RENAN X CUNHA: BRIGA DE CACHORRO GRANDE NA GUERRA DOS VETOS
Montagem Bastidores
Se esta quarta-feira, 30, já prometia ser um
dia D na crise política, mais decisiva ficou depois do confronto aberto entre o
presidente do Senado, Renan Calheiros, e o da Câmara, Eduardo Cunha. Renan,
como já noticiado, não aceitou a imposição de Cunha, em nome da maioria dos
partidos na Câmara, de só apreciarem os vetos presidenciais se fosse incluído
na pauta este último, que a presidente impôs ontem ao financiamento privado de
campanhas, no projeto de lei da reforma eleitoral, em sintonia com recente
decisão do STF, que o considerou inconstitucional.
Em
resposta, Cunha encerrou a sessão na noite de ontem convocando sucessivas
sessões extraordinárias a partir das 9 horas da manhã de hoje, quarta-feira.
Renan marcou uma sessão conjunta para as 11 horas, mas, pelo regimento comum,
ela não poderá começar enquanto uma das duas casas estiver reunida
separadamente.
É
isso que Cunha pretende fazer, mantendo o plenário ocupado. Renan, mesmo
informado, manteve sua convocação. Ele recusou também a pressão de Cunha para
colocar em votação a emenda que introduz na Constituição o financiamento
privado que o STF condenou. Com isso, há quem entenda que a decisão do Supremo
perderia a validade. Há quem pense que não, que ela tem o valor de uma cláusula
pétrea.
O
que separou os dois peemedebistas? Interesses diferenciados. Boa parte dos
senadores não quer fazer do financiamento privado de campanhas um cavalo de
batalha, como querem os deputados. Renan, hoje em paz com a Casa, não quer
marola. Além do mais, está empenhado em ajudar o governo a manter os vetos para
superar as desconfianças econômicas. Cunha, cada vez mais atolado na Lava Jato,
busca vingar-se do governo.
Os
vetos que o Planalto quer votar e manter, para demonstrar ao mercado
compromisso com a austeridade e controle de sua base política, tratam das duas
mais retumbantes pautas-bomba aprovadas pelo próprio Congresso, o aumento dos
servidores do Judiciário e a extensão dos reajustes do salário-mínimo a todos
os aposentados. Juntos, criam despesas de mais de R$ 60 bilhões até 2018. Uma
votação tão crucial para a presidente Dilma já estava complicada pelo
afunilamento com a reforma ministerial, ainda não concluída por conta de dificuldades
com o PMDB. Agora, entrou em cena este elemento novo, a briga Renan-Cunha.
Ela
pode ser danosa para o governo se Cunha conseguir impedir a sessão bicameral.
Os vetos não serão apreciados e o governo perderá a chance de dar sua prova de
força política e compromisso fiscal ao mercado. Mas pode ser também frutuosa
caso ocorram as votações. Mesmo que Cunha consiga votos para derrubar os vetos,
Renan deve fazer o contrário. E como se sabe, a derrubada de um veto exige
maioria absoluta de votos nas duas casas. Não basta em uma. Se forem derrubados
pela Câmara mas não pelo Senado, estarão mantidos. Dilma terá tirado mais um
bode da sala. Mas o maior continua lá, o do impeachment.
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