Lula chama a polêmica para si. É bom, porque ele é o alvo da crise
A fala de Lula no ato realizado ontem em
São Paulo mostra que, definitivamente, o ex-presidente está saindo de uma
postura discreta dentro do atual processo político para a que lhe cabe, de
fato: a de maior referência, hoje, do campo progressista e da esquerda
brasileira, do qual esteve tanto tempo ausente. Aliás, desde muito antes que
eclodisse esta crise política.
Este
afastamento de Lula, que não foi provocado apenas pela postura de Dilma – com
suas dificuldades em convidá-lo a partilhar mais intensamente
as decisões de governo, o que Lula jamais iria exigir abertamente – mas
também a do PT, que ao perder seu comando, na prática, trabalhou por isolar-se
e passou a funcionar como uma federação de interesses setoriais, regionais
ou de “movimentos sociais”. Na disso, é claro, é ilegítimo, mas é muito aquém
das responsabilidade de um partido no governo, do qual passou a se sentir
apenas parte, mas não o condutor, o que não ocorria sob Lula.
Ontem,
para quem já viu um pouco da história política, ficou claro que coube a Lula –
e só ocorreu com a concordância de Dilma – fazer a autocrítica da postura
“autônoma” da Presidente, de seu isolamento político e do ajuste fino que
faltou em sua política econômica e que, agora, a obriga a medidas mais pesadas.
Lula
entrou definitivamente numa polêmica da qual a sua possibilidade de se
isolar era zero.
Porque
ele é o alvo e é à sua – até pouco tempo, certíssima – volta ao poder em 2018
que se volta a histeria dos grupos conservadores, agora, é certo, com muito
mais poder de arraste.
Lula
sabe também que ele, por natureza, capacidade política, experiência e empatia
popular quem pode falar na linguagem que o povo entende e enfrentar de frente o
problema da corrupção, que – ele próprio o lembrou – funciona em nossa história
como biombo do golpismo dos que se ergue contra governos de natureza
progressista.
Afinal,
só ele pode falar, no cargo ou fora dele, com a clareza que o momento exige:
” Se
alguém fizer merda, vai pagar o preço. As pessoas estão lá para trabalhar, para
mostrar sua inteligência e competência.”
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