O longo trabalho de destruição do Brasil
Quando era guri, nos tempos da ditadura,
brincava-se com aquelas previsões catastrofistas que criaram o clima político
para a implantação da ditadura militar.
“O
Brasil está à beira do abismo”, diziam.
Ao
que se respondia: “e sabem porque não cai nele? Porque é maior que o abismo”.
A
lembrança ocorreu-me ao ler mais um dos infindáveis “Boletim Focus” onde
empresários prevêem, como sempre, mais inflação e menos crescimento econômico.
Menos
crescimento (e até recessão), entende-se, porque a política de cortes, cortes e
mais cortes que pediam, foi, afinal, atendida com a ascensão de Joaquim Levy ao
Ministério da Fazenda.
E cortes são mesmo necessários – numa dose
que cure o paciente, não que o mate – em certos momentos da administração
econômica, porque todo ciclo expansionista tende, por sua própria dinâmica, a
“engordar” despesas, tal como a prosperidade e o tempo vão criando “pneuzinhos”
nas pessoas.
Mas o
Dr. Joaquim e toda a ortodoxia econômica devem estar pensando, a esta hora em
seus manuais que apontam a queda da inflação como resultado “automático” da
dupla Juro Alto+ Superávit Fiscal, integrantes daquele famoso “tripé
macroeconômico”.
O que
não está previsto no manual neoliberal, porém, é o custo para a economia do
processo político que dela nunca se descola.
E o
fato é que o Brasil passou a viver, desde o Governo Lula, sob o terrorismo
da mídia, num processo que recrudesceu após a eleição de Dilma Rousseff.
Nos
tempos de afluxo econômico, seu efeito era pequeno.
Todas
as tentativas de fazer a economia responder positivamente aos estímulos do
Governo Federal (desoneração tributária, redução das tarifas elétricas – 50% do
consumo é industrial – preços de combustível, etc) resultou em muito pouco –
daí a expressão grosseira, simplista, mas não completamente de lógica do
Ministro da Fazenda – por diversos fatores e não é desprezível aquele que
representa a competição entre o ganho da atividade produtiva comparado ao da
financeira, esta santa intocável de nosso altar.
Mas
há mais, muito mais.
O
Brasil deixou de ter uma postura comercial agressiva – e é difícil tê-la, numa
economia mundial estagnada, o preço das commodities caiu a níveis da crise de
2008 e a seca criou um impasse nos custos de produção de energia, cujos reajustes,
agora, põem mais lenha na fogueira da inflação.
Com
um cenário econômico no qual uma semiparalisia da Petrobras (o setor de
petróleo e gás representa 13% do PIB) e a eventual qubradeira das empreiteiras
da construção civil, setor que movimenta outros 10% do Produto Interno
Bruto, acrescentam-se fatores de perversa retração que são o “sonho de
consumo” dos “atiradores do Brasil no abismo”.
Aquela
história de “Fim do Brasil” nosso “Exército Islâmico da Economia”,
que decapita quem não aceita quem não aceita seu corão ortodoxo, não é uma
brincadeira de imbecis, não. É o que lhes restou como forma de solapar um
projeto nacional.
O Dr.
Joaquim Levy, homem esperto que é, deve estar observando que aqueles que o
aplaudiam como “salvador” já começam a torcer o nariz.
A
Folha, hoje, o ataca em dose dupla.
Dois
artigos dizem que ele está “desgovernado”
e que lhe cabe anunciar “o fim do PAC“,
isto é de todas as intervenções desenvolvimentistas no Brasil.
Ou,
falando mais claro, com qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo do
país.
Recomenda-se
ao Dr. Joaquim, portanto, todos os dias, olhar-se ao espelho e perguntar-se:
quem elegeu o Governo que me nomeou?
Porque
aquela famosa frase do “é a economia, estúpido” que James Carville, assessor de
Bill Clinton, tornou famosa tem, claro, mão dupla.
Ah,
em tempo – eu ia me esquecendo – o Brasil não cairá no abismo porque é maior
que ele. E que todos eles.
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