Marina Silva, do velho poder colonial ao capitalismo verde





Feldman ensina, Marina aprende.




Ao deparar-me com essa fotografia em que Marina Silva escuta Fabio Feldman (SP) lembrei-me  imediatamente   do livro de Frantz Fanon intitulado   Pele negra máscaras brancas.  Particularmente da introdução feita por Samir Amin em uma edição de 2009 intitulada Piel negra máscaras blancas (Ediciones Akal, Madrid, España). Ao tratar das relações entre colonialismo interno e externo, Samir Amin afirmava o seguinte: “Os fenômenos de colonialismo interno se produzem pelas combinações particulares da colonização da população, por uma parte, e a lógica da expansão imperialista, por outra” (Amin, 2009; 5).

Na condição de senadora e em seguida na de ministra do Meio Ambiente, Marina Silva transitou com mais intensidade e desenvoltura em redes transnacionais vinculadas aos “negócios ambientais” e ao mundo das finanças, bem como aquelas ligadas à esfera religiosa. A conversão ao Neopentecostalismo parece decisiva na assunção do papel que passou a cumprir na reprodução do velho poder colonial.

No exercício do primeiro mandato de senadora (1995-2002), o seu gabinete teve papel ativo nas estratégias de atuação do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais(PPG7) junto a “sociedade civil” na Amazônia.

O seu marido, Fabio Vaz, foi coordenador (1996-99) do Grupo de Trabalho Amazônia (GTA) , ONG criada por iniciativa do Banco Mundial para servir de mediadora,  como representante da  “sociedade civil” nesse Programa gerenciado pelo referido Banco.

Entre outros feitos, o GTA articulado com grandes ONGs ambientalistas internacionais, atuou decisivamente na  cooptação do Conselho Nacional dos Seringueiros e outras centenas de organizações sindicais e não sindicais atuantes na esfera da sociedade civil.  Os resultados dessa política são bastante conhecidos, conforme mostramos em diversas publicações, como a indicadaneste link.

Nos seis anos que ocupou o cargo de ministra do Meio Ambiente, Marina não mediu esforços para institucionalizar a agenda do capitalismo verde.  O Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi transformado em uma “trincheira institucional” por grandes ONGs internacionais, como a WWF e promoveu avanços consideráveis na atualização dos colonialismos interno e externo na Amazônia, como ilustra a arquitetura do Plano Amazônia Sustentável (PAS), acalentado carinhosamente por Marina como “sua criação”.

Sob a gestão de Marina no MMA, os servidores do IBAMA conheceram de perto sua “nova política”, quando realizaram uma greve contra o desmonte do órgão levado a cabo via Medida Provisória. As intenções com essa medida foram claramente facilitar o licenciamento para os grandes projetos e potencializar as politicas de privatização dos bens comuns.

O caso mais emblemático dessa privatização dos bens comuns foi a iniciativa de encaminhar para o Congresso e aprovar em tempo recorde (um ano)a Lei 11284/2006 que instituiu o regime de concessão de florestas públicas para fins de exploração privada. Estamos tratando de algo em torno de 50 milhões de hectares de florestas na Amazônia.

Além desse presente para as corporações ligadas ao comercio internacional de madeiras tropicais, incentivou-se a exploração madeireira dita “sustentável” com o argumento de que combateria a “exploração ilegal”.

Bom para a WWF que, em seis anos, teve o salto da área de exploração certificada com o selo do FSC (vinculado a WWF) de aproximadamente 400 mil para 3 milhões de hectares de florestas (Relatório de Gestão do MMA 2003-2006; p. 54).

Na mesma página do referido Relatório informa-se que as “florestas plantadas” (nome pomposo para designar monocultivo de eucalipto) saltaram de 300 mil para 600 mil há/ano. Basta.

O que não foi possível concretizar no MMA avançou bastante no estado do Acre, graças ao empenho das oligarquias aliadas de Marina e também de seu marido Fabio Vaz que participou do “governo da Frente Popular” até agosto do corrente.

Nesse estado – apresentado por grandes ONGs ambientalistas internacionais como “modelo de economia verde”– está em curso um processo acelerado de desregulamentação para intensificar a mercantilização e financeirização da natureza. Os resultados preliminares dessa mega espoliação podem ser vistos no Dossiê: O Acre que os mercadores da natureza escondem (clique aqui)

Enfim, procuramos mostrar que Marina não é uma incógnita como insistem em repetir os grandes meios de comunicação.  Eles a tratam assim não por “desconhecimento” mas por convencimento de sua eficácia para ocultar os  interesses das grandes corporações capitalistas envolvidas também na sua candidatura.

Marina, com essa trajetória, identificada com a matriz do capitalismo verde e com o domínio colonial subjacente,  se for eleita tentará conduzir as políticas de governo de forma mais submissa ao imperialismo comandado pelos Estados Unidos da América e seus aliados. Tudo indica que as repercussões negativas desse fato nas lutas emancipatórias no Brasil e na América Latina seriam muito fortes…



Por Elder Andrade de Paula - Professor Associado do CFCH/Universidade Federal do Acre.



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