Dilma para O Globo: "Eu não só não paguei bolsa banqueiro, como também não recebi"
Hoje, em sabatina para o Jornal O Globo, Dilma falou de temas
essenciais de seu governo e dos seus projetos para o segundo mandato. A
presidenta e candidata à reeleição não se esquivou de nenhuma pergunta, apesar
de o tom dos jornalistas ter causado estranhamento. Diferentemente do que
fizeram com os outros presidenciáveis, os jornalistas (Artur Xexéo, Ilimar
Franco, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Fernanda da Escóssia, Ancelmo Gois e
Míriam Leitão) atuaram com uma postura ofensiva, de inquisição, interrompendo
Dilma a todo momento com tom alterado.
Os
principais temas tratados por Dilma foram:crise/geração de empregos, segurança pública, balanço do governo, reforma
política, acusações da candidata Marina Silva, Petrobras e
CPI, religião,Comissão Nacional da Verdade e criminalização da homofobia.
Apesar
dos ânimos alterados dos jornalistas, Dilma se manteve calma e respondeu a
todas as questões com precisão. Sobre a crise, ela ressaltou que, para entender
o momento por que passa o Brasil, é necessário entender a conjuntura
internacional, em que os principais mercados consumidores do mundo estão em
recessão. Dilma ressaltou que o número de empregos criados no Brasil em agosto é surpreendente
neste contexto econômico: “101 mil empregos criados agora em agosto não são
fáceis nessa conjuntura”, explicou. “A nossa diferença é que enquanto alguns
países reagem desempregando, cortando salário e direitos sociais, nós
aumentamos emprego e renda”.
Dilma
também falou sobre a necessidade de reformar o sistema político brasileiro. “Nós avançamos muito na
questão da democracia, incluímos milhões de brasileiros, o Brasil mudou. Mas,
em relação ao sistema político, o Brasil ficou atrasado”, disse. A presidenta
esclareceu que mandou uma proposta de reforma para o Congresso depois das manifestações de junho do
ano passado, mas que acredita que essa mudança necessária só virá com pressão e participação popular em votações de algumas alternativas para a reforma
a serem enviadas para o Congresso Nacional. “A consulta popular não é retórica.
Só ela dá legitimidade para aquilo que a sociedade escolher”.
Ao
ser questionada sobre a crise de representatividade por que passa o mundo todo,
Dilma falou da importância dos partidos políticos para a democracia. “Eu não
acho que a democracia possa prescindir de partidos. Se tiver isso, vai ter por
trás do pano alguéns muito poderosos, que são os mais ricos. Eu acho que é do
conflito entre partidos que nasce a democracia”. Ao final, Dilma reforça a
importância da participação popular: “Se você me perguntar: 'tem partido
demais?'. Eu digo que tem sim. Mas não sou eu que tenho que decidir qual
partido é excessivo. É o público através de um plebiscito”.
Dentro
do mesmo assunto, Dilma respondeu às declarações da candidata
Marina Silva, que afirma que só governará com os bons. A
presidenta explicou que é preciso garantir governabilidade e conversar com os
partidos para ter sustentação no governo: “Aquela discussão de “eu vou governar
com os bons” é uma proposta que não se sustenta diante da realidade. Quem é que
vai governar com os maus? Todo mundo quer governar com os bons. Essa proposta
em si não resolve a questão da reforma política”, declarou.
Dilma
voltou a falar da vitimização de Marina, quando questionada sobre as
acusações da candidata de oposição. “Eu não estou falando mal da candidata, eu
estou discutindo os termos políticos postos e propostos por ela em seu programa
de governo”, disse. E explicou: “Eu não recebi contribuição pessoal de banco.
Eu não só não paguei bolsa banqueiro como também não recebi”. Dilma voltou a
defender a importância dos bancos públicos na
viabilização de programas sociais como o Minha Casa Minha Vida e para garantir
o crescimento da indústria e a manutenção do crédito em épocas de crise. Vale
lembrar que Marina Silva tem declarado que, se eleita, vai diminuir o papel dos bancos públicos na economia.
Sobre Direitos Humanos, Dilma ressaltou a importância da
criação da Comissão Nacional da Verdade, que vai apresentar o primeiro
relatório em dezembro deste ano e representa um salto importante no resgate e
memória dos presos políticos e torturados neste país na época da ditadura
militar, dos quais a própria Dilma faz parte. Além disso, ela voltou a dizer
que a criminalização da homofobia é fundamental para um país como Brasil, “assim como
foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher”,
declarou. “O Estado não pode impor obrigatoriedade do casamento religioso, mas
tem obrigação de reconhecer todos os direitos que existem em um casamento entre
homem e mulher para pessoas do mesmo sexo. Isso foi resolvido pelo Supremo”.
Em
suas considerações finais, Dilma disse acreditar que o Brasil tem todas as
condições de dar um grande salto no crescimento por meio da educação. “Eu acredito que a educação será um fator fundamental para que nós
façamos da inovação um dos nossos maiores instrumentos de avanço”, disse. A
presidenta reforçou que o Brasil precisa continuar enfrentando a crise
econômica e o desemprego. “Todas as modificações que não afetem emprego e
salário, nós faremos”, finalizou.
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