SETE MENTIRAS: INSTITUTO LULA DESMONTA O JORNALISMO PRATICADO PELA REVISTA ÉPOCA
NOTA
À IMPRENSA
São
Paulo, 4 de maio de 2015,
A
revista Época, em nota assinada pelo seu editor-chefe, Diego Escosteguy, na
sexta-feira (1), reafirmou o que está escrito na matéria “Lula, o operador”,
como sendo correto e verdadeiro. Como a nota do seu editor é uma reiteração de
erros cometidos pela revista, apontamos aqui as 7 principais dentre as muitas
mentiras da matéria de Época.
Primeira
mentira – dizer que Lula está sendo investigado pelo Ministério Público.
A
Época afirma que o Ministério Público abriu “uma investigação” na qual o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria “formalmente suspeito” de dois
crimes. Época não cita fontes nem o nome do procurador responsável pelo
procedimento.
O
Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República do Distrito Federal
não abriu qualquer tipo de investigação sobre as atividades do ex-presidente
Lula. O jornal O Globo, do mesmo grupo editorial, ouviu a propósito a
procuradora Mirella Aguiar sobre o feito em curso e ela esclareceu: há um
“procedimento preliminar”, decorrente de representação de um único procurador,
uma “notícia de fato”, que poderá ou não desdobrar-se em investigação ou
inquérito, ou simplesmente ser arquivada.
A
mesma diferenciação foi observada pelo jornal The New York Times e pela agência
Bloomberg. O The New York Times chamou de “preliminary step” (um passo
preliminar) e não de investigação.
Isso
não é um detalhe, e para quem preza a correção dos fatos, faz diferença do
ponto de vista jurídico e jornalístico.
Ao
publicar apenas parcialmente o cabeçalho de um documento do MP, sem citar os
nomes do procurador Anselmo Lopes, que provocou a iniciativa, e da procuradora
Mirella, que deu prosseguimento de ofício, e sem mostrar do que realmente se
trata o procedimento, Época tenta enganar deliberadamente seus leitores.
Segunda
mentira – Lula seria lobista
No
início da matéria a revista lembra um fato: Lula deixou o poder em janeiro de
2011 com grande popularidade e desde então, não ocupa mais cargo público.
Segundo a revista, Lula faria lobby para privilegiar seus “clientes”. Que fique
bem claro, como respondemos à revista: o ex-presidente faz palestras e não
lobby ou consultoria.
A
revista Época colocou todas as respostas das pessoas e entidades citadas nas
suas ilações no fim da matéria, que não está disponível na internet. Por isso
vale ressaltar trecho da resposta enviada pelo Instituto Lula:
“No
caso de atividades profissionais, palestras promovidas por empresas nacionais
ou estrangeiras, o ex-presidente é remunerado, como outros ex-presidentes que
fazem palestras. O ex-presidente já fez palestras para empresas nacionais e
estrangeiras dos mais diversos setores — tecnologia, financeiro, autopeças,
consumo, comunicações — e de diversos países como Estados Unidos, México,
Suécia, Coreia do Sul, Argentina, Espanha e Itália, entre outros. Como é de
praxe as entidades promotoras se responsabilizam pelos custos de deslocamento e
hospedagem. O ex-presidente faz palestras, e não presta serviço de consultoria
ou de qualquer outro tipo.”
Os
jornalistas Thiago Bronzatto e Felipe Coutinho, que assinam o texto, chamam
Lula de “lobista em chefe”. A expressão, além de caluniosa, não condiz com a
verdade, e revela o preconceito e a ignorância dos jornalistas de Época em
relação ao papel de um ex-presidente na defesa dos interesses de seu país.
O
que Lula fez, na Presidência e fora dela, foi promover o Brasil e suas
empresas. Nenhum presidente da história do país liderou tantas missões de
empresários ao exterior, no esforço de internacionalizar nossas empresas e
aumentar nossas exportações.
Terceira
mentira – sobre as viagens de Lula
A
“reportagem” de Época não tem sustentação factual. A revista afirma que nos
últimos quatro anos Lula teria viajado constantemente para “cuidar dos seus
negócios”. E continua: “Os destinos foram basicamente os mesmos — de Cuba a
Gana, passando por Angola e República Dominicana.”
Vamos
deixar bem claro: o ex-presidente não tem nenhum negócio no exterior. E, ao
dizer “a maioria das andanças de Lula foi bancada pela construtora Odebrecht”,
mente novamente a revista. Não é verdade que a maioria das viagens do
ex-presidente foi paga pela Odebrecht. Repetimos trecho da nota enviada para a
revista: “O ex-presidente já fez palestras para empresas nacionais e
estrangeiras dos mais diversos setores — tecnologia, financeiro, autopeças,
consumo, comunicações — e de diversos países como Estados Unidos, México,
Suécia, Coreia do Sul, Argentina, Espanha e Itália, entre outros. Como é de
praxe as entidades promotoras se responsabilizam pelos custos de deslocamento e
hospedagem.”
Mesmo
sem ter obrigação nenhuma de fazê-lo, as viagens do ex-presidente estão
documentadas no site do Instituto Lula e as suas viagens ao exterior foram
informadas à imprensa.
De novo, diferente do que diz a revista, depois que deixou
a Presidência, Lula viajou para muitos países, e o mais visitado foi os Estados
Unidos da América (6 viagens), onde entre outras atividades recebeu o prêmio da World Food Prize , pelos seus esforços de combate à
fome, em outubro de 2011, e do International Crisis Group, em abril de 2013,por ter impulsionado o Brasil em uma nova era econômica e política.
Nos
EUA encontrou-se ainda, por duas vezes, com o ex-presidente Bill Clinton — que
também tem o seu instituto e também faz palestras.
Dois
países empatam no segundo lugar de mais visitados por Lula após a presidência:
o México e a Espanha (5 visitas cada um).
No México, além de proferir palestras para empresas do
país, Lula recebeu o prêmio Amalia Solórzano, em outubro de
2011 e lançou, junto com o presidente Peña Nieto, a convite do governo
mexicano, um programa contra a fome inspirado na experiência brasileira.
Na Espanha, Lula recebeu os prêmios da cidade de Cádiz, o prêmio internacional da Catalunha, e o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Salamanca.
Os
leitores que eventualmente confiem na Época como sua única fonte de informação,
não só não foram informados desses prêmios, como foram mal informados sobre as
atividades do ex-presidente no exterior.
Sobre
os países citados pela revista, Lula esteve, desde que saiu da presidência,
três vezes em Cuba, duas em Angola, e somente uma vez em Gana e na República
Dominicana, os dois países mais citados na matéria.
A
revista diz serem “questionáveis” moralmente as atividades de Lula como
ex-presidente.
Em primeiro lugar, como demonstrado acima, a revista está
mal informada ou informando mal sobre tais atividades (provavelmente os dois).
Por exemplo, a revista acha moralmente questionável organizar, na Etiópia, um Fórum pela Erradicação da Fome na África, junto com a FAO e a União
Africana?
Esse evento não foi noticiado pela Época, nem pela Veja.
Mas foi noticiado pelo jornal britânico The Guardian (em inglês).
Ou em Angola, país citado pela Época, a revista acha moralmente questionável fazer uma grande conferência,
para mais de mil representantes do governo, do congresso, de partidos políticos
e de ONGs, além de acadêmicos e jornalistas angolanos, reunidos para ouvir
sobre as políticas públicas de Angola e do Brasil para reduzir a pobreza e
promover o desenvolvimento econômico?
Ou em Gana participar de um evento organizado pela ONU, lotado e acompanhado pela mídia local, novamente sobre
combate à fome?
Parafraseando
a revista, moralmente, o jornalismo de Época, que mente para seus leitores
desde a capa da revista, é questionável. Mas será que à luz das leis
brasileiras, há possibilidade de ser objeto de ação judicial?
Quarta
mentira – sobre a visita de Luiz Dulci à República Dominicana
A
revista Época constrói teorias malucas não só sobre as viagens do
ex-presidente, mas questiona e faz ilações também sobre a visita do ex-ministro
e diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci, à República Dominicana em novembro de
2014. A revista foi informada, e publicou que o ex-ministro viajou ao país para
fazer uma conferência, mas não que era sobre as políticas sociais brasileiras.
Deu entrevistas à imprensa local e foi convidado pelo presidente Medina para
uma conversa sobre as políticas sociais brasileiras, das quais o presidente
dominicano é um admirador.
A
revista registrou apenas como “versão” que Dulci foi convidado pelo Senado do
país. Todos os documentos do convite e da viagem estão disponíveis para quem
quiser consultá-los. O que a revista não fez antes de se espantar com o
interesse no exterior sobre os êxitos do governo Lula.
Quinta
mentira – a criminalização da atividade diplomática do Brasil em Gana
Época
relaciona como denúncia “dentro de um padrão”, um comunicado diplomático feito
pela embaixada brasileira no país um ano antes de Lula visitar Gana, enviado em
30 de março de 2012. Lula esteve em Gana apenas um ano depois de tal
comunicado, em março de 2013. É importante lembrar aos jornalistas
“investigativos” da Época, que em março de 2012, Lula estava se recuperando do
tratamento feito contra o câncer na laringe, que havia sido encerrado no mês
anterior.
Quanto
ao telegrama de Irene Gala, embaixadora do Brasil em Gana, a resposta do
Itamaraty colocada no fim do texto da Época, malandramente longe da ilação
contra a diplomata, é cristalina sobre não haver qualquer irregularidade nele:
“O Itamaraty tem, entre as suas atribuições, a atuação em favor de empresas
brasileiras no exterior. Nesse contexto, a realização de gestões com vistas à
realização de um investimento não constitui irregularidade.”
É
lamentável que o grau de parcialidade de certas publicações tenha chegado ao
ponto de tentar difamar funcionários públicos de carreira por simplesmente
fazerem o que é parte de suas atribuições profissionais.
Seria
como criticar uma embaixada brasileira por dar apoio a um jornalista da Época,
uma empresa privada, quando o mesmo estivesse em visita a um país.
Sexta
mentira – a criminalização do financiamento à exportação de serviços pelo
Brasil
A
revista criminaliza e partidariza a questão do financiamento pelo BNDES de
empresas brasileiras na exportação de serviços. É importante notar que esse
financiamento começou antes de 2003, ou seja, antes do governo do ex-presidente
Lula.
Sobre o tema, se pronunciou o BNDES em comunicado,
e também a Odebrecht.
A questão foi analisada em textos de Marcelo Zero e Luís Nassif, que lembrou que a publicação irmã de
Época, Época Negócios, exaltou a internacionalização das empresas brasileiras
em outubro de 2014.
Sétima
e maior mentira – o “método jornalístico” de Época
Bolsas de estudo pomposas nos Estados Unidos pagas por institutos
conservadores valem
pouco se o jornalismo é praticado de maneira açodada, com má vontade e
parcialidade, de uma forma mentirosa.
Não
é a primeira vez que o Instituto Lula, ou outras pessoas e entidades tem
contato com o método “Época” de jornalismo (que não é também exclusivo desta
revista). Resumindo de forma rudimentar, o método constitui na criação de
narrativas associando fatos, supostos fatos ou parte de fatos que não têm
relação entre si, e que são colados pelo jornalista, construindo teorias sem
checar com as fontes se a realidade difere da sua fantasia.
Poucas
horas antes do fechamento, quando pelos prazos de produção jornalística
provavelmente a matéria já está com as páginas reservadas na revista, capa
escolhida e infográficos feitos, o repórter entra em contato, por e-mail, com
as pessoas citadas na matéria.
Em
geral sem contar sobre o que realmente o texto se trata (Época não perguntou ou
mencionou a iniciativa do Ministério Público). Não há interesse real em
verificar se as acusações, em geral muito pesadas, se sustentam e justificam o
espaço dado ao assunto ou o enfoque do texto.
Mesmo
que a tese do jornalista não se comprove, a matéria não será revista e será
publicada. Na “melhor” das hipóteses, as respostas das pessoas e entidades
envolvidas serão contempladas ao final da matéria, e este trecho não será
disponibilizado online (e muitas vezes não é visto com cuidado por jornalistas
de outros veículos que dão a “repercussão” do fato).
É
feito assim, primeiro porque a revista não teria nenhuma matéria para colocar
no lugar, e segundo porque isso poderia afetar o impacto político, bem como a
repercussão em outros órgãos de imprensa e nas mídias sociais.
Foi
exatamente isso que a Época fez. Contatou o Instituto Lula, a partir de
Brasília, três horas antes do fechamento. Haviam duas opções: falar por
telefone ou por e-mail.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para
registrar inclusive as perguntas e respostas à revista, optou por responder por
e-mail, lamentando que não houve a possibilidade de esclarecer as dúvidas da
revista pessoalmente.
É
importante registrar que Época ou não ouviu, ou não registrou o outro lado de
todos os citados na matéria. Cita e publica fotos de dois chefes de Estado
estrangeiros, John Dramani Mahama, de Gana, e Danilo Medina, da República
Dominicana, ambos eleitos democraticamente e representantes de seus respectivos
países. E não os ouve, nem suas embaixadas no Brasil.
Mais absurdo ainda porque, em tese, a revista Época
deveria seguir os “Princípios Editoriais do Grupo Globo”, do qual faz parte, e que foram anunciados para milhões de brasileiros, no Jornal Nacional.
Como
a revista não parece respeitar o jornalismo, diplomatas, chefes de estado
dominicanos ou ganenses, ou ex-ministros e ex-chefes de estado brasileiros,
melhor lembrar a recomendação de um norte-americano, Joseph Pulitzer, sobre os
danos sociais da má prática jornalística. “Com o tempo, uma imprensa cínica,
mercenária e demagógica formará um público tão vil quanto ela mesma.”
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