Renato Janine: “Preguiçoso”, PSDB quer chegar ao poder via impeachment
Da
Redação
O professor de ética e filosofia política da Universidade
de São Paulo, Renato Janine, deu uma entrevista ao jornal A Tarde, da Bahia, na
qual tocou em alguns pontos fundamentais do “programa” — ou falta de — da
oposição brasileira.
Em
outras palavras, mira numa certa malemolência que faz a oposição abdicar de
apresentar um projeto de país distinto daquele perseguido pela coalizão
governista.
O
PSDB ressuscita o discurso da UDN, que tanto pode levá-lo ao poder quanto
desembocar na ditadura, se o povo que for às ruas não estiver disposto a ouvir
FHC e os tucanos de alta plumagem.
Abaixo,
um resumo do que entendemos serem os pontos altos da entrevista:
Como
a presidente Dilma Rousseff pode sair da crise política?
Estamos
numa situação política muito complicada, pois é muito difícil saber o que
efetivamente está acontecendo nos bastidores. No Brasil o discurso padrão sobre
a política é o do ataque ao adversário como corrupto. O golpe de 64 foi fruto
de vinte anos desse tipo de discurso, que é muito parecido ao de hoje contra o
PT. Por outro lado, o PT também usou esse discurso na oposição. E uma das
críticas que faço ao PT é que ele, uma vez no governo, ter deixado de lado o
discurso ético. Ele entregou o discurso ético de bandeja para o PSDB. O slogan
de Geraldo Alckmin em 2006, “por um Brasil descente, Alckmin para presidente”
jamais poderia ser usado contra o PT antes disso. Então, houve uma inversão de
posições pelo qual o PT, que é um partido ético por excelência (tão ético que
as pessoas achavam que ele não tinha condições de governar, pois era um bando
de lunáticos), se tornou um partido, na opinião de muitos, que se aproximou da
corrupção e da desonestidade.
Que
ela [Dilma] estaria envolvida com a corrupção…
Nada.
Você só tem um monte de rumores que você não sabe o que são. Estamos na
dependência do que o Procurador-Geral da República vai dizer. Espera-se que ele
seja correto, que não faça manipulação de nada. Então, é um situação complicada
até porque a oposição está escolhendo um caminho fácil, preguiçoso, que é fazer
uma acusação policial. O difícil é a oposição fazer um projeto político, porque
a oposição perdeu quatro eleições sucessivas (para presidente) por falta de um
projeto político bom, não foi capaz de conquistar a maior parte da população
brasileira, mesmo com um gigantesco apoio da mídia, uma campanha enorme de
desconstrução do governo petista. Não ganhou as eleições, mas está se
comportando como se tivesse vencido, como se não precisasse fazer uma
auto-revisão. A preguiça significa “não vamos tentar mudar nada, vamos deixar
tudo como esta que o poder vai cair na nossa mão”.
Quer
o vácuo de poder para entrar…
Hoje
o Aécio Neves ganharia. Agora, se o Aécio tivesse vencido a eleição e houvesse
novo pleito agora talvez Dilma ganhasse. Ou seja, quem tem o poder tem um
desgaste no início do ano. O curioso é que o PSDB está na campanha para tirar a
Dilma já. Ora, ela tem um mandato de quatro anos. É ela ou (Michel) Temer. Ou
pior, o (deputado) Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados, o
terceiro na linha de sucessão). Há uma ordem constitucional, então não adianta
gritar muito. Indo muito longe na denúncia policial, a oposição ao mesmo tempo
se dispensa de fazer autocrítica, de fazer um projeto para o Brasil e coloca um
risco muito grande, de lançar o Brasil numa aventura. Qual é a aventura? A meta
é colocar Temer como uma espécie de Itamar (Franco) contra o PT? Mas o Itamar
foi contra o Fernando Collor que não existia, era uma bolha de ar que tinha
acusações sérias de crimes. Será que o PSDB só chega ao poder pelo impeachment?
PSDB
e outros partidos estão convocando manifestações de rua pró-impeachment. O
senhor acha que eles tem capacidade de mobilização?
Pode
até ser. Mas o que o PSDB quer é assumir o poder antes da data constitucional.
E a única forma que eles tem para isso é conturbando a vida social e isso é
muito complicado até porque eu acredito que o empresariado não queira isso. O
empresariado não gosta de Dilma. Há um ano aceitaria Lula de bom grado, hoje o
empresariado não quer mais saber do PT. Contudo, não apoiaria a instabilidade.
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