O veneno da edição da entrevista de Venina
600 milhões
de reais por ano para a Globo fazer um jornalismo como aquele que se viu na
entrevista com Venina no Fantástico. Um mensalão eterno de 50 milhões.
Foi minha primeira reflexão depois de ler a transcrição da
entrevista.
A edição é venenosa à sua maneira. A Globo, para se preservar, não
grita como a Veja. Só que cuida de despejar sobre sua audiência o mesmo tipo de
veneno, apenas mais sutilmente, mas com o mesmo resultado e com a mesma
finalidade.
O veneno não estava em Venina. Ela está contando sua história, e cabe
averiguar.
A maldade estava na maneira como Venina foi usada.
Dilma, no final, é citada – pela Globo. Numa tentativa de
desmoralizá-la, a Globo diz que Dilma afirmou que não existe uma “crise de
corrupção”.
No meio de uma entrevista que trata exatamente de corrupção, a
frase de Dilma parece o triunfo do cinismo.
Mas o cinismo é da Globo. É mais uma tentativa, como Roberto
Marinho fez tantas vezes primeiro contra Getúlio e depois contra Jango, de
rotular como corruptos regimes que não garantem a manutenção de mamatas e
privilégios a um pequeno grupo.
A Globo faz assim, tradicionalmente: cala quando a corrupção é
amiga. Na ditadura, quando a empresa virou um gigante, corrupção não existia,
numa troca macabra de favores.
Sob Sarney e FHC, amigos e aliados, também não. Para a Globo,
sequer a compra de votos da reeleição de FHC foi notícia.
Agora, o amigo Aécio também goza de imunidade. Que cobertura a
Globo deu ao aeroporto de Cláudio? E ao helicóptero com meia tonelada de pó dos
Perrelas, amigos fraternais de Aécio? A Globo é assim: também os amigos dos
amigos recebem tratamento especial.
A este tipo de comportamento delinquente jornalístico se junta o
descaro com que a Globo sonega – uma forma de corrupção que, se não combatida,
destrói a economia de qualquer país.
Claro que Lula não poderia também escapar da edição da entrevista.
Venina repete uma frase segundo a qual seu chefe, em certo
momento, teria olhado para um retrato de Lula e dito que ela estava colocando
em risco muita coisa.
Este alegado olhar numa alegada conversa é o bastante para a
Globo, na edição, incluir Lula na trama.
Lula, o espectador do Fantástico, não quis conceder entrevista
sobre o assunto.
Que a Globo esperava? Que ele dissesse que aquele não era seu
retrato? Que se o presidente fosse FHC jamais seria citado? Que a Globo devia
mostrar o Darf?
Fora isso, o que se viu foi o jornalismo preguiçoso e
declaratória. Venina diz que contratou os serviços da empresa do então namorado
e depois marido porque ela era realmente “boa”. Foram mais de 7 milhões de
reais para a empresa do namorado, sem licitação. Por que a Globo não foi
investigar a suposta excelência da empresa favorecida?
De novo: 600 milhões por ano em dinheiro público, via propaganda
federal, para a Globo fazer este tipo de jornalismo.
Você certamente conhece a tese da “servidão voluntária”, de um
grande amigo de Montaigne, La
Boetie.
Ele dizia que povo nenhum estava obrigado a aturar tirania
nenhuma. Bastava se insurgir.
O governo do PT, ao financiar por iniciativa própria a Globo et
caterva, pratica exatamente a servidão voluntária de que La Boetia falava.
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