Manipulação com cotação do Real pode deixar Lava-Jato “no chinelo”
O ótimo trabalho do repórter Fernando
Nakagawa, do Estadão, divulga, pela primeira vez no Brasil, o que
desde ontem já se sabia nos círculos financeiros norte-americanos:
Os
grandes bancos internacionais, sobretudo o Barclays – mas também
o Citibank, o JP Morgan (que opera no Brasil com a participação deArmínio Fraga),
Royal Bank of Scotland (RBS), UBS e Bank of America – estavam envolvidos
e pagarão US$ 5,6 bilhões manipularam, entre outras, a cotação da
moeda brasileira, pelo menos durante a crise financeira de 2008/2009.
Diz
Nakagawa que “documento do órgão supervisor do Departamento de Serviços
Financeiros de Nova York (DFS) mostra que negócios com a moeda brasileira em
2009 foram alvo da ação de operadores que queriam influenciar preços para
aumentar lucros. “Operadores de câmbio envolvidos no mercado entre o dólar dos
Estados Unidos e o real do Brasil conspiraram juntos para manipular os
mercados”, diz o termo de compromisso de cessação de prática (consent
order, em inglês) que envolve o Barclays”.
Entre 2008 e 2012, os agentes de FX (Foreign
Exchange, câmbio mundial, numa tradução
livre) do Barclays comunicavam com os negociantes de FX em outros bancos
para coordenar tentativas de manipular os preços de algumas moedas – a nossa,
entre elas – através de comunicação online.
O
mercado de FX, preste atenção, não está escrito errado, movimenta um quatrilhão
de dólares por ano. É, quatrilhão, mil vezes um trilhão. E os bancos envolvidos
respondem por mais de 20% do total das operações, o que dá um poder de fogo
imenso na cotação. E transforma décimos de centavos nas cotações em somas
bilionárias.
Diz a
reportagem:
“Uma indicação do esquema veio à tona com a
troca de mensagens entre duas pessoas que negociavam a moeda brasileira. Em 28
de outubro de 2009, um operador do Royal Bank of Canada (RBC) conversava com um
colega do Barclays. “Todo mundo está de acordo em não aceitar um agente local
como corretor?”, questiona o funcionário do banco canadense via programa
eletrônico de troca de mensagens. “Sim, menor competição é melhor”, respondeu o
operador do banco britânico. Exatamente no dia da troca de mensagens citada no
processo, o dólar fechou em alta de 0,6%, a R$ 1,7447, segundo dados do Banco
Central. Naquela época, o mercado de câmbio do Brasil vivia o fim de um período
de quase um ano de firme valorização da moeda nacional. Enquanto o mundo
tentava se desvencilhar dos problemas da crise financeira que estourara um ano
antes, o Brasil crescia e o fluxo de moeda estrangeira para o País fez com que
o dólar caísse do patamar próximo de R$ 2,50 visto em dezembro de 2008 para R$
1,70 em outubro de 2009. A manipulação do mercado brasileiro foi descoberta
pela investigação que envolveu autoridades dos EUA e Reino Unido e revelou um
grande esquema global que influenciou as cotações das principais moedas do
planeta.”
Nos
EUA e no Reino Unido, as multas aos bancos superam US$ 5 bilhões (R$ 15
bilhões), quase o triplo do que – e com muito exagero – se consideram
terem sido os prejuízos possíveis com a Lava-Jato. Só para o Barclays são US$
2,4 bilhões: US$ 485 milhões para o Departamento de de Serviços
Financeiros do Estado de Nova Iorque , US$ 400 milhões para a Commodities Futures Trading
Commission , US$ 710 milhões para o Departamento de Justiça
dos EUA, US$ 342 milhões ao Federal Reserve, o BC dos EUA, e e 284 milhões de
libras esterlinas (aproximadamente US$ 441 milhões para os órgãos reguladores
do Reino Unido.
E
isso é apenas o acordo de leniência firmado com os bancos.
E nós
com isso?
Tudo,
porque o Banco Central toma e liquida contratos em dólares, em bilhões de
reais, porque opera a troca de moeda. E vende contratos de câmbio
compromissados com valores que, agora, sabem-se manipulados.
Embora
seja virtualmente impossível apurar o valor exato das perdas, é certo que elas
foram imensas, a confirmar-se que a manipulação durou anos. Mas o BC, o
Itamaraty e a Procuradoria Geral da República têm de agir imediatamente, a
começar pelo levantamento de todas as operações de câmbio fechadas por estes
bancos, diretamente ou por intermediação com outros, durante aquele
período.
E,
com isso, estimar as penalidades que devem ser aplicadas.
A tal
“mão invisível” do mercado, vê-se, também é dada a manipulações criminosas.
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