
(Tratando-se de Merval você bem pode adivinhar que se
tratava de uma coletânea de artigos já escritos e publicados.)
A imprensa deve fiscalizar a Justiça, e não confraternizar
com ela. Da mesma forma, a Justiça deveria vigiar a imprensa.
A promiscuidade entre a imprensa e a Justiça, tão bem
representada pelas fotos de Merval com juízes, é péssima para a sociedade.
Tão
ruim quanto isso é um comentarista político que fica dando tapinhas nas costas
de lideranças políticas.
Há aí um conflito de interesses.
Não vou entrar na seguinte questão. Se a fotografia é
mesmo de Nova York, quem pagou a passagem de Merval? O Globo? Ele mesmo?
Pausa para rir e para invocar Wellington: quem acredita
naquilo acredita em tudo.
Um dia, a desfaçatez com que Merval aparece ao lado de
gente que ele deveria cobrir profissionalmente soará como aberração no Brasil,
a exemplo do que já acontece em países socialmente mais avançados.
Por ora, termino com uma recomendação aos jovens
jornalistas. Confio que eles construirão um ambiente jornalístico eticamente
muito mais saudável do que esse que temos hoje.
A recomendação é: “Estão vendo esta foto? Jamais façam o
mesmo.”
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