EUA x IRAQUE - Mais Uma Guerra Perdida, Mais Uma Mentira Deslavada
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No fundo, no fundo, Obama sabe que a coisa é bem diferente do que esperava.
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Os últimos invasoress dos EUA estarão fora
do Iraque dentro de três semanas. Foi o que o presidente Obama e o
primeiro-ministro do Iraque Nouri al-Maliki declararam ao mundo.
Acostumados a falar o que querem, e na maioria
das vezes mentiras deslavadas, disseram que os EUA saem do Iraque tão fortes
quanto lá chegaram e deixam, ao sair de lá, um país cada vez mais estável, mais
democrático e mais próspero. Só mentiras, nada além de mentiras.
Arrasaram o país, assassinaram – camuflados
em julgamento fajuto – o seu líder, de forma brutal, com seu enforcamento
registrado em imagens imediatamente distribuídas à imprensa. Dilapidaram
tesouros de milhares de anos e mancharam de forma irrecuperável uma cultura que
chegou até nós já nos primeiros anos de escola.
A operação de desinformação foi atentamente
cronometrada, para que o presidente Obama entre no ano das eleições
“declarando” aos quatro ventos que pôs fim a uma guerra muito impopular, sem
ter sofrido qualquer derrota. Já vimos a pré-estréia desse discurso há algumas
semanas, quando o vice-presidente Joe Biden visitou Bagdá, para louvar as
magníficas realizações dos EUA.
Ao longo dos anos, os iraquianos
habituaram-se a ver políticos estrangeiros que chegam em segredo a Bagdá,
sempre cercados por monumentais arranjos de segurança e que, mal põem o pé no
país, imediatamente se põem a emitir frases sobre os fantásticos progressos do
país e altas realizações dos EUA em todos os campos. Imediatamente depois das
tais frases, todos embarcam nos aviões que os trouxeram e escafedam-se do
Iraque
O vice presidente Biden disse que “conseguimos
converter o limão em limonada”; falou do Iraque de hoje como “uma cultura
política baseada em eleições livres e sob o império da lei”; e disse que “a
cultura política do Iraque, emergente e inclusiva, é garantia absoluta de
estabilidade”. Não disse coisa com coisa.
Mais uma vez, ao fugirem de uma guerra pela
metade, os EUA deixam atrás de si, na retirada, além do rastro irremovível de
sangue nativo, um Iraque em ruínas, dividido e destroçado.
A verdade é que o fracasso dos EUA, que nada
conseguiram de positivo nem no Iraque nem no Afeganistão ao longo de uma
década, apesar de seus gigantescos exércitos, e apesar de ter consumido vários
trilhões de dólares naquelas guerras, comprometeu irremediavelmente e
profundamente o seu status de única superpotência. Fossem quais
fossem os planos quando invadiu o Iraque em 2003, Washington jamais supôs que,
ao sair de Bagdá, veria no poder Partidos religiosos xiitas, com laços
estreitos com o Irã. E, no Afeganistão, nem o aumento do número de soldados nem
os $100 bilhões/ano conseguiram derrotar 25 mil combatentes Talibã famintos e
mal treinados.
A evidente incapacidade dos EUA para vencer
no Iraque e no Afeganistão contribuiu imensamente para a derrocada do país,
sobretudo, porque, na medida em que a vitória não aparecia, a política e as
políticas dos EUA foram sendo progressivamente militarizadas. O Congresso
aprovou vastíssimos orçamentos para o Pentágono, e apenas alguns bilhões para o
Departamento de Estado.
O assassinato a sangue frio de Osama bin
Laden e o fracasso dos militares, que não derrotaram os Talibã, aumentaram o
espaço de manobra do governo Obama e apressaram a retirada do Afeganistão. É
muito pouco provável que, em ano de eleição presidencial, depois de ter-se
retirado do Iraque e sonhando em conseguir sair a tempo também do Afeganistão,
Obama inicie mais uma guerra, dessa vez contra o Irã. Nos EUA e em Israel quem
insista em falar grosso com o Irã perde só alguns votos. Mas os votos fugirão
em maior quantidade, se Obama arrastar os EUA a nova guerra, dessa vez contra
oponente muito mais forte do que os EUA enfrentaram no Iraque; ou Israel, no
Líbano.
Em meio à pior crise econômica desde os anos
1930, o resto do mundo não agradecerá aos EUA e a Israel, se iniciarem um
conflito que fechará o Estreito de Hormuz e mandará à estratosfera o preço do
petróleo. Simultaneamente, a ‘desescalada’ no conflito retórico parece também
pouco provável, porque a ameaça do conflito interessa eleitoralmente a vários
grupos, tanto em Washington e Telavive, quanto em Teerã. Norte-americanos,
israelenses e iranianos, todos, identificam-se como salvadores messiânicos, em
luta contra inimigos satânicos. Qualquer acordo que ponha fim à ameaça de
conflito será sabotado, no plano político interno, nos EUA, em Israel e no Irã,
como ‘pacto com o diabo’.
A crise política provocada pelo Despertar
Árabe em todo o Oriente Médio não dá sinais de arrefecer. De fato, só dá sinais
de intensificar-se, nas lutas pelo poder no Egito e na Síria. O resultado da
guerra civil líbia poderia talvez estimular novas ações de intervenção
estrangeira, mas a crise econômica torna cada dia mais arriscado, para os
governos dos EUA e da Europa, qualquer tipo de envolvimento em guerras para as
quais ninguém vê final à vista.
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