O trem fantasma na festa de aniversário de Marta Suplicy
Maquinistas do terror
Marta
Suplicy ainda é filiada ao PT mas anunciou que sairá da legenda em breve.
Disse, no jantar em que comemorou seus 70 anos, que irá para o PSB “no momento
em que o novo partirdo achar adequado.” Marta também deixou claro em papos com
os convivas que tem medo de perder seu mandato de senadora, que vai até 2019.
Os jantares organizados pela família Suplicy sempre foram
famosos por reunir quatrocentões, artistas, intelectuais e homens poderosos de
São Paulo e lideranças políticas que emergiam da luta sindical. Desta vez,
porém, a atração foi uma outra turma. E que turma.
Começamos por José Sarney, cujo último grande lance
político foi ser flagrado votando em Aécio Neves enquanto carregava um adesivo
de Dilma Rousseff no peito.
Quem estava lá registrou a seguinte situação: Roberto
Freire, presidente do PPS e Sarney estavam frente à frente. Freire estica os
olhos para uma bandeja de canapés que passa ao longe. Sarney se irrita. Decide
chamar a atenção do pernambucano e por isso puxa o assunto do momento: governo
Dilma. Daqui por diante, como saiu publicado no Estadão: “Como você está vendo
o quadro?”, perguntou Sarney. “Este governo não tem capacidade para se
recuperar”, respondeu Freire. Fim de papo.
Também estava lá – e não devolvendo o processo sobre
financiamento de campanhas com o dinheiro de empresas, em sua mesa há mais de
um ano – o ministro Gilmar Mendes. Entre uma empada de camarão e outra, Mendes
falava sobre a possibilidade de Marta perder o mandato. Ele disse que não há
precedentes do TSE sobre senadores que perderam o cargo ao mudar de partido mas
que o PT poderia pedir o cargo de volta. Aí Marta precisaria de ajuda.
Ajuda esta que se materiliazava numa figura de barba e
cabelos desgrenhados: Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de
Roberto Carlos, Roseana Sarney e qualquer político, desde que esteja enrolado.
Apareceu por lá e confraternizou com toda a turma. Kakay ia de mesa em mesa com
um “meme” sobre ele que circula na internet: uma foto sua de sorriso aberto
acompanhada da frase “Saiu a lista do Janot”. Muito engraçado.
Quem também apareceu? Naji Nahas, como não? Ele, o
empresário que sozinho quebrou a bolsa do Rio em 1989 (e foi condenado a 24
anos de prisão e não cumpriu nenhum), protagonista nas investigações da
operação Satiagraha e dono do terreno da favela do Pinheirinho, cuja
reintegração de posse deixou 1.500 famílias na rua em 2012.
Michel Temer também foi dar seus parabéns, e também
conversar um pouco, não é mesmo? Porque conversar não faz mal. O PMDB disse que
vai apoiar Haddad em 2016. Mas tudo pode mudar, não é? Marta já é dada como
certa como candidata do PSB para o mesmo pleito. O PMDB foi ser PMDB, enfim.
Outras presenças notáveis: o vice-governador do estado Marcio
França, o ex-ministro auto-incendiário Nelson Jobim, Thereza Collor e o marido,
o cabeleireiro Celso Kamura (que também acerta o cabelo de Dilma; resta saber
se o salão dele não ficará pequeno demais para as duas). O delegado Antonio de
Olim foi outro cuja foto apareceu na galeria. É aquele que foi denunciado, no
ano passado, pela corregedoria da Polícia por carregar numa viatura o
jornalista César Tralli para tomar café. E uma penca de caciques do PSB que
foram cumprir sua função de receber a nova contratação do time.
Enfim: neste link você pode ver tudo com os próprios olhos.
Talvez encontre mais alguns personagens fascinantes que este colunista não viu.
Ou, faça melhor: acesse um desses sites de fofoca e clique
nas fotos da última festa de Paris Hilton. A essa altura, cenário e clima de
ostentação são os mesmos. É desolador que o caminho político da senadora no
partido socialista comece nos salões de um hotel suntuoso e em meio a velhas e
sagradas múmias da política. Ao menos, a senadora parecia relaxada e pronta a
gozar de sua nova posição. Como escreveu Jean Genet: “Quem nunca viveu o êxtase
da traição, não sabe nada sobre o que é o êxtase.”
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