Rede Brasil Atual: Jornalistas tinham informação privilegiada na véspera da prisão de tesoureiro
ATITUDE
A
RBA, a liberdade de expressão e o direito de incomodar
Nos
somamos a um amplo universo de fazedores de comunicação, contribuindo com a
diversidade da abordagem dos fatos. E passamos a incomodar a imprensa comercial
e seus patrocinadores
Tarde
de terça-feira (14), véspera do dia de manifestações de movimentos sociais
contra a direita, por mais direitos e contra a terceirização desenfreada
permitida pelo texto do Projeto de Lei 4.330. O repórter de um grande jornal
telefona para a redação da RBA.
Procura
o diretor-geral da Editora Atitude, Paulo Salvador, e questiona sobre a menção
à empresa nas investigações da Operação Lava Jato. Salvador se diz surpreso,
que desconhece o tema, e explica as origens e o funcionamento do empreendimento
de comunicação, que tem como produtos a Revista do Brasil, o portal Rede Brasil
Atual, edições regionais de um jornal impresso e a produção de conteúdo
jornalístico para a Rádio Brasil Atual. Matéria prima: jornalismo.
À
primeira observação, salta o detalhe: um profissional da imprensa tradicional
tinha em mãos, um dia antes da prisão do então tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto, o teor da nova etapa do processo que corre em segredo de Justiça. Não era
o único. Tudo leva a crer que as redações dos maiores veículos habitualmente
favorecidos pela prática do vazamento seletivo de informações sigilosas já
estavam com seus textos elaborados antes do fato político – a prisão – ser
consumado. Aguardava-se o “publique-se”, como dizia o personagem de Paulo Betti
na novela das nove, Téo Pereira, blogueiro investigativo.
O
episódio – informação privilegiada destinada a ferir apenas uma parte dos
investigados – é apenas mais um entre tantos que têm levado juristas renomados,
defensores da Lava Jato, a se preocupar com os riscos da abusividade e das
ilegalidades para a credibilidade e a eficácia da operação.
No
enredo, a RBA é atingida lateralmente, já que o alvo do procedimento era outro:
alimentar o ódio ao PT e à CUT em um dia de manifestações contundentes em todo
o Brasil em defesa dos direitos dos trabalhadores, dos avanços sociais e
democráticos. A RBA, diga-se, é um dos frutos colhidos pela consolidação da
democracia no país nos últimos anos.
É
a primeira experiência brasileira na história recente, e referência para
organizações de trabalhadores em vários países do mundo, de aglutinação de
forças de algumas das entidades sindicais mais representativas e respeitadas do
país em torno de uma causa que mexe com a vida dos cidadãos para além de seus
locais de trabalho: o direito humano à informação.
Dessa
convicção, em 2006, surgiu a Revista do Brasil, uma publicação mensal que hoje
alcança 200 mil trabalhadores e suas famílias, com dois propósitos editoriais
bem definidos: levar informação para quem não tem acesso a outros veículos,
estimulando o hábito da leitura, e para quem tem acesso mas não está satisfeito
com o que lê. Proporcionar, enfim, o prazer da leitura e a formação de um
pensamento crítico não terceirizado pelo conteúdo convencional da imprensa
comercial. Com o mesmo objetivo, passaram a integrar esse projeto o portal e a
rádio.
Movida
a jornalismo desde seu nascedouro, a RBA conquistou respeito e credibilidade
junto a políticos e intelectuais, artistas e ativistas sociais, trabalhadores,
integrantes de movimentos sociais das mais diversas vertentes e cidadãos
anônimos passaram – como fontes e como consumidores de informação. Não é por
menos que o portal recebe em média cerca de 1 milhão de visitas, sem contar sua
produção de conteúdo exclusivo que é reproduzida por outras páginas da
internet, veículos impressos e emissoras pelo país – algumas vezes com crédito,
outras não.
Somos
procurados por jornalistas e estudantes que ambicionam viver profissionalmente
de um trabalho que assegure liberdade e sintonia com seus ideais. E também por
universitários que nos tomam como objeto de pesquisa e de aprofundamento
acadêmico.
Nesse
contexto, nos somamos a um amplo universo de fazedores de comunicação – alguns
com mais rodagem, outros contemporâneos, outros que não param de surgir –,
contribuindo com a diversidade da abordagem dos fatos. E passamos a incomodar a
imprensa comercial e seus patrocinadores.
A
RBA não tem por hábito, ao citar uma informação extraída de um ou outro veículo
tradicional, acrescentar-lhe um juízo de valor ou um atributo com intenção
desqualificadora. O leitor não lê aqui, por exemplo, “… segundo matéria de O
Globo, jornal que apoiou a ditadura, a flexibilização dos direitos trabalhistas
e o fim da política de valorização do salário mínimo e pertencente a um grupo
acusado de sonegação…”; também não encontra “… de acordo com a Folha de
S.Paulo, editado por empresa que emprestava veículos a órgãos de repressão e
ligado a correntistas de paraísos fiscais”; tampouco cita o “… Estadão, jornal
que nas últimas eleições declarou apoio aos candidatos do PSDB”; muito menos
cita a Editora Abril como fornecedora privilegiada de assinaturas para governos
sem licitação ou detentora de um monopólio de distribuição de publicações
impressas que dificulta ou inviabiliza a circulação de concorrentes. Nem sequer
fazemos questão de lembrar que todos eles atuam assumidamente de maneira
organizada em torno do Instituto Millenium, mantido por grandes empresas com o
propósito de estimular e sustentar a produção de informação e a formação de
comunicadores sintonizados com seus interesses políticos, econômicos,
ideológicos e comerciais.
Entretanto,
não é raro que a citação a nossos veículos venha seguida de um, “ligado à CUT
e/ou ao PT”.Sempre com intenção de minar a credibilidade jornalística. Para
nós, por trás da arrogância editorial queapropria aos veículos tradicionais
exclusividade do direito ao jornalismo e à liberdade de expressão – e que
lamentavelmente contamina colegas que acabam se tornando escudeiros ideológicos
de seus patrões – está mais um sintoma de que a RBA, como todos os veículos que
ousam remar contra a corrente ideológica da imprensa comercial – incomoda.
Em
tempo: consideramos que CUT, PT, demais centrais, demais partidos e toda e
qualquer organização social têm todo o direito de ter seus veículos de
comunicação. Mas não somos “da” CUT ou “do” PT. Nossa política editorial é
assumidamente de esquerda, humanista, voltada para o estímulo à participação
social, à defesa intransigente dos direitos humanos, à busca da cidadania plena
para as maiorias da população e às minorias oprimidas por preconceitos
nefastos, à construção de um novo modelo de desenvolvimento que viabilize o
planeta para as gerações futuras. Nossas afinidades com pontos programáticos,
seja da CUT, seja do PT, não nos priva da liberdade editorial de produzir
conteúdo que ora desagrada seus militantes e dirigentes, ora desagrada seus
opositores.
Aos
nossos leitores e seguidores que, como todos nós, se sentiram perplexos com a
forma como a RBA e a Editora Atitude foram abordados no dia de ontem (15), fica
a nossa mensagem: 1) os recursos que sustentam nossos veículos são provenientes
de entidades determinadas em fazer dos investimentos em comunicação
umsindicalismo cidadão, de prestação de serviços editoriais que têm o
jornalismo como matéria-prima e de uma escassa receita de publicidade e
patrocínios; 2) os recursos destinados pelas entidades sindicais são objeto
regular de prestação de contas de seus associados, bem como integrantes dos
programas de gestão por meio do qual são democraticamente eleitas; e 3) todos
os recursos são integralmente destinados às despesas operacionais e
administrativas decorrentes da produção, distribuição e veiculação de conteúdo
jornalístico, e devidamente contabilizadas.
No
plano legal, a Editora Atitude está em dia com suas obrigações e à disposição
da Justiça. No campo da disputa pela democratização do acesso e à produção de
informação, seguimos em frente.
Nota
da Editora Gráfica Atitude
A Editora
Gráfica Atitude Ltda. é uma empresa comercial de direito privado criada em 15
de março de 2007 por iniciativa de dirigentes sindicais, jornalistas e
personalidades, com a missão de construir uma plataforma de meios de
comunicação voltada para o mundo do trabalho, economia, política e cultura em
geral. Está instalada na Rua São Bento, 365, 19º, no Centro de São Paulo.
Nesses anos,
após 105 edições da Revista do Brasil, a Editora pautou-se pelo melhor do
jornalismo, com entrevistas, fotos, textos, edição e impressão de cerca de 28
milhões de exemplares da publicação, que são distribuídos pelo correio e
manualmente para sócios dos sindicatos participantes, numa operação logística
de grande magnitude. Pesquisas mostram a satisfação do público leitor e ouvinte
com a proposta de construção da cidadania que a revista se propõe.
A Editora produz
também conteúdo jornalístico para o portal na web www.redebrasilatual.com.br,
que registra acesso mensal de um milhão de visualizações, que vem duplicando
sua produção e acessos anos após anos mesmo com a enorme concorrência que a
internet tem atualmente.
A Editora produz
um programa também jornalístico para a Rádio Brasil Atual, de duas horas,
transmitido entre 7h e 9h da manhã, de segunda a sexta, na FM 98,9, para todos
os municípios da Grande São Paulo, ABCD, Alto Tietê, com sintonia num diâmetro
que alcança desde Mogi das Cruzes até Jandira e cidades no entorno.
A Editora conta
com 34 trabalhadoras e trabalhadores e quase uma centena de colaboradores,
articulistas, correspondentes e prestadores de serviços. A Editora mantém
firmes laços de parceria com a imprensa sindical e com a blogosfera democrática
e progressista, sempre centrada no mundo do trabalho e nos direitos humanos.
As receitas da
Editora Gráfica Atitude Ltda provêm da prestação de serviços para entidades
sindicais, anúncios públicos, privados e patrocínios. Prática comum de
todos os meios de comunicação
Todas as
receitas são revertidas para os pagamentos destinados a essa plataforma de
comunicação. Para pagar as contas, como se diz na linguagem popular.
Em relação às
denúncias veiculadas na imprensa, a Editora informa que mantém seus contratos
de forma regular, registrados e está a disposição da Justiça para prestar todos
os esclarecimentos.
São Paulo, 16 de
abril de 2015
Paulo Salvador
Coordenador da
Editora Gráfica Atitude Ltda
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