Lula, o debate nos faz falta, e a falta do debate é o que nos isola do povo
Por Fernando Brito, no Tijolaço
Eu, volta e meia, vou olhar o número de
compartilhamentos e de comentários do post, por duas razões: não apenas é o que
defende o leite das crianças nas contagens malditas da publicidade como é, em
parte, o que mede a utilidade de escrever aqui.
Claro
que os posts que conseguem mais audiência e mais compartilhamentos são aqueles
em que se revela alguma situação escandalosa ou risível dos personagens da
direita, ou os que mostram exemplos de dignidade pessoal.
Quem
fez jornal sabe que reflexão não é manchete.
Ontem
à noite, no último espasmo de energia, escrevi – ou descrevi -como milhões de pessoas, eu inclusive, nos tornamos “lulistas”, sem que
isso represente para qualquer um de nós idolatria, nem a ele, nem ao PT.
Ficou
longe de ser um campeão de audiência, mas provocou uma polêmica fraterna que,
creio, a todos nos fez muito bem.
Todos
somos, pouco mais ou pouco menos, frutos de onde viemos. E nossa biodiversidade
é que nos faz mais fortes.
Vendo
o debate, lembrei-me de algo que muitos vão considerar insólito.
Veio-me
à mente o Severino, o Severino Pé-Pé.
Severino
era um mendigo, a quem não se sabia o que tinha atirado à rua, se antes a
cachaça ou se antes da cachaça um amor, uma tragédia pessoal.
Bronco
não era, e o Castro Alves que descia às catadupas da sua língua engrolada o
provava.
Se
não o deixavam entrar nas lanchonetes, nas lojas, nos mercados, havia um lugar
onde Severino poderia entrar: no terceiro andar da Rua 7 de setembro, n° 141,
onde se realizavam as reuniões do PDT, nos primeiros tempos de Brizola antes e
depois da vitória para o Governo do Rio.
Mesmo
quando um pouco alterado, Brizola pedia que o deixassem falar, “porque ele
é um homem que não tem nada a perder nem a ganhar, vai falar com sinceridade”.
Severino
não era um radical, mas era cru. Dizia algumas vezes o que nos faltava
ouvir.
Quando
vamos ao poder, encastelamo-nos, ouvimos pouco das pessoas que para lá nos
levaram e muito daqueles que, muito importantes, não nos quiseram lá.
Não
me excluo deste juízo, por certo.
Mas a
polêmica provocada pelo que, cheio de dúvidas e com uma única certeza
inabalável, escrevi mostra o quanto estamos carentes disso, do debate.
Se
Lula, de fato, quer reciclar o PT, deve chamar ao debate também a imensa – quem
sabe majoritária – parcela da esquerda brasileira que está fora dele mas que
reconhece nele, Lula, a expressão de um projeto popular para o Brasil.
Inclusive
aos Severinos Pé-Pé, aos excluídos, aos dissidentes, aos andrajosos, aos
desqualificados pelos homens “bons” e mesquinhos, que querem tudo para si e que
não são capazes de dizer, como ele fazia, com os cabelos ensebados a
transmutarem-se na cabeleira do poeta:
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!…
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!…
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
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