Como se urde um golpe, versão 2.1
Por Nilson Lage, no blog Tijolaço:
Na minha
interpretação pessoal, com base no que sei e do que vi, o que se passa no
Brasil é uma versão do golpe de estado de 1964 adaptada a novas circunstâncias.
O golpe é dado por um segmento de uma
corporação, Corporações agem em conjunto embora contradições internas porque é
de sua natureza não se fragmentar.
Em 1964, era uma fração do Exército acrescida
de alguns comandos pagos em dinheiro – São Paulo, Pernambuco – após a
desativação da provável resistência da Marinha por via da infiltração de agentes
para uma ação subversiva de falsa bandeira. A articulação foi feita por um
grupo de multinacionais americanas, acompanhadas por grupos locais,
representados todos pelo Ipes, de Golbery do Couto e Silva, e por uma
organização financiada pela CIA, o Ibad, de Ivan Hasslocker.
A
cobertura foi dada pela imprensa, parte mobilizada desde o primeiro momento na
conspiração, parte cooptada por pressão econômica ,e parte levada a apoiar o
movimento na sua etapa final (estes veículos – Correio da Manhã, Diário de
Notícias do Rio de Janeiro, além da TV Excelsior e da Última Hora, que não
apoiaram o golpe – não sobreviveriam nos anos seguintes). O discurso ideológico
contou com o coro da cúpula da Igreja Católica, de tradição integrista,
assustada pela postura revolucionária que descobria nos documentos do Concílio
Vaticano II e, em particular, na encíclica Mater et Magistra, de João XXIII.
O golpe atual está sendo dado por parte de outra corporação, a jurídica, em
suas vertentes promotora (procuradoria) e julgadora, com apoio de forças policiais
de idêntica formação e de segmentos de governos estaduais oposicionistas. Para
a articulação, foram contratados agentes em várias organizações subversivas,
coordenadas aparentemente pelo Instituto Millenium. A ação é exercida por
remanescentes do governo liderado por um colaborador notório, Fernando Henrique
Cardoso, com destaque para indicados por ele e seu grupo para cargos vitalícios
em cortes jurídicas e para-jurídicas.
A imprensa, reduzida a um oligopólio obediente, desempenha o papel de desinformar
e mobilizar. O discurso ideológico já não tem a mesma ressonância na liderança
católica – a própria Igreja Católica perdeu importância política no processo
histórico de ocupação cultural do país pelos Estados Unidos – mas numa série de
igrejas comercias de implantação recente ocupa esse espaço. Os conspiradores
contam com a paralisia das Forças Armadas, dadas suas contradições internas, a
percepção de sua fragilidade diante do poderio militar externo associado ao
golpe e a ação renitente de veteranos núcleos de direita, herdeiros daquele
representado por Olímpio Mourão Filho, veterano militante integralista que
comandava a guarnição de Juiz de Fora em 1964.
O objetivo, amplo e diversificado, das várias matrizes financeiras e
ideológicas mobilizadas, compreende a entrega do petróleo e de riquezas
minerais estratégicas ainda preservadas ao capital externo; a
internacionalização da Amazônia mediante a autonomia de “nações” indígenas e
reserva da região para exploração futura; incorporação e anulação da base
industrial, redução e multinacionalização da base agrícola que, ambas, competem
no mercado internacional; liquidação da estrutura de assistência social ampla
do Estado e sua substituição pela caridade para os pobres,em benefício da
exploração comercial; redução do movimento trabalhista a ação residual
incorporada à nova esquerda radical, universalista e trotskista, de viés
comportamental (Nota do Tijolaço: e, portanto, não trabalhista), cuja
inviabilidade a torna inócua; e desmonte de qualquer frente latino-americana de
resistência à ocupação imperial.
Corrupção, agora como então, é mero pretexto de uso propagandístico. É
sistêmica, e preservá-la é uma condição para o controle da máquina política que
dará forma e continuidade ao golpe.
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