CHORO DE MARINA SUCEDE EUFORIA ELEITORAL
Sugestão do amigo Francisco de Bragança Pimentel, no Face.
Candidata que atravessou a
campanha, na condição de vice de Eduardo Campos, carrancuda e mal humorada,
chegou às fronteiras da euforia e da soberba ao explodir nas pesquisas de
opinião; agora, diante da redução de seus índices, vestiu a capa da fragilidade
feminina e verteu lágrimas para reclamar do que chama de "mentiras do
PT"; em direção contrária, presidente Dilma Rousseff e ex-presidente Lula
acentuam discurso racional para mostrar contradições da adversária em
temas como pré-sal, autonomia do Banco Central, liberdade sexual e, ainda, no
fato de ter a herdeira do banco Itaú, Neca Setubal, como coordenadora de um
programa dito popular; quem vai chorar menos em 5 de outubro?
Na mais surpreendente campanha eleitoral desde a
redemocratização do Pais, em 1985, o momento agora é o do sentimentalismo. Esse
componente entrou de forma inevitável na eleição de 2014 com a tragédia que envolveu
a morte do presidenciável Eduardo Campos e mais seis pessoas, em acidente
aéreo, em Santos, contados 30 dias atrás. Mas ganhou um corpo vivo na
sexta-feira 12, quando a candidata Marina Silva, do PSB, sucessora de Campos,
assumiu as feições de vítima de uma alegada conspiração política destinada a
destruir-lhe a imagem.
- Tenho medo do que Lula pode fazer comigo, disse ela,
lacrimejando, na busca de aplacar as críticas da campanha petista. Neste
ponto, a estratégia não deu certo.
Flagrada em uma série de contradições no seu próprio
programa de governo, que se mostrou uma típica colcha de retalhos com trechos
copiados e colados de artigos acadêmicos, indefinição em assuntos estratégicos
como o pré-sal e viés notadamente pró-mercado financeiro ao defender a
autonomia do Banco Central diante do presidente eleito da República, Marina se
tornou alvo fácil para ataques.
Um a um, cada escorregão da candidata do PSB vai
sendo explorado politicamente pela presidente Dilma Rousseff, o
ex-presidente Lula e a militância do PT. Com uma ênfase que não poderia
ser menor diante do prêmio em jogo: nada menos que a chefia do Palácio do
Planalto.
MODELO SÉCULO 19 - Corrente
literária e filosófica do final século 19, o sentimentalismo é visto hoje como
uma manifestação de jovens sonhadores da época contra instituições seculares e
poderosas como o Estado e a Igreja. Seus adeptos não tiveram grande
notoriedade, mas é certo que os dois grandes adversários permanecem firmes e
fortes até os dias de hoje.
A julgar pelas pesquisas eleitorais, a Marina que se
posiciona como vítima de ataques desproporcionais desferido pelo PT vai
precisar de mais do que lágrimas para recuperar seu favoritismo na disputa.
Assim que assumiu o lugar de Eduardo Campos, cerca de 25 dias atrás, ela disparou
nas preferências e mostrou, então, uma face bastante diferente. Nos
debates realizados pelas redes Bandeirantes e SBT, e também em suas peças de
propaganda eleitoral, Marina tomou a cena falando quase que na
qualidade de presidente eleita, tal a certeza que procurava transmitir ao
público - assim como desprezo pelo trabalho de Dilma e sua equipe.
Os principais assessores econômicos marineiros, Eduardo
Gianetti da Fonseca e André Lara Resende, foram aos jornais e a debates
fechados espalhando modelos sobre como devem ser as coisas no Ministério da
Fazenda e no Banco Central. Eles não demonstraram qualquer reconhecimento pelo
trabalho feito nos últimos anos pelos atuais titulares Guido Mantega e
Alexandre Tombini. A ideia, natural e compreensível numa campanha eleitoral,
era destruí-los com os argumentos à mão.
Nessa hora de ataque, a herdeira do banco Itaú, Neca
Setubal, saiu a campo para lembrar que fizera ela própria a maior parte do
trabalho destinado ao Rede, sob o guarda-chuva do PSB, na confecção do programa
de governo comum às duas agremiação. Até pouco antes da morte de Campos, de
resto, a própria Marina continuava sólida em sua decisão de, com qualquer
resultado, afastar-se do partido em 2015 e retomar a formação do Rede. A
bola, para usar uma expressão popular, estava no campo deles.
Houve, no entanto, escorregões. Considerando-se
avassaladora do ponto de vista eleitoral, Marina desdenhou da importância
econômica do petróleo e do pré-sal, afirmou e reafirmou sua bandeira de
autonomia do Banco Central e, assustada com a reação contrária do pastor Silas
Malafaia, um rematado coletor de dízimos e contribuições de legiões de fiéis de
sua congregação pentecostal, recuou em sua posição de proporcionar às uniões
homoafetivas o status de casamento como outro qualquer
.
No lugar dos adversários petistas, seria muito difícil
não reagir como Dilma e Lula passaram a fazer. Ambos, cada um ao seu modo,
trataram, em própria defesa, de apontar os paradoxos da Marina pré-morte de
Campos e sem favoritismo eleitoral em relação à mesma Marina que surgia
eufórica e soberana na onda das pesquisas.
TERGIVERSAÇÃO COM GAYS - Diante
da exposição de contra-argumentos, os petistas extraíram de Marina, primeiro,
negativas para o que dissera, por exemplo, sobre o pré-sal, mas também
reafirmações como a da defesa da autonomia do BC sobre o governo eleito.
A
candidata do PSB procurou tergiversar sobre as tradicionais bandeiras do
movimento LGBT, mas não viu problemas em se solidarizar à amiga Neca Setubal,
responsável pela doação de R$ 1 milhão que correspondeu a 83% de tudo o que foi
arrecado pelo Instituto Marina Silva no ano de 2013. Na disputa pela grande
franja popular do eleitorado, a candidata do PSB achou que poderia carregar
Neca ao seu lado sem qualquer questionamento sobre origem e questão de classe,
mas isso foi impossível.
Frustrado o movimento racional de defesa, o que fez
Marina. Chorou. E para um ataque do ex-candidato a presidente Ciro Gomes, disse
simplesmente que daria "a outra face", sem, outra vez, entrar no
mérito objetivo da discussão.
Ainda não se sabe que o chororô sentimental de Marina é
alguma artimanha de marqueteiros, mas está claro que a aposta nesta estratégia
é alta. À medida em que evita debater claramente seu programa de governo,
talvez com receio de que ele não obtenha a concordância da maioria necessária
para eleger um presidente, Marina passa uma imagem ao eleitor completamente
diferente da apresentada nas fases imediatamente anteriores da eleição. Crítica
e mau humorada ao lado de Campos, superior e segura durante a fase de alta nas
pesquisas, agora ela é a mulher frágil que tem medo do que os adversários podem
fazer com ela.
Trata-sem de uma aposta num único número: se o eleitor
ficar penalizado, ela vence, mas se o voto da maioria for racional, pouco dela
vai sobrar. Entre lágrimas, a sorte foi novamente lançada, a 23 dias da
eleição.
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