AUDIÊNCIA DO JORNAL NACIONAL DESPENCA E É A MENOR DESDE A CRIAÇÃO DA REDE GLOBO
Se Mino Carta citou Jesus numa conversa sobre os protestos,
me sinto autorizado a fazer isso também.
Minha
citação é: “Não julgue para não ser julgado.”
Penso, especificamente, nas grandes empresas de jornalismo.
A Globo, por exemplo. Acaba de sair a notícia de que o
Jornal Nacional bateu na histórica marca de 20 pontos de Ibope – uma migalha
para quem já teve duas, três vezes isso.
Abaixo
dos 20, o dilúvio. (Atualização: uma
revisão do Ibope elevaria depois este número para 25, o que não muda nada na
vigorosa tendência de queda. Longe disso. O que se viu foi a Globo festejando a
medíocre marca de 25%, como time tradicional que escapa de rebaixamento.)
Nos mesmos dias, soube-se que Babilônia, a nova novela,
caiu vertiginosamente no espaço de uma semana.
E o BBB, como desgraças andam juntas, teve na semana
passada a pior sexta de sua existência no Brasil.
A Globo bate sucessivos recordes negativos.
E então vamos a meu ponto: de quem é a culpa?
Se você julgar a Globo como seus comentaristas julgam o
governo, a culpa é exclusivamente da própria Globo.
O diretor de telejornalismo Ali Kamel e o apresentador William
Bonner teriam que ser impiedosamente despedidos pelos números catastróficos da
audiência em sua gestão.
Na área de entretenimento, demissões sumárias teriam também
que ocorrer. Novelas que se esfolam para bater em 30 pontos são uma vergonha
para quem chegou a ter 100% dos televisores em últimos capítulos, como Selva de
Pedra.
Feitas as demissões, os irmãos Marinhos teriam que se
auto-substituir, como fez um jogador africano na Holanda depois de uma vaia
interminável de sua própria torcida.
Atribuir a outras coisas?
Veja como a Globo lida com isso quando Dilma coloca o
Brasil dentro de um contexto de crise global.
Pergunte a Kamel, ou a Bonner, ou a Míriam Leitão, ou a
Merval, ou a quem for, qual a causa da derrocada das audiências da Globo – não
apenas na tevê, mas em mídias como jornal, revista e rádio.
Ninguém, com certeza, dirá que a responsabilidade é da
própria Globo. Ninguém admitirá falta de qualidade nos telejornais, ou nas
novelas, ou na falta de capacidade de inovar na administração e nos produtos.
A culpa está lá fora.
Da mesma forma, pergunte aos Civitas como a Abril, em tão
pouco tempo, se tornou uma empresa morta em vida.
Gestão ruinosa? Conteúdos desvinculados do espírito do
tempo? Más escolhas, como Fabio Barbosa?
Mais uma vez, o problema está lá fora.
Muito bem. Por que circunstâncias externas valem para as
empresas, e só para elas?
Todos
sabem as restrições editoriais que faço à Globo e à Abril, e trabalhei nelas
tempo suficiente para saber que não são
administradas com excelência. (É o lado B de empresas que gozam de reserva de
mercado e outras mamatas. Como filhos mimados, têm dificuldade em se virar fora
de ambientes protegidos.)
Mas, com tudo isso, é inegável que o mundo externo responde
e muito pela crise que Globo e Abril enfrentam.
A internet transformou seus produtos em velharias.
Mesmo que a Globo fizesse o melhor jornalismo do mundo, uma
coisa do padrão da BBC, e ainda que a Abril fosse administrada por Rupert
Murdoch, as coisas continuariam complicadas, dado o poder disruptivo da
internet.
A situação do Brasil é bem menos grave do que a da Abril e
a da Globo. Como a agência de avaliação de risco S&P avaliou ontem, o
Brasil continua a ser um bom porto para os investidores.
A economia, previu a S&P, deve ter um soluço em 2015,
uma queda de 1% no PIB, para voltar a crescer 2% em 2016.
Se Dilma for hábil em poupar os mais desfavorecidos, não
haverá grandes problemas sociais – ou mesmo pequenos.
De novo: as empresas de mídia enfrentam desafios
imensamente maiores que os do Brasil. A rigor, o cemitério as aguarda, a alguns
quarteirões de distância.
Tudo isso considerado, seria uma injustiça atribuir o drama
delas apenas a elas mesmas.
É o que elas fazem ao examinar as dificuldades econômicas
do momento. Tudo culpa do governo, segundo elas.
Isso mostra cinismo, falta de visão e – a palavra é dura,
mas não há outra mais precisa – um tipo de canalhice que faz você não lamentar
o estado terminal em que elas se encontram.
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