A cretinização em marcha
Personagem das manifestações de 2013, o "Batman" tornou-se persona non grata nos protestos deste ano no Rio
“Nem de esquerda nem de direita”? Esqueça. Eron Melo é fã de Bolsonaro
De como a casa-grande e os sábios do jornalismo nativo apontam as soluções erradas para sair da crise
De Rodrigo Janot
cabe acentuar o correto desempenho, de sábia prudência, segundo Wálter
Fanganiello Maierovitch.
Na foto ao lado, o procurador-geral da
República sorri com bonomia, como se dissesse “não exagerem”. Reparo merece o
dizer do cartaz que Janot exibe para os fotógrafos. No caso, a esperança é
malposta.
Se indiciar um mero grupo de cidadãos
brasileiros acusados de corrupção, e até condená-los ao cabo do processo que se
seguirá, resolvesse o problema central e imediato do Brasil, a esperança teria
sentido. Não é assim, porém. A corrupção é mal antigo e crônico. O cartaz em
questão resulta da maciça campanha midiática urdida para desestabilizar o
governo, alimentada pelo ódio de classe antipetista e pela leviandade e má-fé
dos sábios do jornalismo nativo.
Este lamentável e forçado equívoco tem raízes. Por trás está a
parvoíce de um país que emburrece progressivamente. Não chamemos em causa o
povo, primeira vítima da corrupção e da prepotência da casa-grande, e sim
aqueles que encaram o mundo a partir do seu umbigo. E aqui CartaCapital não esmorece na denúncia das
responsabilidades do PT, a se mostrar incapaz de agir com independência e
criatividade em relação aos andamentos tradicionais.
Todos caem na armadilha que eles próprios montaram, encarada
paradoxalmente como única forma de exercício do poder. E é nesta moldura que se
agita a crença no impeachmentcomo
antídoto à crise, bem como na corrupção de alguns enfim punida, a confirmar a
cretinização em marcha, sem intenção de metáfora. Ideia que ecoa o passado para
propor o golpe em um país muito diferente daquele dos começos da década de 60
do século passado. Os marchadores do próximo dia 15 talvez apresentem algum
parentesco com aqueles de 51 anos atrás, mas o cenário é outro.
Punir a corrupção seria justo e salutar, e
emprego o condicional porque ainda aguardo o desfecho desse enredo. O qual está
longe de abarcar a corrupção em peso, os humores malignos que percorrem o
Brasil do Oiapoque ao Chuí, os maus hábitos mais ou menos generalizados,
macunaímicos. De todo modo, o problema central e imediato é a recessão que nos
aflige, em meio a uma situação mundial sombria ao extremo.
Há sinais de resistência à austeridade imposta pelos apóstolos do
neoliberalismo, nada, porém, indica mudanças profundas a curto prazo, em um
mundo que oferece acolhida bem menos generosa à soja e ao minério de ferro do
Brasil, eterno exportador decommodities. Sobram uma indústria
abandonada, o desemprego, a inflação, a penúria. O índice negativo do PIB.
Igual à comparação precipitada entre a Marcha da Família com Deus
e pela Liberdade e a manifestação do próximo dia 15, outra, francamente inadequada,
se dá entre a Operação Mãos Limpas, que mudou os rumos da política italiana, e
a Lava Jato. A Itália de 1990 era a quinta economia do mundo, sua indústria
gozava de boa saúde, a Justiça provava a sua eficácia e não havia um único,
escasso comunista envolvido no episódio, bem ao contrário dos petistas, que,
aliás, comunistas nunca foram.
Quando diz que a Mãos Limpas gerou Berlusconi, Lula não erra.
Sempre que o campo da política é devastado, na terra arrasada costumam surgir
os piores oportunistas. A Itália de então não precisava, porém, de um New Deal, como
sustenta CartaCapital, para sair da crise que no Brasil obscurece irremediavelmente os
efeitos positivos do governo Lula. E que se origina dos males de sempre,
repetidos ad infinitum, em uma sequência tão dolorosa quanto avassaladora.
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