CAÇADA A LULA MARCA UM PAÍS CONFLAGRADO
Por Tereza
Cruvinel
O
dia começou cheio de notícias do "fim do mundo" em um país tropical
bonito por natureza mas agora vincado pela intolerância e cada vez mais
dividido pelo muro do "nós e eles". As fotos dos enfrentamentos
físicos na porta da ABI durante ato em defesa da Petrobrás e do ex-ministro
Guido Mantega sendo expulso de um hospital por pessoas exaltadas são apenas o
emblema do que se passa no leito largo da sociedade, onde a questão política
divide até as famílias. Enquanto isso, os ativos do país vão se erodindo.
No
ato de ontem, Lula fez o que mesmo que em 2005, quando cresceu o movimento por
seu impeachment: avisou que não se mataria como Getúlio, não renunciaria como
Jânio, não seria deposto como Jango nem sofreria o impeachment como Collor.
Chamaria o povo de casa em casa para defender a vontade popular que lhe dera o
mandato. E o fez porque sabe que, mais do o impeachment de Dilma, busca-se a
sua inelegibilidade em 2018. Isso é que resume sua frase desafiadora de ontem:
"O mais importante legado que minha mãe me deixou foi o direito de andar
de cabeça erguida e ninguém vai fazer eu baixar a cabeça neste país.
Honestidade não é mérito, é obrigação. Eu quero paz e democracia, mas se eles
querem guerra, eu sei lutar também".
Lula
sabia, há alguns dias, que as investigações da Operação Lava Jato miravam as
obras do setor elétrico. Exatamente porque a maior parte dos contratos com
empreiteiras para a construção das grandes hidrelétricas do norte do país foram
firmados em seu governo. Com a descoberta de irregularidades nestes contratos
ele poderia vir a ser responsabilizado e, se condenado, ficaria inelegível.
Hoje circula a notícia de que os acordos de delação premiada que estão sendo
negociados entre o Ministério Público Federal no Paraná e os executivos de
empreiteiras presos podem incluir o setor elétrico. Eles vêm resistindo, diz a
colunista Monica Bérgamo, da FSP, mas a pressão dos procuradores é grande. E
nesta altura, tudo o que desejam "é colocar um ponto final da situação em
que se encontram", nas celas do juiz Moro.
Quase
todas as grandes empreiteiras participam dos consórcios montados para realizar
aquelas obras monumentais, como a usina de Belo Monte e as de Jirau e Madeira.
Belo Monte é o primeiro alvo das investigações.
Para
"pegar Lula", vem sendo articulada também no Senado a CPI do BNDES.
Ontem alguns deputados da oposição discursaram contra o financiamento de obras
em Cuba, Moçambique, Angola, Equador, Argentina e outros países. Em verdade, o
BNDES nem poderia financiar obras em países estrangeiros. O que ele fez foi
aportes financeiros para as empresas brasileiras que foram contratadas para
obras como o porto de Mariel, em Cuba, mediante a condição de que todos os
insumos sejam comprados de indústrias brasileiras, gerando emprego e renda
dentro do país. A desejada CPI do BNDES quer investigar estes financiamentos e
o papel que Lula teve na contratação de tais obras, quando era presidente, com
sua diplomacia presidencial ativa.
Tornar
Lula inelegível, para as forças de oposição, é atalho mais certo para a alternância
no poder em 2018. Se Dilma fica, com o governo cercado e imobilizado, terminará
como uma pata manca, sem condições de influir na sucessão. E se Lula estiver
fora do páreo, será mamão com açúcar.
Jogo
é jogo, também na política. Mas o limite dos jogos de poder é o interesse
coletivo. Se para ganhar for preciso destruir os ativos do país, como a
Petrobrás, as empreiteiras e suas associadas, deixa de ser jogo e vira guerra.
E nas guerras, o povo sempre perde.
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