“Vou esmiuçar a alma dele”: o juiz que pegou o Porsche de Eike
Na primeira semana de fevereiro, policiais recolheram um
piano, relógios, obras de arte e o celular de Eike Batista. Poucos dias depois,
foi a vez de seu iate, jet skis e três carros na mansão da ex-mulher dele, Luma
de Oliveira, mãe de Thor e Olin.
Os mandados de apreensão são resultado
do bloqueio de 3 bilhões de reais decretado pelo juiz Flávio Roberto de Souza.
Eike é acusado, entre outras coisas, de ter negociado ações com informações
privilegiadas (insider trading).
Souza, que conduz o processo na
Justiça Federal do Rio de Janeiro, apareceu no Fantástico no domingo passado
batendo pesado na família Batista. “Por que ele não vendeu a Lamborghini e
pagou dívidas? Eles continuam numa ostentação que é totalmente incompatível a
quem tem dividas bilionárias”, disse.
No programa, aproveitou para
declarar-se “absolutamente isento”. Não tinha “nenhum interesse” em condenar ou
absolver Eike Batista.
Mas o país dos juízes vingadores tem
caprichos inexpugnáveis.
Souza foi flagrado dirigindo o Porsche
Cayenne de Eike Batista. Segundo sua versão, o veículo foi parar em sua garagem
na Barra da Tijuca por falta de vagas no pátio da Justiça Federal e para
protegê-lo do sol e da chuva.
O site Ego descobriu que a Range Rover
de Thor Batista também foi visto no prédio do magistrado. Sergio Bermudes,
advogado de Eike, acredita que o piano estaria também na casa de Souza.
Sua imparcialidade havia sido colocada
em dúvida há meses. Mas quem se importa realmente com esse detalhe em se
tratando da luta do bem contra o mal?
Em janeiro, o Ministério Público
Federal se opôs a seu afastamento. A defesa o havia pedido por causa de seu
“prejulgamento”, patente em reportagens. Logo após a primeira audiência,
transformada em show, chamou o réu de “megalomaníaco”.
Numa entrevista ontológica (você leu direito) ao Extra, jactou-se
de seu budismo e de sua faculdade de perceber se uma pessoa está sendo sincera.
“Ainda é prematuro traçar algum perfil, mas o momento oportuno para me
manifestar sobre isso será nas sentenças dos processos. Até lá, terei feito o
interrogatório dele. Aí, olhando no olho, vou saber como ele é. Tudo que
conheço é midiático”, afirmou.
“Tive dois contatos com ele, mas
apenas em audiências. Pela minha experiência e formação, vou entrar na
personalidade dele. Vou entrar mais fundo na essência dele. Até pelas minhas
práticas budistas, tenho muita facilidade de saber quando a pessoa está
mentindo ou falando a verdade. Vou esmiuçar a alma dele. Pedaço por pedaço.”
Nada disso era problema, segundo a
procuradora regional da República Silvana Batini, autora do parecer mantendo o
juiz no caso. “A prática [de falar com a imprensa] é comum, mesmo com ministros
do STF. A cautela recomenda que as declarações sejam cuidadosas, mas a
exigência de transparência e o crescente interesse da população pela Justiça
acabaram por forjar um novo padrão de comunicação. O juiz não é mais um
personagem hermético e recluso”. escreveu.
É o STF fazendo escola. Você nunca
pensou que teria saudade do tempo em que juízes eram herméticos e reclusos, não
tinham assessoria de imprensa, não davam carteiradas em blitz de bafômetro e
não prejulgavam. Faltava pegar os automóveis dos outros para dar umas bandas
por aí. Não falta mais.
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