INDICIAMENTO DE RICARDO TEIXEIRA: O MEDO INVADE O JARDIM BOTÂNICO
A PF admite que durante o ano de 2014 tentou por diversas vezes ouvir
Ricardo Teixeira, mas seus advogados sempre protelaram o depoimento. Por que
não houve “condução coercitiva” como a de Vaccari e sua família que nem sequer
haviam sido intimados.
Em
janeiro deste ano Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, foi indiciado por
supostamente ter cometido quatro crimes: lavagem de dinheiro, evasão de
divisas, falsidade ideológica e falsificação de documento público. A polícia
federal suspeita da movimentação de R$ 464 milhões entre 2009 e 2012. Duas
gritantes diferenças chamam a atenção quando comparamos esta operação da PF com
outras em andamento, despertando alguns questionamentos que apontam para certo
endereço no Jardim Botânico.
1ª – Apesar de envolver o nome de uma figura
poderosa, um famoso e badalado ex-presidente da CBF, em nenhum momento o
indiciamento, ocorrido há mais de cento e cinquenta dias, vazou para a
imprensa, o que só veio a ocorrer nesta segunda-feira (1º/6), através de
reportagem “exclusiva” da Revista Época (Grupo Globo).
2ª – A própria PF admite que durante o ano de 2014 tentou por diversas vezes
ouvir Ricardo Teixeira sobre as suspeitas, mas seus advogados, que já tiveram
acesso aos autos e, portanto, conhecem as acusações (como é garantido por lei)
sempre protelaram o depoimento. Nem por isso foi solicitada contra Ricardo
Teixeira qualquer medida de “condução coercitiva”, como é tão comum
ultimamente.
É pública e notória a voracidade com que parte da Polícia Federal procura os
holofotes globais. Não raro as equipes do grupo Globo, avisadas com
antecedência, chegam ao local onde está se efetuando uma prisão, mesmo antes
dos agentes. Pois as câmaras precisam estar bem posicionadas quando se trata de
um preso “conveniente”. Como, então, acreditar que seja mero acaso que um fato
de grande impacto midiático (o indiciamento de Ricardo Teixeira) só tenha vindo
à tona cinco meses depois, justo quando acaba de ocorrer a rumorosa prisão de
José Maria Marin e outros seis dirigentes pelo FBI, durante o Congresso da
Fifa? A suposição de que o grupo Globo sabia sobre o indiciamento de Ricardo
Teixeira há muito tempo e o ocultou até o limite do possível, não é apenas uma
hipótese legítima, é praticamente inescapável. Afinal, é muita coincidência. O
escândalo da Fifa, que ganha ainda maior dimensão com a renúncia de Joseph
Blatter nesta terça-feira (2), iria atrair a atenção de toda a mídia
internacional, e esta, inevitavelmente, voltaria a sua atenção para a CBF,
tornando impossível esconder as acusações contra Teixeira. Assim, a Globo
antecipa-se aos fatos e revela a “bomba” que estava longe dos olhos do público.
Se este raciocínio está correto, surge em seguida outra pergunta: o que leva a
Globo a tentar abafar o caso e qual a razão da extrema paciência da PF, tão
inquieta em certas ocasiões?
O medo no Jardim Botânico
Quem tem o triste hábito de se informar pela mídia hegemônica, dificilmente
fica sabendo do real alcance das denúncias que sacodem o mundo do futebol. A
revista Época, em determinado trecho da reportagem sobre o indiciamento
de Ricardo Teixeira, que durante 18 anos foi membro do comitê executivo da
Fifa, cita de passagem, como coisa de menor monta, que o dirigente teria
“recebido propina de J. Hawilla, dono da Traffic Group, empresa que negocia
direitos de transmissão de torneios de futebol, como a Copa do Brasil”. Mas
isso soa um tanto nebuloso. A CBF detém os direitos de negociação dos
campeonatos que organiza. Como clientes potenciais no Brasil, apenas no máximo
cinco grupos de comunicação com poder econômico suficiente para participar da
disputa. A coisa fica mais clara quando se sabe que, em confissão à polícia
americana, o próprio dono da Traffic, J. Hawilla, afirma que a empresa é
meramente uma “repassadora de propina”. Neste caso então, a hipótese que se
afigura é que talvez a propina em questão tivesse em vista comprar os
dirigentes para garantir, a determinada emissora, preferência em face da
disputa com as outras. Isso explicaria por que a Record, em passado recente,
perdeu a disputa com a Globo pela transmissão do campeonato brasileiro mesmo
tendo apresentado a melhor oferta. Outro exemplo deste tipo aconteceu em 2012,
quando a Fifa prorrogou, sem licitação, a exclusividade da emissora dos irmãos
Marinho para as Copas do Mundo de 2018 e 2022. Na ocasião, a Record soltou a
seguinte nota:
“A Rede Record vem a público manifestar absoluta surpresa com a decisão da
Fifa de prorrogar o acordo de direitos de transmissão das Copas do Mundo de
2018 e 2022 para o Brasil com uma outra emissora sem qualquer licitação”.
“A Record foi informada em 2010, logo após o término da Copa do Mundo, pelo
diretor de TV da Fifa, Sr. Niclas Ericson, de que haveria uma concorrência
pelos direitos de transmissão dos eventos promovidos pela Fifa em 2018 e 2022,
conforme provam e-mails trocados entre executivos da Record e da Fifa. No
encontro realizado no Hotel Fasano, no Rio de Janeiro, a direção de nossa
empresa ouviu garantias de que a licitação seria pública, transparente e aberta
em regime semelhante ao que a Fifa realiza em países do mundo inteiro. Na
oportunidade, a Record também entregou à Fifa um documento oficial afirmando
que concorda com todas as condições para a aquisição dos eventos”.
Outra coincidência interessante é que este fato aconteceu em fevereiro de 2012.
Menos de um mês depois, 19 de março, Ricardo Teixeira renuncia ao cargo de
membro do Comitê Executivo da Fifa. Terá sido o último serviço prestado antes
da aposentadoria?
O medo no Jardim Botânico 2
Certa emissora do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, terá realmente alguns
motivos para preocupação se Ricardo Teixeira resolver falar. Mas apurar, doa a
quem doer, as falcatruas no futebol brasileiro, não será um caminho fácil.
Desnecessário frisar o poderio da Globo e da própria CBF não só na mídia, mas
no parlamento, no poder judiciário e na própria polícia federal que, como
vimos, costuma ter dois pesos e duas medidas, dependendo se o assunto interessa
ou não à Globo. Quem duvida deste poder, que leva o jornalista Luiz Carlos
Azenha, autor do livro “O lado sujo do futebol”, a encarar com ceticismo uma
investigação séria quanto ao papel da Globo na história, veja o vídeo da
excelente entrevista que ele concedeu a Paulo Henrique Amorim. O jogo sem
dúvida é difícil. O adversário é forte e bem treinado e o juiz que vai apitar a
partida, provavelmente, está no bolso do outro time. Mas tem muita bola a rolar
ainda neste gramado e garra é o que não falta à nossa equipe. Vamos ao ataque.
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