Traduzindo a política de Marina para os jovens
Marina acredita que, hoje, o maior problema da economia brasileira
é a inflação (aumento dos preços dos produtos e serviços).
Só para lembrar, nossa inflação anual gira em torno de 6% ao ano.
Nos anos 80, tínhamos inflação superior aos 20% ao mês. Nos anos 90, durante o
governo FHC, mesmo depois do Plano Real, nossa inflação anual girava na casa
dos 9% ao ano.
Todos os governos brasileiros, depois do Plano Real, buscaram
manter a inflação em níveis baixos e controlados.
Para Marina, porém, a principal meta econômica é levar a inflação
para os 4,5% ao ano, custe o que custar.
Isso fica claro em todo o capítulo sobre economia, principalmente
na página 46, onde Marina resume as propostas. Vamos tentar reproduzir e
explicar o que significam as propostas para o futuro da juventude:
1) Marina defende que o governo vai “trabalhar com metas de inflação
críveis e respeitadas, sem recorrer a controle de preços que possam gerar
resultados artificiais, e criar um cronograma de convergência da inflação para
o centro da meta atual”.
Traduzindo, a principal meta de Marina, como já dissemos, é baixar
a inflação para, pelo menos, 4,5% ao ano, sem, no entanto, adotar qualquer tipo
de controle de preços.
Na prática, os combustíveis e a energia podem ficar mais caros
logo no início do governo Marina, que deve autorizar reajustes cada vez maiores
em 2015 e nos anos seguintes. O
preço do combustível para encher o tanque, portanto, vai subir, assim como o
preço de tudo que consumimos. Para evitar que a inflação
aumente de maneira brutal, ao invés de diminuir, Marina propõe o segundo ponto:
2) “Gerar
o superávit fiscal necessário para assegurar o controle da inflação (…)”.
Superávit fiscal é o resultado da chamada política fiscal, ou a
diferença entre as receitas (impostos arrecadados) e as despesas (manutenção
dos programas sociais e investimentos públicos).
Para Marina, a política fiscal serve, unicamente, para segurar a
inflação. Nesta visão, o gasto do governo é o grande culpado pela inflação.
Para fazer isso, como não é possível cortar impostos no início, Marina já
promete cortar gastos.
Analisando os gastos do governo, como não é possível despedir a
maior parte do funcionalismo, desmontar os programas sociais existentes ou
reduzir o gasto com a aposentadoria paga pelo governo de uma hora para outra,
muito provavelmente, os investimentos serão os primeiros a serem cortados.
Na prática, se os jovens
demandam por mais educação, saúde, transporte público, segurança, cultura e
outras coisas importantes, nada disso poderá ser atendido por Marina nos
primeiros anos. Em outras palavras, suas propostas nas outras 240 páginas do
programa de governo não poderão ser atendidas durante seu mandato.
Mas o drama para a juventude é maior nas propostas seguintes.
Marina pretende:
3) “(…) sinalizar para o mercado que
políticas fiscais e monetárias serão os instrumentos de controle de inflação de
curto prazo”.
4)“Assegurar a
independência do Banco Central o mais rapidamente possível, de forma
institucional, para que ele possa praticar a política monetária necessária ao
controle da inflação”.
Traduzindo, tanto a política fiscal (através da definição dos
impostos e do gasto público) como a política monetária (definição da moeda em
circulação, da taxa de juros – preço do dinheiro – e da quantidade de crédito
na economia), deverão ter como única prioridade o controle da inflação. Na
visão do programa de Marina, outra culpa da inflação é que existe muita demanda
para pouca oferta.
Para controlar a inflação
através da política monetária, a medida mais rápida é aumentar ainda mais a
taxa de juros (custo do dinheiro emprestado), reduzindo os investimentos, o
crédito, o emprego e a renda (salário) das pessoas.
Quando aumentamos fortemente os juros, é isso o que acontece.
Para os jovens que estão
com emprego e salário, a situação pode ficar mais difícil.
O desemprego para a juventude, que atinge menos de 20% dos jovens
do país, deve atingir mais de 50% nos próximos anos, como já ocorre
recentemente na Europa, que adota as medidas propostas por Marina.
Os jovens que possuem
gastos no cartão de crédito também devem estar preparados para reduzir seu
consumo. As contas do cartão vão ficar ainda mais caras. Como conseguir ou
trocar de emprego vai ficar mais difícil, a inadimplência deve inclusive
aumentar.
Com menos emprego, salário, crédito e juros mais altos, a
“economia” passa a girar mais devagar. Com menos demanda, a inflação pode até
baixar, deixando, porém, um rastro de problemas sociais e econômicos. Os mais
atingidos, sem dúvida, serão os jovens.
Finalmente, Marina propõe, na página 59, que:
5)“Os subsídios
ao crédito agropecuário e aos programas de habitação popular deverão continuar,
mas com maior participação dos bancos privados”.
Na prática, esta parte do programa só pode ter sido redigida pelo
Banco Itaú. O crédito para a moradia e a agricultura, no Brasil, sempre foi
atendido pelos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal). Os
bancos privados, como normalmente ocorre, querem aplicações mais rentáveis.
Sem dúvida, aplicar em títulos públicos do governo sempre foi mais
rentável do que em construção de moradias ou plantio de alimentos. Como Marina
deve aumentar os juros, aplicar nos títulos do governo continuará sendo muito
mais rentável.
Se Marina pretende reduzir o espaço dos bancos públicos, dá para
perceber que o crédito para habitação e agricultura ficará menor.
Traduzindo, os jovens que
quiserem financiar sua casa própria nos próximos anos (inclusive no Minha Casa
Minha Vida) devem se preparar: o cenário ficará muito mais difícil.
Repetir nunca é demais, a receita econômica proposta por Marina é
idêntica ao que vem ocorrendo em toda a Europa nos últimos anos, com efeitos
trágicos sobre o futuro da juventude naqueles países. Portanto, reflita bem
antes de exercer o direito de cidadão, votar.
PS do Viomundo: Faltou um ‘pequeno detalhe’ na análise do Paulo Copacabana. Se
fizer o que está escrito em seu programa de governo, Marina terá menos dinheiro
para investir e atender às demandas dos jovens. Terá como opção, por exemplo,
entregar às petroleiras internacionais nacos ainda maiores do pré-sal. Com
isso, faz caixa agora para satisfazer as reivindicações imediatas, mas
compromete o desenvolvimento de pesquisas e a criação de empregos de qualidade
no longo prazo. Em outras palavras, compromete o futuro do Brasil.
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