Intervenção militar no Estado Islâmico perpetuaria tensões no Oriente Médio
Como a guerra contra o EI perpetua o ciclo de
violência no Iraque
Carta Capital
Com o pedido de autorização ao Congresso no último
dia 11, com a finalidade de degradar e destruir o Estado Islâmico (Islamic State of Iraq and al-Sham – ISIS, em
inglês), o governo americano oficializa mais uma intervenção militar no Oriente
Médio. O pedido, uma formalidade que ‘legaliza’ operações militares iniciadas
há mais de seis meses no Iraque e em seguida estendidas à Síria, não especifica
território geográfico, mas estabelece um limite de três anos para as operações.
O plano consiste em uma combinação de ataques aéreos e
treinamento de milícias locais de curdos, do exército iraquiano e de “rebeldes
moderados” na Síria.
Deste modo, o presidente americano Barack Obama, vencedor do prêmio Nobel da Paz e eleito sob a
promessa de acabar com a guerra do Iraque, deixará a Casa Branca em 2016 em
plena guerra, já tendo conduzido operações militares em pelo menos oito países
muçulmanos até agora: Síria, Iraque, Afeganistão, Líbia, Paquistão, Iêmen,
Sudão e Somália.
O que a intervenção militar não inclui é uma
solução política para o conflito entre xiitas e sunitas, ou para a falta de
instituições democráticas que permitam qualquer estabilidade na região. Como
lembrou Kofi Annan em seu discurso de abertura na Conferência de Segurança em Munique em fevereiro de 2015,
isso é um grave problema, pois tal instabilidade é causada em grande parte pela
invasão do Iraque em 2003 e por políticas ocidentais pós-intervencionistas.
A guerra contra o Terror, declarada após o ataque
terrorista de 11 de setembro, foi fator importante na criação do Estado
Islâmico. A invasão do Iraque em 2003 não só criou um vácuo de poder que levou
a um governo repressivo e intolerante, como deixou desocupados centenas de
milhares de soldados, ainda segundo Kofi Annan. Como bem observou Jeremy Scahill, autor de Guerras Sujas, no
dia que Paul Bremer, encarregado da ocupação do Iraque, despediu 250 mil
soldados iraquianos por serem afiliados ao Partido Baath, um exército de
inimigos foi criado. O aprisionamento de iraquianos também contribuiu para a
radicalização de prisioneiros, como Abu-Bakr al-Baghdadi, um dos líderes do
Estado Islâmico, prisioneiro dos EUA de 2005 a 2009, no Camp Bucca no
Iraque.
A retirada de
Saddam Hussein do poder resultou em atos violentos de todos os lados: forças
militares do governo do Iraque, forças aliadas e insurgentes sunitas. O governo
de Nuri al-Maliki, estabelecido com o apoio dos EUA em 2006, deu início a um
violento regime de opressão dos sunitas, contribuindo para a radicalização
crescente de grupos rebeldes. Em 2008, o Relatório de Direitos Humanos publicado pelo próprio
governo americano revelou “violência sectária, étnica e extremista, combinada
com fraco desempenho do governo […] resultando em amplo, severo abuso de
direitos humanos”. Segundo David Romano, o governo corrupto de al-Maliki, com o apoio
incondicional de Washington, enfraqueceu ainda mais a nação.
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