O SIGILO DE CARMEN LUCIA E O ALÍVIO DE MICHEL TEMER SÃO TÃO CÍNICOS QUANTO IMORAIS
Jogo grande, onde se arriscam todas as fichas
A seguir, texto de Carlos Fernandes no DCM
A quem a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármem Lúcia,
pensa estar enganando quando ao passo que homologa as 77 delações da
Odebrecht, mantém o seu mais absoluto sigilo?
Como já é do conhecimento até do reino mineral, no Brasil do
golpe não existe um único ato por parte dos grandes figurões de nossa
tragédia democrática que não seja milimetricamente pensado e elaborado
para que toda essa farsa seja mantida, quando não da mesma forma, com as
oportunas mudanças de cenários que as ocasiões da empreitada assim o
exigem.
A morte de Teori Zavascki, o relator original da operação
Lava Jato, mais do que uma tragédia acidental ou provocada, trouxe um
leque de oportunidades na então conjuntura do circo de Curitiba, isso
justamente às vésperas do que há muito já é considerada como a delação
do fim do mundo.
É triste termos que encarar a morte de um ser humano como a
saída providencial de uma quadrilha multi-institucional que tomou de
assalto a República, o Estado Democrático de Direito e a Constituiçáo
Federal, mas assim é o reino dos chacais.
O fato é que homologar as mais importantes e reveladoras
delações de toda a Lava Jato ainda no período de recesso do STF e,
portanto, de forma monocrática e independente antes mesmo de ser
indicado o seu novo relator, é – independente da inquestionável urgência
do assunto e de todo o seu cunho legal – uma autopromoção que cai como
uma luva para alguém que, digamos, sonha com voos ainda mais altos.
Não tornar, porém, público o conteúdo dessas delações,
atende, para utilizarmos um termo recorrente nesses dias sombrios, o
“timing” necessário para que as peças do nosso xadrez político estejam
devidamente posicionadas.
Já sabido que as tais delações possuem um monumental poder
de destruição voltados especialmente para a cúpula do governo Temer, ele
próprio chafurdado até a alma, não é à toa que o Planalto recebeu a
notícia da manutenção do sigilo com um profundo “alívio”.
Além de dar tempo para que sujeitos do naipe de Rodrigo Maia
e Eunício Oliveira disputem (e provavelmente ganhem) as eleições para
presidente da Câmara e do Senado – peças fundamentais para uma sobrevida
do governo Temer – ainda abre espaço para os nossos velhos conhecidos
vazamentos seletivos.
A grande questão é que Cármem Lúcia, novamente, atua muito
menos como uma juíza preocupada com a crise institucional e muito mais
como um agente político que, pelo menos por ora, dá suporte aos
interesses de um governo visivelmente corrupto, incapaz e inoperante.
A resposta entretanto pode estar na necessidade da
plutocracia de se manter um parasita no poder até que as condições
necessárias para que o golpe do golpe estejam definitivamente
satisfeitas.
Temer pode até ter respirado aliviado por mais esse
“jeitinho brasileiro” encontrado nos gabinetes da mais alta corte do
país, mas ele, traidor como ninguém, deveria saber que essa nova
bajulação da presidente do STF pode lhe custar muito caro.
Afinal, como dizia Winston Churchil, um bajulador é aquele que alimenta um crocodilo e que espera comê-lo no final.
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot