Graça: "Privatizar a Petrobras e deixar os corruptos não faz sentido"
Em
depoimento na CPI da Petrobras, nesta quinta-feira (26), a ex-presidente da
estatal Graça Foster disse que o esquema de corrupção "se formou fora da
Petrobras" e saiu em defesa da empresa, dizendo que é preciso combater e
punir os corruptores. "Privatizar a Petrobras e deixar os corruptos
lá dentro não faz sentido. Manter a Petrobras e também deixar os corruptos, não
faz sentido", disse.
"Eu não vivo dois mundos, dois princípios.
Meu princípio é da ética. Eu interrompi minha carreira, nós (eu e meus
companheiros de diretoria) saímos da Petrobras porque entendemos que a
transparência nas investigações seria maior sem a nossa presença",
reafirmou Graça sobre a sua saída da estatal.
Em
resposta ao deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI, sobre as ações de
controle da empresa feitas pelo Tribunal de Contas da União, bem como as
auditorias externas feitas pela Price Waterhouse, Graça disse que nada foi
verificado. Luiz Sérgio lembrou que o ex-presidente da Petrobras Sérgio
Gabrielli também disse à CPI que a corrupção era algo externo à empresa.
O relator
perguntou a Graça Foster se procediam as afirmações atribuídas aos delatores da
Operação Lava Jato Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Pedro Barusco de que
as licitações na Petrobras eram feitas de maneira muito correta.
"Não
conheço caso em que diretores da Petrobras tivessem tido informações de
vencedores de licitações antes da abertura dos envelopes de propostas",
disse Foster ao negar o vazamento de informações privilegiadas.
Graças
considerou como "justo" o valor contábil de R$ 88 bilhões referentes
a perdas da Petrobras, conforme balanço da empresa apresentado ao Conselho de
Administração da Petrobras em janeiro último. No entanto, rebateu aqueles que
dizem que esse valor corresponda a perdas com corrupção verificadas pela
Operação Lava Jato. "Esses R$ 88 bilhões representam o valor justo por
conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não
são o número da corrupção", disse.
Balanço
"Eu
defendi na ocasião que o mercado deveria ser informado deste valor, mesmo que a
metodologia usada para fazer o cálculo seja questionada", disse Graça
Foster. "A presidente Dilma Roussef pediu para a senhora não divulgar este
balanço?", perguntou o deputado oposicionista Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
"Não, a presidente nunca me pediu isso", ela respondeu.
Lorenzoni
também questionou a ex-presidente da Petrobras a respeito da afirmação feita
pela ex-funcionária da Petrobras Venina Velosa de que teria alertado Graça
Foster a respeito de corrupção na Petrobras. Graça voltou a dizer que não foi
informada de irregularidades, fato que foi reafirmado pelo Ministério Público
que dispensou Venina como testemunha por considerar que suas informações tinham
pouca relevância para a investigação.
Graça
destacou que os órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União,
melhoraram a gestão da estatal e ressaltou o papel da Polícia Federal. "O
grande descobridor foi a Polícia Federal, não foram os auditores nem a própria
empresa que descobriu", disse.
Ela disse
que a Price Waterhouse, empresa de auditoria contratada pela Petrobras,
avalizou sem ressalvas as contas da empresa a respeito do primeiro trimestre de
2014. Ela acrescentou que a Price só mudou o parecer depois da divulgação dos
depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.
Câmbio prejudica Petrobras
Ao
responder as perguntas sobre a saúde financeira da estatal, Graça disse que o
câmbio é, hoje, um dos grandes problemas da empresa. "O dólar acima de R$
3,00 é muito ruim para a Petrobras", disse ela.
Graça
reafirmou que mandou cancelar todos os contratos da Petrobras com a empresa
holandesa SBM Offshore assim que soube do pagamento de propinas a diretores
pelo empresário Bruno Chabas, representante da própria SBM. "Eu disse a
ele que cancelaria os contratos se ele não me dissesse quem pagou propina a
quem, o que acabei fazendo", disse.
Esquema de Barusco desde FHC
Ela
afirmou que a Petrobras analisou todos os contratos com a SBM, sem identificar
sobrepreço ou indícios de corrupção. "Eu não consigo imaginar como pode
ser verdadeira a fala do (Pedro) Barusco (ex-gerente de Tecnologia da
Petrobras, que fez delação premiada) de que ele, sozinho, recebia propina. Até
hoje não temos um retrato oficial da propina da SBM. Só temos a fala do
Barusco. A Petrobras fez investigações nos contratos com a SBM: fomos à CGU, ao
MPF (Ministério Público Federal), à Holanda e eles entendem que não sabem quem
pagou propina para quem", disse a ex-presidente da empresa.
Barusco
disse, à Justiça Federal, que começou a receber propina da SBM em 1997 ou 1988,
enquanto ocupava o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações da Diretoria
de Exploração e Produção da Petrobras. Como os contratos eram de longa duração,
ele admitiu ter recebido propina regularmente até 2003, período em que era
gerente de Tecnologia de Instalações. De 1997 (ou 1998) a 2010, disse ter
recebido US$ 22 milhões de propina por conta de contratos entre a Petrobras e a
SBM, dinheiro depositado em contas no exterior operadas por Júlio Faerman,
representante da empresa.
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