Os BRICS, têm, hoje, como grupo, não apenas o maior território e população do mundo, mas também mais que o dobro das reservas monetárias dos EUA, Japão, Alemanha, Inglaterra, Canadá, França e Itália, somados.
O Senado Federal aprovou, esta semana, a
constituição do Novo Banco de Desenvolvimento, o chamado Banco dos BRICS,
formado pelos governos do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com
capital final previsto de 100 bilhões de dólares. A Câmara dos Deputados já
havia dado sua autorização para a participação do Brasil no projeto, além da constituição
de um fundo de reservas para empréstimos multilaterais de emergência também no
valor de 100 bilhões de dólares.
Fazer parte do Banco dos BRICS, e do próprio grupo BRICS, de forma cada
vez mais ativa, é uma questão essencial para o Brasil, e para a sua inserção,
com alguma possibilidade de autonomia e sucesso, no novo mundo que se desenha
no Século XXI.
Neste novo mundo, a aliança anglo-norte-americana, e entre os Estados
Unidos e a Europa, que já por si não é monolítica, cujas contradições se
evidenciaram por sucessivas crises capitalistas nestes primeiros anos do
século, está sendo substituída, paulatinamente, pelo deslocamento do poder
mundial para uma nova Eurásia emergente - que não inclui a União Europeia - e,
principalmente, para a China, prestes a ultrapassar, em poucos anos, os EUA
como a maior economia do mundo.
Pequim já é, desde 2009, o maior sócio comercial do Brasil, e também o
maior parceiro econômico de muitos dos países latino-americanos.
A China já é, também, a maior plataforma de produção industrial do mundo.
Foi-se o tempo em que suas fábricas produziam artigos de duvidosa
qualidade, e, hoje, suas centenas de milhares de engenheiros e cientistas –
mesmo nas universidades ocidentais é difícil que se faça uma descoberta científica
de importância sem a presença ou a liderança de um chinês na equipe – produzem
tecnologia de ponta que, muitas vezes, não está disponível nem mesmo nos mais
avançados países ocidentais.
Nesse novo mundo, a China e a Rússia, rivais durante certos períodos do
século XX, estão se preparando para ocupar e desenvolver, efetivamente, as
vastas estepes e cadeias de montanhas que as separam e os países que nelas se
situam, construindo,nessa imensa fronteira, hoje ainda pouco ocupada, dezenas
de cidades, estradas, ferrovias e hidrovias.
A peça central desse gigantesco projeto de infraestrutura é o Gasoduto
Siberiano.
Também chamado de Gasoduto da Eurásia, ele foi lançado em setembro do ano
passado em Yakutsk, na Rússia, e irrigará a economia chinesa com 38 bilhões de
metros cúbicos de gás natural por ano, para o atendimento ao maior contrato da
história, no valor de 400 bilhões de dólares, que foi assinado entre os dois
países.
Nesse novo mundo, a Índia, cuja população era massacrada, ainda há poucas
décadas, pela cavalaria inglesa, possui mísseis com ogivas atômicas, é dona da
Jaguar e da Land Rover, do maior grupo de aço do planeta, é o segundo maior
exportador de software do mundo, e manda, com meios próprios, sondas espaciais
para a órbita de Marte.
E o Brasil, que até pouco tempo, devia 40 bilhões de dólares para o FMI, é
credor do Fundo Monetário Internacional, e o terceiro maior credor externo dos
Estados Unidos.
Manipulada por uma matriz informativa e de entretenimento produzida ou
reproduzida a partir dos EUA, disseminada por redes e distribuidoras locais e
pelos mesmos canais de TV a cabo norte-americanos que podem ser vistos em
muitos outros países, a maioria da população brasileira ignora, infelizmente, a
existência desse novo mundo, e a emersão dessa nova realidade que irá
influenciar, independentemente de sua vontade, sua própria vida e a vida da
humanidade nos próximos anos.
Mais grave ainda. Parte da nossa opinião pública, justamente a que se
considera, irônica e teoricamente, a mais bem informada, se empenha em combater
a ferro e fogo esse novo mundo, baseada em um anticomunismo tão inconsistente
quanto ultrapassado, que ressurge como o exalar podre de uma múmia,
ressuscitando, como nos filmes pós-apocalípticos, milhares de ridículos zumbis
ideológicos.
Os mesmos hiternautas que alertam para os perigos do comunismo chinês em
seus comentários na internet e acham um absurdo que Pequim, do alto de 4
trilhões de dólares em reservas internacionais, empreste dinheiro à Petrobras,
ou para infraestrutura, ao governo brasileiro, usam tablets, celulares,
computadores, televisores de tela plana, automóveis, produzidos por marcas
chinesas, ou que possuem peças “Made in China”, fabricadas por empresas
estatais chinesas ou com capital público chinês do Industrial & Commercial
Bank of China, ICBC, o maior banco do mundo.
Filhos de fazendeiros que produzem soja, frango, carne de boi, de porco,
destilam ódio contra a política externa brasileira, assim como funcionários de
grandes empresas de mineração, quando não teriam para onde vender seus
produtos, se não fosse a demanda russa e, em muitos casos, a chinesa.
Nossas empresas com negócios no exterior são atacadas e ridicularizadas,
como se só empresas estrangeiras tivessem o direito de se instalar e de fazer
negócios em outros países, inclusive o nosso, para enviar divisas e criar
empregos, com a venda de serviços e equipamentos, em seus países de origem.
É preciso entender que ao formar uma aliança estratégica com a Rússia, a
China, a Índia e a África do Sul, o Brasil não precisa, nem deve,
necessariamente, congelar suas relações com os Estados Unidos ou a União
Europeia.
Mas poderá, com eles, negociar em uma condição mais altiva e mais digna do
que jamais o fez no passado.
É nesse sentido que se insere a aprovação do Banco dos BRICS pelo
Congresso.
Apesar de termos escalado, desde 2002, sete posições entre as maiores
economias do mundo, a Europa e os EUA se negam, há anos, a reformular o sistema
de quotas para dar maior poder ao Brasil, e a outros países dos BRICS, no FMI e
no Banco Mundial.
Se não quiserem que não o façam. Como mostra o Banco dos BRICS, podemos
criar as nossas próprias instituições financeiras multilaterais.
Os BRICS, têm, hoje, como grupo, não apenas o maior território e população
do mundo, mas também mais que o dobro das reservas monetárias dos EUA, Japão,
Alemanha, Inglaterra, Canadá, França e Itália, somados.
O que incomoda os Estados Unidos e a Europa, e os seus prepostos, no
Brasil, não é o suposto comunismo ou “bolivarianismo” do atual governo, mas o
nacionalismo possível, até certo ponto tímido, politicamente contido, e sempre
combatido, dos últimos anos.
Existe uma premeditada, permanente, hipócrita, subalterna, entreguista,
pressão, que não se afrouxa, voltada para que se abandone uma política externa
minimamente independente e soberana, que possa situar o Brasil,
geopoliticamente, frente aos desafios e às oportunidades do mundo cada vez mais
complexo e competitivo do século XXI.
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot