Randolfe Rodrigues: Impeachment de Dilma, a essa altura, é inaceitável
Assim
não dá, assim não pode
Por
Luiz Carlos Azenha
Ainda
que as contas da campanha de Dilma Rousseff em 2010 sejam investigadas, no
inquérito envolvendo o ex-ministro Antonio Palocci, que atuou como tesoureiro,
o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) acredita que falar em impeachment da
presidenta, neste momento, é inaceitável.
“O sistema político brasileiro é que tem de passar por
reforma. O argumento do impeachment [de Dilma], a essa altura, é inaceitável.
Na investigação o presidente nacional do PSDB [Aécio Neves] também foi citado.
Tem um senador do PSDB [Antonio Anastasia] citado, da mesma forma. Tem os
presidentes das duas Casas. Impeachment em que direção? Para deixar o governo
na mão do PMDB a essa altura?”, perguntou Randolfe neste sábado durante
entrevista ao Viomundo.
Segundo
ele, o que precisa mudar é o sistema de financiamento de campanha, “que
favorece e incentiva” a corrupção, que “é corrupto na natureza e essência”.
O Supremo Tribunal Federal, por 6 votos a 1, baniu o
financiamento privado de campanhas eleitorais, mas o ministro Gilmar Mendes
pediu vistas do processo e está sentado sobre ele há 306 dias.
Seria
uma manobra para ganhar tempo e permitir a aprovação da PEC 352, antes da
decisão definitiva do STF.
Em andamento no Congresso, a PEC 352, ou emenda Vaccarezza,
permitiria às empresas continuarem financiando campanhas.
O
ex-deputado petista Cândido Vaccarezza está na lista dos que serão investigados
por suposto envolvimento no escândalo da Petrobras.
Randolfe
acredita que qualquer reforma política feita sob Renan Calheiros e Eduardo
Cunha, presidentes do Congresso e da Câmara — ambos sob investigação — ficará
comprometida.
Para
Randolfe, um exemplo da atuação “casuística” do presidente da Câmara se viu
recentemente, na aprovação da medida que dificulta a criação e restringe a
fusão de partidos.
Logo
depois de assumir, Eduardo Cunha uniu-se a partidos de oposição para aprovar o
projeto, que passou na Câmara e em seguida no Senado.
O
objetivo teria sido evitar a criação, pelo ministro Gilberto Kassab, do Partido
Liberal, para o qual migrariam parlamentares do PSD e de outras siglas.
O
novo partido poderia oferecer ao Planalto uma alternativa ao PMDB.
Para Randolfe
Rodrigues, Eduardo Cunha “não tem mais condição moral de estar à frente [da
Câmara]“.
O
presidente da Câmara, diga-se, é ferrenho opositor do financiamento público de
campanhas.
O
senador do PSOL considera “absurdo, inadequado e descabido” o fato de o
PMDB ter entrado com representações contra seus colegas de partido Ivan Valente
(PSOL-SP) e Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) no Conselho de Ética da Câmara.
No
início da semana, ambos protestaram contra a decisão do presidente da CPI da
Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB) de indicar quatro sub-relatores sem consultar
os demais integrantes da comissão.
Motta
é aliado de Eduardo Cunha. O presidente da Câmara estaria manobrando a CPI para
extrair concessões e/ou acuar o governo Dilma. Ele já opinou que acredita que
Valente e Edmilson quebraram o decoro parlamentar ao bater boca com Motta.
O
PSOL pediu o afastamento da CPI de deputados que receberam financiamento de
empresas citadas na Operação Lava Jato. As empreiteiras investigadas doaram R$
50 milhões a 243 integrantes do Congresso na mais recente campanha eleitoral
(41% do Congresso).
Da
CPI da Petrobras, receberam doações Otávio Leite (PSDB-RJ), Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP), Paulo Pereira da Silva (SD-SP), Antonio Imbassahy (PSDB-BA), Julio
Delgado (PSB-MG) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Além
disso, dois deputados da comissão serão investigados pelo STF por suposto
envolvimento no escândalo da Petrobras: Lázaro Botelho (PP-TO) e Sandes Júnior
(PP-GO).
Para
Randolfe Rodrigues, “é um inversão completa de valores” levar deputados do PSOL
ao Conselho de Ética, quando isso deveria ser feito “com os citados na Lava
Jato”.
O
senador do PSOL defende que os parlamentares não citados na lista do
procurador-geral Rodrigo Janot se unam para retomar o controle do Congresso.
“O
sistema político brasileiro não pode tratar isso como se nada estivesse
acontecendo”, afirmou. “Acho que imediatamente [Renan Calheiros e Eduardo
Cunha] deveriam se afastar de suas funções. Não é possível que o terceiro na
linha de sucessão esteja sendo investigado e ao mesmo tempo dirija a Câmara dos
Deputados”, concluiu.
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