Castañon afasta-se do PSB: Marina Silva está em liquidação
Marina Silva, em eterna mudança...
Em sua
coluna no blog Quem tem medo da democracia?, Gustavo
Castañon*, doutor em Psicologia e professor de Filosofia na UFJF, filiado ao
PSB desde 2001, anuncia que entrega seu pedido de desfiliação do PSB "e
cerro fileiras contra essa terrível mudança que ameaça nosso país. Não é
possível submeter o Brasil a essa catástrofe. Marina Silva é uma alma em
liquidação". Segue abaixo a íntegra do artigo:
“Há um
sentimento de mudança no ar. Os 12 anos de governo do PT desgastaram o partido
na opinião pública. É natural. As contradições inevitáveis do exercício do
poder, a relação com um congresso fisiológico, os interesses contrariados, os
acordos inerentes à democracia, os escândalos. É mesmo surpreendente que chegue
ao cabo desse período ainda como o partido de um quarto dos brasileiros e tendo
o voto de metade deles.
Nesse cenário, surge a candidatura de Marina Silva, que encarna, sem sombra de
dúvidas, a mudança, como provarei com os links abaixo. A começar pela mudança
do cenário eleitoral. Depois de um suspeito desastre de avião (que alguns
acreditam se tratar de assassinato), Marina assumiu o lugar de Eduardo Campos
como a candidata do PSB à Presidência.
O compromisso de Marina com a mudança não é recente. Ele já se deixava sentir
quando ela mudou de religião há poucos anos, abandonando o catolicismo de opção
pelos pobres e abraçando o fundamentalismo da Assembleia de Deus, que tem entre
seus quadros Silas Malafaia e Marcos Feliciano, e acredita que discursos
inflamados e emissões vocais desordenadas são manifestações do próprio Espírito
de Deus.
Depois Marina mais uma vez mudou quando saiu do PT por ter sido preterida na
disputa interna do partido pela candidatura à Presidência. Desde então ela
iniciou um processo de mudança de crenças políticas que a tornou uma opção para
os grandes meios de comunicação, os bancos e a classe média alta.
Primeiro mudou-se para o PV, ganhou apoio do Itaú, finalmente concorreu à
Presidência, perdeu, mas não desanimou. Tentou mudar o então partido
assumindo-lhe o controle, mas como não conseguiu, mudou de novo e tentou criar
a Rede. Também não conseguiu apoio suficiente para criar um novo partido,e
então mudou-se, de novo, para o PSB.
A ecologista aproveitou a mudança e mudou-se para um apartamento em São Paulo , de um
fazendeiro do DEM.
Num golpe de sorte, também mudou de ideia na última hora e não embarcou com
Eduardo no jato que o matou. Logo depois da tragédia, Marina mudou do papel de
vice para o de viúva, declarando ter sido consolada da morte de Campos pela
própria esposa dele. Com a má repercussão da declaração, ela mudou de postura e
apareceu sorridente em seu velório posando para fotos ao lado de seu caixão.
E a mudança não parou mais. Mudou o CNPJ da campanha para não ser
responsabilizada pelas irregularidades do jato fantasma de sua campanha nem
indenizar as famílias atingidas pela tragédia. A pacifista mudou seu
compromisso da “Rede” que proibia os candidatos pela legenda de receber doações
de indústrias de agrotóxicos, de armas e de bebidas, e compôs chapa com o
deputado federal Beto Albuquerque, político integrante da “bancada da bala”,
financiada pela indústria bélica. Ele também é financiado por fabricantes de
bebidas e agrotóxicos.
E mais mudança veio com um programa de governo que contrariava toda a sua
história.
Prometeu ao Brasil a volta da gestão econômica do PSDB. Mudou a sua posição
contrária à independência do Banco Central para garantir o apoio dos bancos
brasileiros.
Mais do que isso, prometeu mudar a legislação trabalhista promovendo a
terceirização em massa, e prometeu acabar com a obrigatoriedade de função
social de parte do crédito bancário,enterrando o crédito imobiliário. Mas isso
não era mudança suficiente. Depois de quatro tuítes de Silas Malafaia mudou a
mudança do programa e se declarou contra o casamento gay.
Depois de um editorial do Globo,
também mudou a sua posição sobre o pré-sal, que prometera abandonar, e depois,
mudou a posição sobre a energia nuclear. Depois de uma vida de batalha contra
os transgênicos, Marina, pressionada pelo agronegócio, também mudou e afirmou
que sua posição histórica era uma ‘lenda”.
Mudou também sobre a transparência política. O ministro Palocci caiu por não
revelar os nomes das empresas que contrataram seus serviços antes do governo.
Mas ela, hoje candidata, se nega a dizer a origem de 1,6 milhões de seus rendimentos,
e declarou um patrimônio de somente R$ 135 mil ao TSE. Uma senadora da
República.
Finalmente, na semana passada, Marina mudou sua opinião sobre a tortura, que
antes considerava crime imprescritível, e passou a ser contrária a revisão da
lei de anistia.
Dois dias depois, ganhou o apoio do Clube Militar. Marina muda tanto que acabou
por declarar seu programa de governo todo em processo de revisão. Isso é
realmente novo na política. Ela é a primeira candidata da história do Brasil
que descumpre seu programa de governo antes de chegar ao poder.
Por tudo isso, não restam dúvidas que Marina é a candidata da mudança. Ela muda
sem parar. Essa é sua “Nova Política”, uma mudança nova a cada dia. Não é
possível acompanhar a labilidade de seu caráter ou de sua mente. Ou ela mente.
Não importa. O que importa é que Marina representa a mudança, a mudança de um
Brasil aberto e tolerante para um Brasil refém da intolerância fundamentalista,
de um Brasil voltado para sanar sua dívida com seu povo pobre para um Brasil
escravo de seus bancos, de um Brasil democrático para um Brasil mergulhado em
crise institucional.
Por isso eu mudei também. Entrego essa semana meu pedido de desfiliação do PSB
e cerro fileiras contra essa terrível mudança que ameaça nosso país. Não é
possível submeter o Brasil a essa catástrofe. Marina Silva é uma alma em liquidação. Por um
bom acordo eleitoral vende qualquer convicção. Mas aproveitem logo. Essa
promoção é por tempo limitado.
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