SEM EVITAR ERRO, FOLHA PUBLICA MENTIRA SOBRE LULA, DIVULGADA PELO CANALHA CAIADO
Por Paulo Moreira Leite
No fim da manhã de hoje a Folha de S. Paulo publicou uma notícia espetacular: "Lula pede à
Justiça para não ser preso por juiz da Operação Lava Jato," dizia o
titulo.
O
site do senador Ronaldo Caiado (DEM-MS) divulgou a história. Eram 12:52 quando
o roqueiro Roger celebrou no twitter: "Choro antecipado", disse o
neo-golpista.
O
problema é que se tratava de uma mentira. O pedido de habeas corpus a favor de
Lula não foi uma iniciativa do ex-presidente nem de qualquer pessoa próxima.
Foi
uma iniciativa de um cidadão de Campinas chamado Marcelo Ramos Thomaz, que
entrou com o pedido na Justiça do Rio Grande do Sul. Marcelo apresenta-se como
consultor e já fez isso outras vezes, embora com cidadãos menos famosos. Já
entrou com um pedido de habeas corpus para Nestor Cerveró, condenado pela Lava
Jato. Também apresentou o mesmo pedido para a secretária Simone de Vasconcelos,
denunciada na AP 470.
A
comemoração antes da hora dos adversários do PT apenas reforça a necessidade de
um cuidado elementar do jornalismo.
Se
é necessário conferir toda notícia antes de sua publicação, é indispensável
fazer uma checagem reforçada quando ela envolve uma personalidade de
envergadura, quando cada informação — seja falsa, seja verdadeira — pode ter
consequências maiores.
Outro
cuidado envolve personalidades que não se encontram na lista dos mais queridos
de uma publicação. A tentação de publicar uma notícia que agrade a direção é
sempre maior. Exige mais cuidado de apuração, portanto.
O
saldo é criar uma anedota inesquecível, como a de Mark Twain, que, ao ler num
jornal a notícia da própria morte, reagiu de bom humor. Disse que era "um
pouco exagerada."
A
tentativa de apresentar Lula numa posição de fraqueza, sintetizada pela frase
"pede para não ser preso" — como se um direito legal fosse um favor —
é parte do esforço para atingir a imagem do ex-presidente. Não por acaso o
guitarrista da treva celebrou.
Mesmo
que Lula tivesse pedido o habeas corpus, nada mais estaria fazendo além de
exercer um direito elementar dos regimes democráticos, nos quais os cidadãos
podem solicitar a um juiz que garanta sua liberdade sempre que estão presos sem
culpa formada. Durante a Operação Satiagraha, Daniel Dantas foi preso duas
vezes sem culpa. Nas duas vezes, recebeu habeas corpus.
Descoberto
o erro, a Folha corrigiu a notícia. Está certo. Mas faltou esclarecer os
incautos — como o guitarrista da treva — que a notícia era falsa.
Faltou,
é claro, fazer o óbvio: empenhar-se em evitar o erro, o que seria possível, por
exemplo, com um telefonema ao Instituto Lula. Em mensagem a ombudsman, o
instituto afirmou: "Já sabemos que a suposta regra de outro lado no Manual
da Folha e da checagem de informações é relativa quando se refere ao
ex-presidente Lula. Mas o jornal, na figura desses dois repórteres, passou
agora de qualquer limite."
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