"OLINDA", MEU AMOR!

Ladeiras de Olilnda

À querida Luciana Santos, prefeita e amante de Olinda.
 
Este era meu sentimento por Luciana Santos em 2005, quando voluntariamente me entreguei a sua campanha pelo primeiro mandato como Prefeita de Olinda, hoje, em 2018, o que vemos é uma velha política preocupada apenas em se dar bem, mesmo que para isso minta descaradamente a quem um dia lhe deu tanto crédito..
.


Relutei em escrever esta carta, não por falta do desejo de fazê-lo, mas, às vezes, por ver esse desejo vencido pelo medo de expor meu amor; outras vezes, freado pelas rédeas da razão, esta, nos últimos anos, menos submissa à emoção. Tal desejo vinha sempre como numa enxurrada, repentino, incontido, e, eu julgando represá-lo, aquietáva-me.

Primeiro foram as palavras: surgiam, acanhadamente, ao nível da consciência e logo se perdiam. Eram umas ou outras, soltas, dispersas, inconsistentes. Depois vieram frases, períodos, parágrafos inteiros carregados de emoção, lembranças, carinho, forçando e abrindo as comportas desse coração que ainda me surpreende com suas novas coreografias, embora esteja acostumado a vê-lo dançar ao compasso de todos os ritmos possíveis.
 
Lembro-me da noite em que te vi pela primeira vez. Ainda nos meus vinte anos, morando na vizinha praia de Tambaú, vinha com freqüência ao Recife visitar amigos que já te conheciam e, sempre que alterávamos nossas consciências com seguidos chopes no Mustang ou no Drive-in do Derby, faziam rasgados elogios aos teus encantos femininos. Quando teu nome era pronunciado pela primeira vez na noite, um clima de reverência e ao mesmo tempo de paixão tomava conta de todos nós.

 Tão próxima, e às vezes tão esquecida...
.
Conhecer-te transformou-se numa quase obsessão, que mantive em segredo para não despertar ciúmes naqueles teus antigos admiradores.


Numa daquelas farras, já no final da madrugada, levaram-me em direção aos bares que – dizia um deles – trazias no coração e só esses faziam tua cabeça, porque tinham tua cara, por serem mais despojados, mais coloridos; com cheiros, energias e magnetismos próprios.
E, realmente, lá estavas. Não me aproximei muito. Eles também não. Estavas eufórica apesar da madrugada adiantada. Pareceste-me primeiro um pouco misteriosa, inatingível, mas, depois de pouco tempo, já aparentavas ser velha conhecida. Apesar de não seres mais nenhuma menina, eras endiabradamente jovem. Dançavas ao som de todos os ritmos que vinham das ruas ou dos bares e seduzias a todos: bares, ruas, pessoas, madrugada. Hipnotizado, aproximei-me sozinho. Cheguei mais perto. Provei teu perfume misturado ao cheiro do álcool; senti teu calor apesar da brisa que soprava do mar naquela madrugada de verão. Já eras muito sedutora desde então. Parado ali, ao teu lado, boquiaberto, quase em transe, ainda não me fizera notar. Acheguei-me ainda mais. Ensaiei até alguns passos das tuas danças, mas não me percebeste. Na verdade, entendi, não concedias atenção especial a ninguém, embora demonstrasses claramente que precisavas de todos, ali, ao teu redor, aos teus pés, até o sol chegar e aquecer-te os cabelos quebrando todo aquele encanto.
Apaixonar-se é uma aventura fantástica. É como viver uma nova vida dentro da que já vivemos. É conhecer novo vocabulário, novas histórias, novos hábitos, novos perfumes. É estabelecer novos objetivos, arriscar-se em desconhecidos caminhos. É lutar enlouquecidamente em vão para conter o vulcão que vem de dentro, trazendo em seu jorro desejos e instintos ancestrais até então inertes ou dissimulados pela razão.


 Alegria, simplicidade e descontração na noite olindense.
.
Apaixonei-me perdidamente por ti. Passei a vir com mais freqüência ao Recife, e não mais, necessariamente, para ver os amigos, como antes. Por conta disso, em quase todas as farras, agora me aventurava sozinho. Seguia, instintivamente, aos bares que “eram teus...” e, sempre estavas lá. Diferentemente das outras mulheres, não tinhas adornos especiais, trajes convencionais ou maquiagem sequer. Eras simples embora tivesses pose de rainha; estavas sempre quase nua, mas inspiravas reverência e devoção. Teu brilho e teu perfume não eram artificiais e só os compartilhavas com aqueles que, como eu, afortunadamente, dançavam ao teu redor durante toda a madrugada.
Sabiamente, a vida distanciou-me de ti. Por motivos profissionais, afastei-me do Nordeste por muitos anos, pondo um fim brusco àquela paixão silenciosa vivida a cada fim de semana. Foram anos de saudades, necessidade de notícias até o dia em que retornei ao Recife. Imediatamente, quis te ver.
Saí na madrugada à procura dos bares onde outrora resplandecias, mas, já não existiam mais aqueles bares. Nenhum deles. Procurei notícias com os velhos amigos, que também há muito não te viam ou ao menos tinham notícias de que ainda vivias a noite. Vez ou outra alguém me contava alguma história na qual eu detectava um viço, um cio, um fogo que só poderiam ser teus... Mas, onde estavas? 


Irah Caldeira: Seus ensaios no Farândola marcaram época e encheram a noite olindense de alegria e boa música.
.
Falava aos outros de ti, das tuas travessuras, do teu calor, da tua beleza natural, da tua sensualidade, do teu passado repleto de histórias maravilhosas, mas, todos eram unânimes: não conheciam mais ninguém com tanta força, com tanto fascínio comandando noite alguma aqui por essas bandas.
Cinco anos atrás, o mesmo destino, desta feita mais astuto que sábio, levou-me a morar na tua rua, a José Mariano em Jardim Atlântico. Foi muita coincidência.
Naquela rua um pouco afastada do centro, deparei-me, inesperadamente, contigo logo na chegada. Tomei um susto imenso. Foram necessários alguns segundos para perceber que eras tu quem ali estava.
Não foi bom reencontrar-te assim. O tempo parecia não haver passado por ti, mas era evidente como estavas maltratada, assustada. Descalça, agora usavas maquiagem embora de mau gosto. Com trajes em frangalhos, não tinhas mais brilho nenhum, não chamavas mais a atenção dos que passavam por ti. Pensei se foras tu ou os bares quem morrera primeiro.
Em conversas com os vizinhos, falaram-me de como foras usada nos últimos anos: tua altivez subjugada, tua espontaneidade contida. Estavas morta para a vida. Já não atraías olhar algum, já não provocavas arrepios em ninguém. Teus encantos e brilho próprios de outrora despertaram a avidez de muitos que, seguidamente, de ti se aproximaram com falsas e inexeqüíveis promessas... E, indefesa, cedeste.
Nada nos abate mais do que perdermos o encanto pela vida, a esperança no futuro e deixarmos de encontrar respeito em cada olhar que nos é dirigido.
Vagavas ao dissabor dos dias e das noites em direção ao nada.
Senti-me culpado por haver ficado tanto tempo ausente. Senti-me na obrigação de fazer alguma coisa para facilitar tua volta à vida. Talvez faltassem os bares. Bares como aqueles que fizeram tanto tua cabeça. Podia ser isso, e nisso eu talvez pudesse ajudar. 


 Farândo (segundo endereço).
Bar olilndense, com suas cores e brilhos
.
Quase sem recurso algum, criei e construí o Farândola e dei-lhe o subtítulo de “barzinho encantado”. Eu o fiz para ti, porém ainda não o adotaste como teu. Algumas vezes chegas perto, outras, entras acanhadamente, por alguns instantes. Ainda não vieste acesa, impetuosa, travessa. Mas virás, sinto, e por isso estamos queimando incensos, jogando água de cheiro.


 Banda "Seu Rodolpho": Mazo Melo (Rodolfo, proprietário do Farândola, que inspirou o título do grupo), André Macambira, e Vitamina. Música da melhor qualidade.
.
Agora que moro na tua rua e te vejo diariamente, percebo que andas em nova companhia já há alguns anos. Sempre a mesma pessoa. Estás mudada, já sorris, tuas roupas são novas, tua maquiagem é simples para não encobrir tua verdadeira beleza. Tuas feridas maiores, antes abertas, agora não passam de sutis cicatrizes. Voltaste a cheirar bem, a caminhar com balanço e te preparas para enfeitiçar. É evidente que só alguém muito forte e sensível é capaz de conduzir os teus passos com tanta firmeza. Estás prisioneira pelo coração. Aliás, todos percebem que vocês duas estão apaixonadas. Sei que não ligas para os comentários maldosos, pois sempre conviveste com artistas e estes têm a alma livre de preconceitos. 


 Lampeão do Farândola
.
Não, não tenho ciúmes. Mereces alguém com aquela determinação e ousadia. Sei que no início foi muito difícil. Tua experiência imediatamente anterior foi muito doída. Custou a ti acreditar, ainda, que alguém pudesse te dar tanto, sem tomar nada em troca. Não estavas acostumada a isso. No princípio relutaste, depois foste cedendo, permitindo, se entregando. 


 Estandarte do "Vassourinhas" - Decoração do Farândola
.
Adoro te ver pela manhã quando vou caminhar. Já estás linda desde tão cedo, deixando-nos perceber o teu ar de plenitude e rejuvenescimento. Logo voltarás à noite, invadirás o Farândola e ele desencantará. Por enquanto, contento-me em ver vocês duas de dedos entrelaçados, trocando olhares de cumplicidade e promessas que um dia todos conheceremos. Percebo que, pelo bem que te faz, ela também receberá sempre cuidados especiais, carinhos exclusivos, proteção integral. A vida encarregar-se-á disso.


 O Carnaval de Olinda, na Rua de São Bento, chegando à Prefeitura.
.
No último carnaval, fiquei atento a vocês duas. Fui ao Carmo, à Praça de São Pedro, ao Largo do Amparo e sempre estavas lá. Levaste todas as tuas bonecas e bonecos. Tuas fantasias mais criativas, teus chapéus mais coloridos, tuas máscaras mais medonhas e teus estandartes mais brilhantes. Vieste até com “A Cama”, “A Porta” e varas com impudicos balangandãs. Subias e descias todas as ladeiras, dobravas todas as esquinas, banhavas-te em todas as bicas e, quando te encontravas realmente acesa, seguias sempre em direção à Rua de São Bento, e começava ali uma incrível transformação. Teu frevo de bloco virava frevo de rua, rasgado. Tua fantasia ameaçava desmanchar enquanto rodavas e requebravas enlouquecida na medida em que te aproximavas da Prefeitura. A multidão apinhada: nativos, turistas, redes de TV em torres que também balançavam à pressão das massas. Mas, não notavas nada disso. Teus olhos ávidos de paixão buscando tua amada tinham endereço certo: a sacada do seu gabinete na tua Prefeitura. E lá estava ela te esperando, linda, dançando, cabelos ao vento e aquele sorriso estonteante, que incendeia e aprisiona. Com teus olhos fixos nos dela, todos os braços levantados, todos os suores respingados, todos os frevos gritados, todos os beijos jogados à distância até a quarta-feira de cinzas. Vocês têm um novo contrato de casamento por mais quatro anos, estamos todos nessa “lua de mel”, seremos todos felizes.
Um beijo para vocês duas, desse pernambucano nascido no Cariri da querida Paraíba. Rodolfo Vasconcellos
bodeguerodez@hotmail.com
.
.
.
.

Comentários

  1. Esta carta, li em voz alta numa tarde, em pleno horário de trabalho. Quem escutou, se emocionou muito.

    É amor legítimo.

    Ysolda Cabral

    P.S. Delete o primeiro comentário pf, foi a emoção.

    ResponderExcluir
  2. Oi Rodolfo, aqui é Dani aluna de Terêsa. Demorei a dar notícias mas apareci!
    Estamos fazendo teu site, todos numa disputa só!
    Vc vai gostar das idéias! Bjos

    ResponderExcluir
  3. Anônimo11:08 AM

    Pense que criei esse Blog com um único objetivo, poder comentar os brilhantes textos de meus amigos, em especial de meu amigo Rodolfo Vasconcelos... O cidadão tem um dom especial em descrever suas histórias, todas verídicas, que o mesmo teve o prazer de viver, e hoje sinto que deve ter grande alegria em retratá-la para todos os seus amigos... Vou ver se tomo vergonha na cara e escrevo alguma coisa substancial aqui nesse meu espaço.
    POSTED BY IGUINHO AT 12:45 PM 0 COMMENTS

    ResponderExcluir

Postar um comentário

comentário no blogspot

Postagens mais visitadas deste blog

Aos 11 Anos, a Virgindade em Troca de um Doce

FUX, PRESIDENTE DO TSE, SE AJOELHOU E BEIJOU OS PÉS DA MULHER DE SERGIO CABRAL

Quero o Meu Báculo de Volta!!!...