Quem disse a Youssef que outro delator já estava falando sobre o repasse de recursos para a campanha de Dilma?
Youssef no país dos adivinhos - Ficou claro no depoimento à CPI ontem - 26.08.15 - de quem é que Youssef morre de medo
O principal fato da sessão desta
terça-feira, da prevista “acareação” entre os “delatores premiados” Alberto
Youssef e Paulo Roberto Costa, na CPI da Petrobras, da Câmara dos Deputados,
talvez não mereça muito espaço nas manchetes desta quarta.
Não
bastando o constante vazamento, quase sempre seletivo, sobre suposições,
ilações, delações “premiadas”, subjetivas, inaugurou-se ontem, no âmbito da
Operação Lava-Jato – em mais um exemplo de que o uso do cachimbo faz a boca
torta – o instituto do “vazamento futuro” de delações, ilações,
suposições, em um espetáculo onde quase tudo é suposto e subjetivo, menos o
alvo final do processo.
Por
isso, mesmo que com mais buracos que um queijo suíço, nessa operação já não
espanta o enredo conhecido, caracterizado por “revelações” feitas a
conta-gotas, acompanhadas, na maioria dos casos, pela gritante ausência de
provas inequívocas, que está voltado, como na fábula do Lobo e do Cordeiro,
para derrubar o governo a qualquer preço, seja qual for a justificativa.
O
que mais surpreende, agora, é o descaramento com que surgem as
“revelações” dos “delatores”, a ponto do Sr. Alberto Youssef, por intervenção
ao pé do ouvido de seu advogado, voltar à pergunta anteriormente feita pelo
relator da CPI, sobre o repasse de recursos para a campanha presidencial da
Presidente da República – o ponto nevrálgico que se pretendia esclarecer com a
“acareação” de ontem – retomando a sua negativa de que esse repasse tenha
ocorrido por meio de seu intermédio, para fazer o premonitório anúncio – como
se quisesse se justificar por não estar acusando diretamente o governo – de que
“tem outro réu colaborador que está falando sobre esse assunto e assim que essa
colaboração for noticiada vocês vão saber realmente quem foi que pediu o
recurso e quem repassou o recurso… Logo vai ser revelado e esclarecido esse
assunto”.
Ora,
ao fazer, com tom de porta-voz oficial, esse anúncio, o Sr. Alberto Youssef já
antecipa o que irá ocorrer a seguir, no próximo capítulo desse ramal da
Operação Lava-Jato, desfazendo o teatrinho da suposta contradição entre seus
dois mais conhecidos “bandidos-delatores”.
Ele
sinaliza, convenientemente, aos presentes, à oposição, à imprensa, que alguém
já estaria “falando”, ou melhor, que alguém logo irá dizer que foi
feito o repasse e a pedido de quem ele teria sido feito.
E
dá a entender que essa pessoa também irá confirmar, eventualmente, seu valor,
retirando o ônus, a missão, o papel, de fazer ou comprovar essa acusação, dos
ombros dos dois delatores presentes ontem na CPI, e, principalmente, do
próprio Youssef, que não poderia fazê-lo sem o risco de desmentir suas declarações
anteriores.
Ora,
revelado, de forma pública e cristalina, no palco da CPI, qual será o próximo
passo – Gilmar Mendes trabalha junto ao TSE e os adversários do governo também
o fazem em outra frente, no contexto do TCU – o que importa não é saber o que
foi dito, mas o que não foi dito pelo delator-doleiro – o que está por trás da
orientação recebida de seu advogado, cochichada, naquele particular momento,
diante das câmeras.
A
pergunta para a qual se deveria esperar pronta resposta, é como um réu, já
condenado, prestando depoimento, sabe – por meio de “vazamento interno”, que
será feita – em suas próprias palavras alguém “já estaria falando” – uma
nova delação premiada, quem estaria fazendo essa delação premiada e
qual será o teor dessa declaração, a ponto de antecipá-la descaradamente
em plena Comissão Parlamentar de Inquérito.
Ao
afirmar, olimpicamente, que “assim que a declaração for revelada vocês vão
saber”, Youssef provou que teoricamente tem acesso, atrás das grades, a
um grau de informação muito maior do que têm, jamais tiveram, os membros da
Comissão na qual estava sendo interrogado, e não apenas sobre o seu próprio
processo, mas sobre a operação como um todo.
Mas,
mesmo assim, ele sequer foi inquirido, imediatamente, a propósito de como
e por meio de quem teve conhecimento dessa suposta futura delação, que estaria
prestes a ser revelada nas próximas semanas.
Quem
disse ao advogado do Sr. Alberto Youssef que um outro “réu colaborador” já
estaria “falando” sobre esse tema?
O
advogado do Sr. Alberto Youssef é o mesmo desse suposto novo delator “premiado”
que irá, segundo o próprio doleiro, confirmar que houve o “repasse”?
Nesse
caso, o advogado estaria, eventualmente, combinando com seus dois
clientes (se não estiver assistindo a mais réus, ainda, no âmbito do
mesmo caso) quem deveria falar o quê e o que deveria ser dito?
Ou,
não sendo o advogado do Sr. Alberto Youssef o mesmo advogado do réu que já
estaria “falando” sobre esse assunto – principal “motivo” da acareação de ontem
– de quem teria o advogado do Sr. Alberto Youssef obtido essa informação ?
Do
advogado do outro?
Justificando,
assim, a suspeita de que os depoimentos, “vazamentos”, “revelações”, e
“delações premiadas” poderiam estar sendo combinadas, manipuladas,
“coordenadas”, entre os diferentes acusados por meio de seus advogados?
Ou
teria o advogado do Sr. Alberto Youssef obtido essa informação, prévia ou
“premonitória”, do juiz Sérgio Moro?
O
que, em caso afirmativo, poderia comprovar, eventualmente, a existência de
inaceitável grau de intimidade entre um e outro lado do processo, o juiz
e alguns dos réus e seus advogados, de uma forma que poderia levar ao
comprometimento da lisura da Operação Lava-Jato?
Salvo
Alberto Youssef e seu advogado tenham desenvolvido poderes adivinhatórios, são
essas perguntas que poderiam estar sendo feitas por membros do Conselho
Nacional de Justiça e do próprio STF neste momento, a propósito da sessão
da CPI da Petrobras de ontem.
Mas
além disso, há espaço também para uma outra indagação, que também merece
resposta:
Por
qual razão essa suposta futura “delação premiada”, que será, segundo Alberto
Youssef, em breve, revelada, só está sendo feita agora, justamente neste
momento, em que, nesse caso de suposto repasse de recursos para a campanha
presidencial de Dilma Roussef, chegou-se, pela própria “contradição” dos dois
principais delatores “premiados” a um impasse ?
Outro que anda premonizando coisas – além do próprio juiz
Sérgio Moro, que, mesmo sem contar com precorgs,
andou adotando as táticas do filme Minority
Report, ambientado em Washington, DC, do ano 2054, para prever e
impedir antecipadamente crimes, prendendo executivos para impedir que
suas empresas participassem de licitações sequer ainda oficializadas – é o
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Reunido
ontem, com aliados, ele afirmou que o Presidente do Senado, Renan Calheiros,
“aparecerá em delações premiadas” nas “próximas semanas”, no que tem
provavelmente razão, já que vivemos em uma República em que qualquer um pode
acusar qualquer um, a qualquer momento, impunemente, de qualquer coisa,
independentemente de ser por moto próprio ou por estar ou não a serviço de
terceiros, usando para isso pretextos paralelos (como transformar
automaticamente uma coisa em outra, do tipo doação de campanha em propina) sem
necessidade de provas que sustentem, inequivocamente, suas alegações.
Nessa
sequência – que às vezes parece muito bem estruturada – de ilações, delações,
“colaborações”, distorções, e, presentes e futuras, “adivinhações”, a única
coisa verdadeiramente inequívoca, são os deletérios efeitos, diretos e
indiretos – para gaudio dos que torcem pelo “quanto pior melhor” e contra o
país, a atividade política e a democracia – de uma “operação” que, ao que
parece, pretende prolongar-se indefinidamente nos próximos anos,
transformando-se, de fato, em um “quinto poder”, dentro do Estado, cada
vez mais independente e acima dos outros.
Uma
“operação” que poderia estar sendo dirigida apenas contra os corruptos,
que no final, como no caso de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, estão
sendo quase todos “premiados” – mas que, ao decidir castigar, punitivamente,
com o látego dos deuses, algumas de nossas maiores empresas, está
desmantelando amplos e estratégicos setores da vida nacional.
Nas
áreas de infra-estrutura e construção pesada, da industria de petróleo e gás,
da indústria naval, e, principalmente, da indústria bélica, com a eliminação de
milhares de empregos, a provável falência de empresas como a AVIBRAS e a
paralisação de programas em que o país já investiu bilhões de dólares, e o
precioso trabalho de toda uma geração de valorosos planejadores, engenheiros e
técnicos de nossas forças armadas, a percepção, quase certeza, é uma só, sem a
necessidade de dons premonitórios:
A
Operação Lava-Jato – sem resolver definitivamente o problema da corrupção, que
não poderá ser sanado sem uma reforma política de verdade – já está provocando
um prejuízo dezenas de vezes maior do que o dinheiro que recuperou até
agora, e irá deixar como herança, direta e indireta, um atraso que
será nefasto, irrecuperável, nas próximas décadas, do ponto de vista do ingente
esforço, realizado, a duras penas, por vastos setores da sociedade brasileira,
para a inserção estratégica, tecnológica, soberana e competitiva do Brasil
entre as maiores nações do mundo.
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