NO BURACO DA GIA NÃO CABE O BRASIL
Enquanto líderes da oposição vendem a 'desindustrialização' do País e alguns catastrofistas do mercado financeiro falam até em 'fim do Brasil', a Fiat apresentou, em Goiana (PE), o Jeep Renegade
Você, certamente, já ouviu falar na suposta
"desindustrialização" do Brasil. É um dos motes mais usados por
lideranças da oposição, a começar pelo senador José Serra (PSDB-SP), que
utiliza essa expressão dia sim, dia não. No mercado financeiro, correntes mais
catastrofistas, como da consultoria Empiricus, vendem até o "fim do
Brasil", como se o País estivesse prestes a implodir.
Aos que só enxergam problemas,
conviria conhecer a cidade pernambucana de Goiana, na região metropolitana do
Recife, onde, ontem, a Fiat apresentou o jipe Renegade, que será produzido no
local. Até poucos anos atrás, Goiana era
um município visto como periférico, tipicamente uma cidade dormitório, onde a
base da economia estava ligada ao setor sucroalcooleiro. Até então, a pequena
cidade com cerca de 80 mil habitantes tinha como seu destino mais famoso o
restaurante BURACO DA GIA, especializado em frutos do mar e onde goiamuns gigantes (tipo de caranguejos) seguram os copos de cerveja com suas enormes patas, para deleite de clientes que não têm coisa melhor para fazer com seu tempo.
Nos últimos dois anos, porém, a
paisagem local mudou radicalmente. A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) escolheu a
cidade para sediar seu mais moderno parque fabril em nível mundial, um
investimento de cerca de R$ 7 bilhões. É dali, na Zona da Mata Norte
pernambucana, que a montadora aposta em seu mais novo lançamento, o Jeep
Renegade, para conquistar o mercado.
E enquanto a montadora atua
nesta direção, trabalhadores, municípios e Estado comemoram o avanço na
economia, apesar dos pregoeiros do catastrofismo afirmarem que o país caminha
para o buraco.
A fábrica da Jeep, que deverá
ser inaugurada oficialmente em abril, terá capacidade para produzir 250 mil
veículos anualmente. Ao todo, deverão ser gerados cerca de 8 mil empregos
diretos. A estimativa do governo do estado aponta que, em 2020, o PIB
pernambucano terá uma participação de 6,5% decorrente do pólo automotivo de
Goiana.
Considerando os sistemistas,
como são chamados as empresas que fornecem materiais e equipamentos necessários
à produção e que costumam acompanhar este tipo de investimento, a estimativa é
que sejam gerados 47,5 mil novos postos de trabalho ao longo de toda a cadeia
produtiva, considerando a implantação e a operação da unidade.
Essa geração de empregos terá
um impacto significativo na massa salarial. Em 2010, este volume era de R$ 347
milhões e deverá saltar para R$ 2,3 bilhões em 2020, considerando apenas os
três municípios mais impactados pelo projeto: Goiana, Igarassu e Itapissuma,
segundo estimativas da consultoria Ceplan.
Nos outros sete municípios do
entorno, a massa salarial cresce de R$ 452 milhões para R$ 663 milhões, num
acréscimo de R$ 211 milhões. Levando-se em consideração todo o Estado de
Pernambuco, o incremento na massa salarial deverá crescer até 10,2%.
Os investimentos no polo
automotivo, contudo, poderão ser maiores quando levados em consideração a
projeção dos impactos econômicos feita a partir do modelo de insumo-produto,
com base nos investimentos e do valor da produção.
A previsão é que, até 2018,
sejam investidos cerca de R$ 4,4 bilhões em edificações e obras e outros R$ 5,2
bilhões em máquinas e equipamentos, somando uma injeção de R$ 9,6 bilhões no
polo automotivo como um todo.
Mas os investimentos não estão
restritos somente a Pernambuco. A Jeep está investindo cerca de R$ 250 milhões
na ampliação da sua rede nacional de revendas. O número de lojas da marca, que
era de 45, passará para cerca de 120 unidades, gerando emprego e renda em
diversos estados do país.
Fator
dólar
Até mesmo a alta do dólar
poderá beneficiar o nascente polo automotivo pernambucano. A razão para isto
está no fato da unidade industrial possuir uma estrutura de produção e
logística capaz de atender toda a América Latina, apesar de muitos componentes
e peças ainda serem importados. Além disso, o dólar mais caro encarece modelos
similares, produzidos fora do País.
Além disso, a base pernambucana
vai reduzir os custos logísticos que a montadora teria caso optasse pela
importação dos veículos ou até mesmo se eles fossem produzidos em Betim (MG),
onde a FCA já possui uma fábrica de veículos da marca Fiat.
A aposta da Fiat em Pernambuco
é mais um dos investimentos internacionais diretos no País, que continuam em
ritmo forte. Em fevereiro, o volume divulgado pelo Banco Central foi de US$ 2,8
bilhões.
Para quem só enxerga problemas,
visitar a pena cidade de Goiana valeria bem mais do que comer um prato de
frutos do mar. Renderia um pouco de otimismo e esperança quanto ao futuro, co constatar que o Brasil é muito maior que qualquer buraco.
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