ALTERAÇÃO DE PERFIL: LULA, DILMA, PETROBRÁS
Vamos
falar de bullying ideológico? Não faltam clássicos do jornalismo meliante a
incriminar Lula, sangrar o PT, indispor Dilma e a falir a Petrobrás.
Alteração de perfil: Picasso, Lula, Dilma e Petrobrás
Não se sabe ainda se foi um surto de megalomania ou de desespero.
Quem sabe as duas coisas juntas.
O fato é que jornalistas do maior oligopólio de comunicação do
país, cujos perfis foram alterados na Wikipédia com uso do sinal de Wi-Fi
do Planalto, declararam-se vítimas de uma política oficial de bullying
ideológico.
Promovida pelo ‘governo do PT’.
Claro.
Não importa que a trama careça de lógica. Manchetes faiscantes selaram o
enredo.
É preciso paciência. Vamos lá.
Personagens autoexplicativos, que vivem de reafirmar o que são, cujas
assinaturas se confundem com um timbre do que representam, demandariam alguma
conceituação adicional?
E do governo?
De um governo que investe a maior verba publicitária destinada à tevê
justamente no grupo ao qual os dois ofendidos pertencem?
E o faz a contrapelo de uma audiência crepuscular dos beneficiados
–atacaria assim?
Pela… Wikipédia?
De dentro do Planalto?
Carta Maior nasceu e se propõe a ser um espaço de reflexão da
esquerda que não renuncia à interdependência entre socialismo e democracia.
Sua isenção consiste em produzir jornalismo –com modestíssimos
recursos– a partir desse mirante histórico.
A opção não dispensa, ao contrário, pressupõe um ambiente de
pluralidade informativa para afrontar o denso nevoeiro da crise civilizatória
do nosso tempo, da qual o vale tudo do capitalismo é uma síntese robusta.
Os dias que correm demonstram: isso não é retórica.
Os referidos donos dos ‘perfis alterados’, no entanto, habitam um
universo de comunicação isento de dúvidas. E avesso ao
contraditório.
Desse minarete blindado sentenciam projetos, programas, lideranças,
movimentos, governos e reputações à fogueira purgativa de um capitalismo
entregue à sua própria lógica.
Ai dos que teimam.
Um metalúrgico teimou e chegou onde não devia, em 2003, enfiando-se
em uma faixa presidencial .
Sujeito sem termo, de jejuna experiência administrativa, o monoglota
pouco afeito aos bons modos, veio cercado de gente da mesma cepa e ungido por
malta de instintos equivalentes aos seus.
A elite e o dinheiro reagiram e reagem inconformados.
Vamos falar de bullying ideológico? De sistemática falsificação no
perfil? De onipresente e martelante adulteração de imagem?
Por exemplo.
Na edição da Folha de São Paulo –um braço dessa engrenagem–
desta 2ª feira (11/08), pequena nota corrige erro aparentemente
desprovido de maiores consequências, cometido no alvorecer do ciclo de
governos petistas.
Só aparentemente.
Na edição dominical de 07 de março de 2004, o jornal alimentara o
sentimento de menosprezo dos seus leitores pela coisa pública, oferecendo-lhes
um contundente exemplo da incompetência estatal, ademais do despreparo do novo
governo, para lidar com o próprio patrimônio.
Sob o título “Decoração burocrata –Desenho do pintor espanhol, que divide
moldura com restos de insetos, foi descoberto por historiador”, uma foto
gigantesca na 1ª página da Folha mostrava o que seria um autentico Picasso
(1881-1973), pendurado em uma das salas da direção do INSS, em Brasília.
Como então, uma gente que não consegue dar destino melhor a um tesouro
artístico do que ombreá-lo a um pôster de Lula, pode se propor a comandar o país?
Era a mensagem.
A intenção verdadeira.
Tão falsa quanto a originalidade da obra.
O tesouro, agora se admite, era apenas uma reprodução de desenho do
pintor de Guernica.
A confissão do bullying veio nesta 2ª feira.
Com uma década de atraso.
Ainda assim porque a barriga foi resgatada pelo cineasta Jorge Furtado,
que argui o padrão Frias de qualidade em seu recém lançado filme,
‘Mercado de Notícias’
A real dimensão do que estava em jogo remete a um processo bem mais
amplo de ‘alteração de perfil’ que ainda não terminou.
Empossado há um ano e três meses, o então Presidente Luís Inácio Lula da
Silva era alvo de um agressivo terceiro turno por parte de um dispositivo
midiático disposto a vingar a derrota do seu eterno delfim, o tucano José Serra.
O ataque era humilhante e implacável. Não raro grosseiro.
Três meses depois do Picasso, a mesma Folha e de novo na edição
nobre dominical ( 13/06/2004), estampava nova foto sugestiva na primeira
página.
Maior que a anterior, vinha encimada de manchete capciosa e
deselegante. A composição cuidava de cevar o ódio da classe média,
fidelizando-a no menosprezo e na desqualificação ao novo governo e ao seu
principal expoente.
Uma ração matinal para as famílias se enojarem da política e dos
políticos –sobretudo os do PT.
Na imagem, Lula toca um berrante numa angulação que dá sentido dúbio ao
seu gesto. A intenção ostensivamente buscada se explicita na
manchete garrafal a emoldurar o conjunto:
‘25% dos filhos da elite bebem demais’(http://acervo.folha.com.br/fsp/2004/06/13/2/)
O texto reitera a visada: “ (…) à noite, houve uma festa junina
para marcar os 30 anos de casamento do presidente (…) O carro de boi estava
carregado de comidas típicas, como carne seca, paçoca e biscoito de polvilho,
além de três litros de cachaça…”(Folha de S Paulo; 13/06/2004)
Isso é alteração de perfil ou jornalismo isento?
É coincidência ou ‘alguém deu ordem para isso’ –como afirmou um dos
personagens do ‘escândalo da wikipédia’?
Em dúvida, convém reler o texto da então colunista do jornal , Danuza
Leão, publicado dois dias depois do arraial na Granja do Torto, na
terça-feira,15/06/2004.
Com o título descolado, ‘Fala sério, Lula!’, a socialite completa o
serviço iniciado no domingo.
Estamos falando de uma virtuose na arte de adicionar preconceito de
classe ao antipetismo. Quem não se lembra do seu libelo contra os porteiros da
era Lula, que agora também andam de avião? (http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Daslu-Danuza-e-Da-o-fora-/30012).
Em 2004, ela já era boa nisso.
Trechos: ‘‘O Brasil tem tantos regionalismos bacanas (…) e o presidente e
dona Marisa Letícia vão escolher logo uma caipirada dessas? Foi um desastre
desde o começo: o tema da festa, o carro de boi chegando cheio de paçoca e
cachaça (…) Sempre se soube que a saudade de Fernando Henrique e dona
Ruth Cardoso ia ser grande, mas não dava para imaginar que fosse ser tão
grande. O arraiá foi de uma breguice difícil de ser superada, mas não
vamos perder as esperanças: até o fim do mandato eles talvez consigam” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1506200413.htm)
Não seria o auge.
Eles se superam.
Um clássico do gênero coube à edição da mesma Folha de S. Paulo, de
30 de setembro de 2006, véspera do 1º turno da eleição presidencial daquele
ano.
Um jato da Gol havia se chocado no ar com outro avião. Morreriam 155
pessoas.
A tragédia, de longe, era o destaque do dia. Mas a Folha, a mesma que
agora se retrata com uma década de atraso em relação ao falso Picasso,
descolaria outra obra de arte no gênero ‘falsificação de perfil’.
Virou um ‘case’ do jornalismo meliante.
A manchete em seis colunas (‘Fotos mostram dinheiro do dossiê’) faiscava
sobre a imagem de uma montanha de notas, supostamente para a compra de um
dossiê contra Serra –que havia abandonado a prefeitura para disputar o
governo do Estado.
Logo abaixo da pilha de dinheiro, a imagem de Lula, encapuzado com um
impermeável de chuva que cobria o seu rosto.
Dois homens ladeavam o presidente e candidato à reeleição contra o tucano
Geraldo Alckmin.
Coisa de profissional.
O conjunto compunha a cena típica do bandido capturado por policiais:
Lula reduzido à imagem de um marginal, emoldurado por dinheiro suspeito e
manchetes criminalizando o PT.
A caminho da urna. Ou do xadrez?
Foi assim a marretada no seu perfil público naquele sábado, véspera da
votação do 1º turno das eleições presidenciais de 2006.
Hors concours?
Nunca se sabe.
Como esquecer a peça de 17 de dezembro de 1989?
Sequestrado por ex-militantes políticos chilenos, o empresário Abílio
Diniz seria libertado do cativeiro naquele dia.
Presos, os sequestradores seriam fotografados e filmados pela Globo &
Cia usando camisetas do PT.
Isso aconteceu exatamente no dia da votação do segundo turno da disputa
presidencial, vencida por Collor.
Acabou?
Em 2010 teve a ficha da Dilma.
Em 2012, a
decisão do relator Joaquim Barbosa de calibrar o julgamento do chamado
mensalão, de modo a sentenciar o ex-ministro José Dirceu à boca da urna das
eleições municipais…
Assim por diante.
Como será a primeira página da Folha e assemelhados no dia 4 de setembro,
véspera do 1º turno das eleições presidenciais deste ano?
Não se pode alimentar ilusões.
Tome-se a fuzilaria contra a Petrobrás nos dias que correm.
O alvo é duplo: derrubar a estatal no colo da candidatura Dilma.
A empresa criada por Getúlio em 1953, fechou 2013 como a petroleira
que mais investe no mundo: mais de US$ 40 bilhões/ano; o dobro da média
mundial.
Ademais, é a campeã mundial no decisivo quesito de prospecção
de novas reservas.
Este ano, 36 novos poços já entraram em operação.
O pré-sal já produz 480 mil barris/dia.
Em quatro anos, a Petrobras estará extraindo 1 milhão de barris/dia da
Bacia de Campos.
Até 2017, investirá US$ 237 bilhões; 62% em exploração e produção.
Em 2020, só o pré-sal adicionará 2,1 milhões de barris/dia à oferta
brasileira.
Praticamente dobrando para 4 milhões de barris/dia a produção
nacional.
O bullying contra a empresa mal disfarça seus propósitos.
Seu empenho, neste momento, é sequestrar a Petrobras para o palanque da
campanha sombria: o ‘Brasil que não deu certo’.
Os números retrucam. O pré-sal mudou o tamanho geopolítico da nossa
economia.
O mais difícil foi feito.
O novo marco regulador transfere à Petrobras a responsabilidade soberana
de harmonizar duas variáveis básicas: o ritmo da extração e o do refino.
Ambos associados à capacidade brasileira de atender à demanda por
plataformas, máquinas, barcos, sondas etc.
Se a exploração corresse livre, todo o efeito multiplicador do
pré-sal vazaria em importações e geração de empregos lá fora.
Para internalizar as rendas do refino, cinco plantas estão sendo
construídas, simultaneamente.
A Abreu de Lima, a maior de todas, entra em operação em novembro.
O conjunto causa erupções cutâneas na pátria dos dividendos, que
prefere embolsar lucros rápidos, com o embarque predatório de óleo bruto.
Causa arrepios no conservadorismo igualmente: o êxito do pré-sal é
a derrota da agenda privatista.
O parque tecnológico de ponta que está nascendo na Ilha do Fundão, no Rio
de Janeiro, com laboratórios de todo o mundo, é uma vitória da luta pelo
desenvolvimento soberano.
Um berçário da reindustrialização que se preconiza para o país.
Dali sairão inovações e tecnologias que vão irradiar saltos de
eficiência e produtividade em toda a rede de fornecedores nacionais do pré-sal.
É desse amplo arcabouço de medidas e salvaguardas que poderão jorrar os
recursos do fundo soberano para erradicar as grandes iniquidades que ainda
afligem a população brasileira.
Da carência na saúde, às deficiências na educação pública, por exemplo.
Tudo isso é sabido. Mas passa hoje por um corredor polonês de
falsificação de perfil destinado a triturar a reputação da estatal, de seus
dirigentes, de seu potencial econômico e de seu significado para a autoestima
nacional.
Desqualificá-la é um requisito para reverter a blindagem em torno de uma
riqueza, da qual as petroleiras internacionais e o privatismo de bico longo
ainda não desistiram.
A Petrobrás passa por ajustes compreensíveis depois do gigantesco estirão
desencadeado pelas descobertas do pré-sal. E do sacrifício –justificado–
de anos vendendo gasolina 20% abaixo do valor importado.
Com a inflação há quatro meses em queda, o preço do combustível será
corrigido agora, sem risco de descontrole.
A gasolina, porém, é só o lastro oportunista de um pavio
permanentemente aceso contra a empresa.
A verdadeira intenção do bullying é outra.
Trata-se de promover uma alteração de perfil no discernimento da
própria sociedade.
Para convencê-la da natureza prejudicial da presença do Estado na
luta pelo desenvolvimento.
E a rejeitar, junto, quem a defende: Dilma, favorita nas urnas de
outubro, quando a Petrobrás completa 61 anos de vida.
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