AUGUSTO MENDONÇA EM DEPOIMENTO: FHC IMPLANTOU O ESQUEMA DE PROPINAS NA PETROBRAS
Mendonça: Tudo começou em 1990
Depondo como testemunha de acusação no processo
aberto contra os executivos ligados à Odebrecht, a maior construtora do país,
Mendonça admitiu que as empreiteiras pagavam propinas a dirigentes da estatal
petrolífera desde “o final dos anos 90”, e que entre 2003 e 2004 as reuniões do
cartel de empreiteiros que ele participou eram mensais, coordenadas por Ricardo
Pessoa, da UTC Engenharia, também delator da Lava Jato.
Nos
encontros, as empresas discutiam quem teria prioridades em determinadas obras e
outras não atrapalhariam oferecendo preços superiores. “As empresas
discutiam e escolhiam quais as oportunidades que gostariam de participar, havia
um acordo entre elas”, reafirmou o delator.
Questionado
pelo juiz Sergio Moro sobre o motivo do pagamento ilícito, o delator disse:
“Pagavam porque a capacidade de um diretor da Petrobras de atrapalhar é muito
grande. Todas as empresas tinham medo de não pagar. Eu acredito que todas
pagavam”.
A
preocupação de Mendonça era agradar o “diretor da Petrobras” para que não
atrapalhasse os interesses das empresas. A maioria da imprensa, no entanto,
destacou, inclusive em manchete, a afirmação de Mendonça de que “todas as
empresas tinham medo de não pagar”, como se as empreiteiras fossem vítimas,
tese que reforça a campanha de criminalização do PT em relação as doações de
campanha.
Em outro
depoimento, Mendonça afirma: “Conforme já fiz, já declarei em outros
depoimentos, eu fazia um pagamento ao doutor Pedro Barusco, ao doutor Renato
Duque e, se havia um entendimento deles com o doutor João Vaccari
[ex-tesoureiro do PT], era um entendimento deles, o entendimento que eu tive
com o doutor João Vaccari foram contribuições legais que ele solicitou e eu
fiz, através das minhas empresas, dentro dos limites legais estabelecidos”.
Nesse
mesmo depoimento, Moro questionou: “E essas contribuições não estavam
relacionadas a esses valores de propina da Petrobras?”. Mendonça respondeu: “No
meu caso, não”.
Moro
insistiu: “O senhor, na conversa que o senhor teve com o senhor João Vaccari, o
senhor mencionou que esses valores eram decorrentes de contratos da
Petrobras?”. “Não, senhor”, respondeu.
“O senhor
mencionou que estava procurando a pedido do Renato Duque?”, perguntou Moro.
“Não, senhor”, disse.
Moro
novamente persistiu: “O senhor não explicou a origem desses valores que isso
era decorrente de acertos de propina com o senhor Renato Duque?”. E Mendonça
respondeu: “Não, senhor”.
Refinaria Abreu e Lima
No
depoimento desta segunda (31), não foi diferente. Moro perguntou sobre a
participação do Grupo Odebrecht nas reuniões para escolher os vencedores das
licitações da Petrobras. Mendonça disse que “sim”, detalhando que Márcio Faria
representava a empreiteira naqueles encontros.
Mendonça
disse ainda que a partir das obras da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco,
houve o que ele classificou como “desequilíbrio” entre as empreiteiras, ou
seja, alguém estava ganhando mais e outras menos. Segundo ele, apenas as
grandes empreiteiras ficaram com as obras da Abreu e Lima, o que gerou um descontentamento
entre as que ficaram com um volume menor dos contratos.
Diante do
descontentamento, decidiram criar o chamado “clube” com adoção de regras para
que todas fossem contempladas com contratos na estatal petrolífera. “Houve uma
adaptação, um ajuste da regra e isso foi escrito para que ninguém ficasse com
dúvidas, como se as empresas fossem times, se dizia que o jogo começaria de
novo”.
Aécio e doação não registrada
da Odebrecht
Moro
perguntou se as construtoras ajustavam os resultados das licitações. “Sim, as
empresas escolhiam suas preferências e as demais respeitavam”. A Odebrecht
participava das reuniões?, insistiu o juiz. “Sim, senhor”, respondeu Mendonça,
citando também a OAS, UTC, Mendes Júnior, Camargo Corrêa, todas responsáveis
por polpudas doações a vários de partidos políticos, inclusive da oposição.
E por
falar em oposição, o PSDB deverá apresentar explicações ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) sobre 15 irregularidades encontradas nas contas de campanha do candidato
derrotado nas urnas, Aécio Neves (PSDB-MG). Entre elas está o fato de Aécio ter repassado
para o PSDB uma doação de R$ 2 milhões da Odebrecht, mas não ter registrado a
transferência na prestação de contas. Diferentemente do amplo destaque e
ilações que a grande mídia faz sobre as doações registradas do PT, muito pouco
e discretamente se fala do não registro do repasse nas contas dos tucanos.
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