Entenda por que o “Fora CorruPTos” não ajuda o País
Aloizio Mercadante, Eduardo Cunha, Michel Temer, Miguel Rossetto e Dilma Roussef durante encontro do governo com o PMDB no início do ano
A
tese de que a corrupção é exclusividade do PT só beneficia os próprios
corruptos. O problema é mais complexo e não existe solução mágica.
por Lino Bocchini - na Carta Capital
Na avenida Paulista não haviam faixas
ou cartazes contra o PPou
o PMDB, partidos líderes em número de parlamentares na já famosa lista do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Tampouco alguém foi às
ruas reclamar do governo Geraldo Alckmin (PSDB) por conta do cartel do metrô ou do caso Alstom,
mesmo com o atraso colossal das obras do metrô paulista. Nenhum organizador ou
manifestante entrevistado pela imprensa criticou as empreiteiras,
corruptoras maiores deste País e cujos presidentes foram presos na Operação Lava
Jato. Sobre o caso HSBC,
a mais nova evidência da lavanderia suíça de dinheiro, também nenhuma palavra,
apesar das centenas de figurões brasileiros envolvidos.
Os focos dos atos do domingo 15 de
março em todo País
foram exclusivamente o PT, Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. A pauta
central na avenida Paulista, em Copacabana, na Esplanada
dos Ministérios ou nos demais locais
onde houve aglomerações foi
a derrubada da presidenta. A divergência era quanto ao método – uns preferiam o impeachment,
outros a intervenção militar. E todos alegam, contudo, tratar-se de um ato
apartidário e contra a corrupção.
Não,
caro leitor. Este não é mais um texto para justificar a "roubalheira do
PT", apontando os erros semelhantes cometidos pelos demais partidos. É uma
modesta contribuição para um debate menos agressivo e simplista.
Falemos
do "Fora CorruPTos" e dos gritos "Fora Dilma" e "Fora
PT".
Desculpem-me, mas apenas com ingenuidade ou má-fé é possível
acreditar em uma solução mágica. Tiramos a Dilma, o peemedebista Michel Temer
vira presidente e tudo estará resolvido? Ou impede-se a chapa toda, caem Dilma
e Temer e assume o Eduardo Cunha, aquele que nesta quarta-feiraderrubou o
ministro da Educação em
poucas horas por ele ter dito umas verdades. Desta forma estará moralizado o
governo?
Obviamente
não. Haverá, isso sim, uma piora da situação atual: ficará aberto o
caminho para que os demais políticos corruptos sigam fazendo o que bem
entenderem, sem o ônus de serem do PT. Os manifestantes do dia 15 pensarão:
“pronto, derrubamos a Dilma, agora acabou a corrupção no Brasil”. E outras
legendas fisiológicas, tão ou mais interessadas no poder e no dinheiro do que o
Partido dos Trabalhadores, seguirão mandando na nação.
Vale outro lembrete: em nenhuma hipótese prevista na
Constituição o presidente empossado será Aécio Neves.
Para chegar ao Planalto o senador do PSDB precisará ser eleito pela maioria da
população em 2018, o que não aconteceu em 2014.
Um combate real à corrupção no Brasil é muito mais
complicado e demorado do que os memes dos revoltados on-line e MBLs
da vida “ensinam”. Exige debate sério e engajamento diário de toda a população
em assuntos considerados chatos, como uma profunda reforma política.
Aliás,
mesmo a reforma política não é necessariamente a solução. Nada mais é do que um
conjunto de leis acerca do sistema político-eleitoral. Pode ser um bom
conjunto ou não. E uma mesma proposta, como o fim da reeleição ou a unificação
do calendário eleitoral, pode ter um lado bom e um lado ruim, dependendo da
leitura que se faça. De novo, é preciso se informar com cuidado e rejeitar
simplificações.
É
trabalhoso, mas para progredir vamos precisar todos lermos mais, conversarmos
mais, nos informarmos mais, desconfiarmos mais. E sempre pautados pelo bom
senso, e não pela raiva.
Se
a simples retirada de Dilma resolvesse os problemas nacionais ou ao menos a
corrupção, eu estaria na rua gritando pela sua derrubada. Mas, como em todos os
aspectos da nossa vida, na política as promessas mirabolantes também não são
verdadeiras. Acreditar na derrubada de Dilma como o fim dos problemas no Brasil
é como acreditar naquele cartaz que promete “trazer a pessoa amada em sete
dias”. Abra o olho.
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